"A arquitetura era uma coisa fechada e ele teve um papel central ao trazê-la para o grande público, como cultura de consumo, o que foi essencial para a arquitetura e para a própria classe", defendeu Rui Leão, que vive em Macau, onde Manuel Graça Dias iniciou a sua carreira.."Era uma figura incontornável porque tinha capacidade de comunicar com todos", um "professor extraordinário, "com capacidade para promover a liberdade de cada um", afirmou.."Mas, acima de tudo, tenho que destacar a sua obra, que é bastante particular, associada a uma maneira de ver as coisas de uma forma pós-moderna", lembrou..O presidente do CIALP frisou ainda "a capacidade de Graça Dias em fazer arquitetura a partir de coisas revisitadas, não a entendendo como um exercício exclusivamente erudito e fechado, mas antes como a vida, com o encantamento do dia-a-dia, com o trivial"..Rui Leão destacou ainda a participação de Manuel Graça Dias no lançamento do livro "Macau Glória", um levantamento sobre aquele território publicado em 1991, em coautoria com Manuel Vicente e Helena Rezende. ."O livro, que tem fotografias e desenhos dele, é muito importante para todos nós nesta experimentação da procura de novas leituras com um sentido pós-moderno, da qual nem se falava ainda, mas que Graça Dias parecia estar já à procura", salientou..O arquiteto Manuel Graça Dias, que interveio na recuperação do Teatro Luís de Camões, em Lisboa, morreu no domingo à noite, num hospital de Lisboa, com 66 anos, disse um amigo à agência Lusa. .Manuel Graça Dias nasceu em Lisboa, e licenciou-se em arquitetura em 1977, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, iniciando-se, profissionalmente, no ano seguinte, como colaborador do arquiteto Manuel Vicente, em Macau. .Foi assistente da Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa (1985-1996) e professor auxiliar da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (1997-2015), onde se doutorou com a tese "Depois da cidade viária" (2009). Era atualmente professor associado da mesma faculdade e professor catedrático convidado do Departamento de Arquitetura da Universidade Autónoma de Lisboa, desde 1998, que também dirigiu, entre 2000 e 2004. .A casa que recuperou em 1979, no bairro lisboeta da Graça, com António Marques Miguel, recebeu a Menção Honrosa Valmor/1983..Obteve, ainda, o 1.º lugar no concurso para o Pavilhão de Portugal na Expo'92 em Sevilha, no sul de Espanha, bem como o 1.º lugar no concurso para a construção da nova sede da Ordem dos Arquitetos, nos antigos Banhos de S. Paulo, ambos com Egas José Vieira..Graça Dias foi autor do programa quinzenal "Ver Artes/Arquitetura" na RTP2, entre 1992 e 1996, e foi colaborador da rádio TSF e do semanário Expresso na área da crítica de arquitetura (2001/2006). .Na TSF, destaca-se o programa "Ao Volante pela Cidade", conversas, em forma de percurso urbano, que manteve com arquitetos como Manuel Vicente, Carlos Duarte, Souto de Moura, Álvaro Siza, Fernando Távora, Pancho Guedes e Alexandre Alves Costa, entre outros. .O programa deu origem a um livro do mesmo nome, publicado pela Relógio d'Água..Foi diretor do Jornal Arquitetos entre 2009 e 2012, assumiu a direção da Ordem dos Arquitetos de 2000 a 2004 e, entre outras funções, foi presidente da Secção Portuguesa da Association Internacional des Critiques d'Art, SP/AICA (2008-2012)..Foi autor de vários livros de crítica ou divulgação de temas de arquitetura..Manuel Graça Dias tem trabalhos construídos em Almada, Braga, Chaves, Guimarães, Lisboa, Porto, Vila Real, Macau, Madrid, Sevilha e Frankfurt, foi coautor do "Estudo de Reconversão Urbana do Estaleiro da Lisnave", em Cacilhas, no concelho de Almada..O Teatro Municipal de Almada (Teatro Azul, 1998-2005), que projetou com Egas José Vieira e Gonçalo Afonso Dias, foi nomeado para o Prémio Secil/2007, para o Prémio Mies van der Rohe/2007 e para o Prémio Aga Khan, 2008/2010..Manuel Graça Dias e Egas José Vieira ganharam o Prémio AICA/Ministério da Cultura de Arquitetura, de 1999, pelo conjunto da sua obra construída..Em 2006, Manuel Graça Dias foi agraciado, pelo então Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, com a Ordem do Infante D. Henrique (grau comendador)..Era irmão da escritora Dóris Graça Dias (1963-2014).