A 20 de maio de 1747, James Lind, médico da marinha britânica, conduzia o que é hoje reconhecido como o primeiro ensaio clínico da história. O estudo, realizado num grupo de marinheiros que sofria de escorbuto e a quem foi administrado sumo de limão, permitiu registar pela primeira vez os efeitos positivos da vitamina C..Muitos anos passaram deste então e muito mudou. Nas últimas décadas tem-se registado um aumento global da esperança média de vida, acompanhado pelo desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico e novas terapêuticas, que permitem, per se, diagnosticar e tratar de forma mais precoce.Tal só é possível pelo aumento do conhecimento sobre a saúde, conquistado pelo progresso da ciência e da tecnologia, que diariamente impulsionam o valor e o contributo da investigação. É este conjunto que permite que haja inovação. Que faz que as questões colocadas na investigação básica conduzam à descoberta de novas moléculas e novos mecanismos de ação, respostas que depois são testadas na investigação clínica como confirmação do impacto no desenvolvimento de novos medicamentos, eficazes e seguros, como um sinal de valor, social e económico, que não pode ser ignorado..São estes ensaios clínicos, cuja realização se encontra sujeita a regras muito bem definidas e rigorosas, que salvaguardam a segurança dos participantes que testam a inovação e que permitem melhorar a qualidade de vida das pessoas. Porém, apesar de esforços das autoridades nacionais da saúde e de plataformas de cidadania em saúde, persiste ainda alguma falta de conhecimento sobre a importância estratégica da realização de ensaios clínicos..E são muitos os benefícios diretos e indiretos, que contribuem para o desenvolvimento social e económico do país..Em primeira instância, permite testar tratamentos que têm como objetivo melhorar a qualidade de vida dos doentes, através de terapêuticas que, para algumas pessoas, podem chegar a representar o último recurso ou a última oportunidade disponível para a sua condição clínica, com sucesso. Mas a cultura de rigor dos ensaios clínicos contribui também para a melhoria generalizada dos cuidados prestados nas várias unidades de saúde, sem se poder descurar aqueles que são os benefícios diretos e indiretos dos ensaios clínicos no desenvolvimento científico..Os ensaios clínicos trazem potenciais descobertas e benefícios para os doentes, geram conhecimento científico essencial à melhoria da prática clínica e dos cuidados assistenciais, mas não só. É também uma atividade que se destaca enquanto geradora de impacto na economia portuguesa. Prova disso é que, segundo dados da Apifarma, cada euro investido na atividade de ensaios clínicos gera um retorno de 1.99 euros na economia portuguesa. Em 2017, o impacto económico dos ensaios clínicos no país chegou aos 87 milhões de euros..Apesar de todos estes benefícios, Portugal continua a ter uma taxa de ensaios clínicos por milhão de habitantes entre as mais baixas da Europa Ocidental. Porque há uma falta de visão sobre a importância da investigação clínica, porque não existe um planeamento verdadeiramente estratégico, porque persiste uma falta de compreensão sobre o verdadeiro impacto que os ensaios clínicos representam para o país. Onde os processos são extremamente morosos e burocráticos, onde faltam incentivos para os investigadores, onde as unidades de saúde não se encontram vocacionadas e estruturadas para a prática da investigação... Tudo isto resulta numa falta de competitividade do país na captação de ensaios multinacionais. E, no entanto, este é um setor com elevado potencial de dinamização em Portugal, que possui investigadores de grande competência e profissionais com uma extraordinária capacidade de trabalho..Hoje, Dia Mundial dos Ensaios Clínicos, 272 anos depois de James Lind ter realizado o primeiro ensaio clínico da história, importa relembrar o valor da investigação clínica para o progresso científico, para o doente e para a sociedade no seu todo. Que este dia sirva para acabar com alguns mitos que subsistem associados aos ensaios clínicos e para um despertar da importância estratégica para o progresso científico, social e económico..Acima de tudo, que este dia sirva de reflexão para a construção de uma estratégia nacional que projete Portugal para uma posição de liderança na investigação clínica..Diretor-geral da AbbVie Portugal