O talento verdadeiro de um escritor não tem limites temporais

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Na Federação da Rússia festejamos no decorrer de todo o ano 2021 o 200.º aniversário de Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (11 de novembro de 1821 - 9 de fevereiro de 1881), o clássico tanto da literatura russa como da universal, um dos escritores russos mais famosos mundialmente e, sem dúvida alguma, um dos mais lidos.

Não vou reproduzir anui em detalhe a sua biografia nem citar a lista das suas obras imortais, já que não haverá espaço suficiente para mencionar tudo. Gostaria antes de tudo explicar o que quer dizer para um russo o nome de Dostoiévski, o que nós sentimos a ler as suas obras e a ver filmes e espetáculos baseados nelas.

Em primeiro lugar, a maior parte das suas criações não são fáceis de compreender, se o leitor não possui a experiência da vida própria. Sem passar por amor, pelas dúvidas sobre o bem e o mal, às vezes - pelas privações e dificuldades - é quase impossível sentir em plena medida o que queria transmitir-lhe este grande escritor. E nós sempre ficamos impressionados pelas vastas galerias de retratos perfeitos do ponto de vista psicológico e muitos vezes encontramos nos protagonistas algo dos nossos próprios caracteres....

Não é por acaso que Dostoiévski é considerado tanto na Rússia como no estrangeiro o escritor que compreende e descreve mais e melhor do que todos "a enigmática alma russa". Admiramos os protagonistas e os enredos do genial Leo Tolstoi, as suas obras-primas majestosas, mas se tratamos de chegar a sentir melhor a essência do mundo espiritual dos russos, do seu carácter nacional - para mim Fiódor Dostoiévski é inigualável. A sua própria vida, o caminho que seguiu, tais experiências como a imitação da execução (substituída no último momento pela sentença a trabalhos forçados na Sibéria por mais de quatro anos), as privações, as dúvidas de criação, quando há uma grande distância entre a ideia da obra e a sua implementação - tudo isto converteu Dostoiévski no retratista genial da alma humana, qualquer que seja, boa ou má.

Para mim é motivo de grande orgulho pelo nosso escritor e de admiração por o amplo público português o bom conhecimento do nosso autor por muitos que eu conheci em Portugal. Ao falar sobre Dostoiévski com os portugueses, sempre tenho a sensação como estivesse a falar com os meus compatriotas porque o conhecimento das obras do autor e dele mesmo, a profundidade da compreensão dos protagonistas, são praticamente idênticos aos russos!

Queríamos agradecer sinceramente pelos eventos organizados em Portugal no decorrer deste ano em honra do 200.º aniversário de Fiódor Dostoiévski.

Assim, foi apresentada na 91.ª Feira do Livro de Lisboa no pavilhão da Rússia, que foi visitado pelo Sr. Presidente da República professor Marcelo Rebelo de Sousa, a exposição de livros dedicada ao 200.º aniversário do nosso escritor, oferecida pela Editoria Dostoiévski e bem acolhida pelo público do país. Estamos muito agradecidos à direção da feira pela excelente oportunidade de trazer para Portugal a exposição - sabemos que neste ano foi muito elevada a demanda pelos espaços nesta edição da Feira do Livro.

São apenas alguns exemplos mais entre muitos outros: a Conversa dos Capuchos III no dia 3 de julho no Festival dos Capuchos com a participação de António Pescada, Guilherme d'Oliveira Martins e Hélia Correia com a moderação de Carlos Vaz Marques, o Projeto Karamázov desenvolvido por Sónia Barbosa no Teatro Viriato em Viseu com a parte final, Aleksei ou a Fé, estreada no dia 22 de outubro, e a conferência internacional dedicada a nosso grande escritor que foi organizada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Nós, os russos que vivemos neste magnífico país, já apresentámos no âmbito das atividades da Embaixada da Rússia em Portugal a Exposição Os Heróis de Fiódor Dostoiévski nos Filmes e nos Espetáculos Teatrais, no Teatro Viriato em Viseu e na Faculdade de Letras em Lisboa e vamos a organizá-la em Loulé nos dias 15 a 21 de novembro e em Guimarães a partir de 26 de novembro. Os nossos compatriotas organizaram, no dia 6 de novembro, o Baile Russo na Casa do Alentejo, totalmente dedicado ao grande escritor russo, que foi admirado tanto por russos como por portugueses que assistiram a esta atividade cultural. Lamentavelmente, este espaço foi grande, mas não o suficiente, para que todos os interessados na cultura russa pudessem conhecer mais sobre Fiódor Dostoiévski.

É por isso que queria convidar todos, quando a situação epidemiológica o permitir, a ir à Rússia como turistas para desfrutar da nossa cultura (e do legado de Dostoiévski), da sua arquitetura, gentes e, não se esqueçam, a nossa rica gastronomia! E se não podem ir, esperamos que possam encontrar informação interessante em português na página da Casa Russa em Lisboa no Facebook:
https://www.facebook.com/CasaRussaPortugal​​​​​​​.

Conselheiro cultural da Embaixada da Rússia

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