O sol português não está em crise

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Hoje é o Dia Internacional do Sol, uma data assinalada, ainda que com alguma timidez, nos quatro cantos do mundo. O sol é uma das maiores riquezas de Portugal - pela nossa posição geográfica privilegiada, brinda-nos com 2200 a 3000 horas por ano e muito contribui para a dinamização do turismo e para a boa disposição dos portugueses. O calor do sol arrasta-nos para a praia, para um almoço fora e proporciona fotografias com uma luz digna de menção. Mas há um potencial do sol francamente subaproveitado no nosso país, o da energia solar.

O sol fornece cerca de 10 mil vezes mais energia (sim, isso mesmo, 10 mil vezes mais) do que aquela de que a população mundial necessita e já há várias décadas que têm sido desenvolvidas duas tecnologias para colocar esta fonte de energia renovável ao serviço das populações, casas e empresas. A tecnologia solar térmica possibilita o aquecimento das águas, enquanto a tecnologia solar fotovoltaica converte o calor dos raios solares em energia eléctrica. São energias limpas, que permitem uma produção tanto centralizada como descentralizada e são a única opção energética em lugares remotos, já que se podem instalar em qualquer parte do globo.

Portugal não tem reservas de petróleo nem de carvão e continua refém das variações destes bens, porque importa mais de 75% da energia que consome. A situação é tão insustentável quanto insensata, ou não tivéssemos no nosso território recursos renováveis em abundância que permitem a produção da energia que utilizamos no quotidiano. A European Photovoltaic Industry Association) (EPIA) lançou recentemente um dado muito interessante sobre o potencial desta tecnologia: se instalássemos sistemas solares fotovoltaicos em apenas 0,7% da superfície total europeia, satisfaríamos em pleno todas as necessidades energéticas do Velho Vontinente. Este número dá que pensar. Será que se instalássemos painéis solares em metade do Baixo Alentejo teríamos energia para alimentar os nossos 10 milhões? Provavelmente até sim. Mas a quantidade de energia que produzimos no final de 2012 através do sol é menos do que 1% da energia total produzida, um número nada lisonjeador para um país que já foi considerado, há um par de anos, como um exemplo a seguir em termos de utilização do recurso renovável. No entanto, continuo a acreditar que é no sector fotovoltaico que reside parte da solução para a nossa independência energética.

Não querendo entrar numa linguagem muito técnica, é importante analisar a variação dos custos da produção de energia. Com os preços da energia convencional a subir, e com o custo da tecnologia fotovoltaica a descer, a produção de energia através de painéis solares fotovoltaicos apresenta-se como uma das alternativas energéticas mais sustentáveis e económicas, a médio e longo prazo, em Portugal. É importante ter esta visão e perceber que, quando produzimos a nossa própria energia, fixamos o preço da energia que vamos pagar por um período de tempo nunca inferior a 20 anos. Desta forma evitaremos ficar reféns das variações do preço internacional do petróleo e do gás.

A somar a esta vantagem económica que pode inverter a nossa balança comercial energética (no futuro, poderemos até almejar a exportar energia!) e tendo em conta a possibilidade de produção descentralizada e de instalação de sistemas solares de menor potência, são inúmeras as vantagens sociais, como a criação de emprego em várias áreas e a formação tecnológica, e vantagens ambientais, como a redução da emissão de CO2 e produção de energia 100% limpa. Aliás, em termos ambientais, segundo o Living Planet Report, da World Wildlife Fund, restam-nos poucas opções. Porque se continuarmos a explorar os recursos de origem fóssil do nosso planeta, sem recorrer maioritariamente a energias renováveis e outras práticas sustentáveis, vamos precisar de outro planeta daqui por 20 anos.

Há ainda outro aspecto positivo a salientar: um sistema solar fotovoltaico é também uma oportunidade para rentabilizar activos, neste caso os imóveis. Não é por acaso que países como a Alemanha, com uma exposição solar significativamente menor à nossa, investem tanto nesta tecnologia. Para se ter uma noção, a Alemanha tem uma potência total instalada 110 vezes superior à nossa...

Já é tempo de seguirmos o barómetro europeu e apostarmos no sol enquanto um dos recursos diferenciadores do nosso país. É fundamental que os decisores percebam a importância do recurso, tanto a nível económico-social, como ambiental. Somos dos países europeus mais expostos ao sol e, num futuro próximo, entraremos num regime em que cada um produzirá a sua energia, numa lógica de autoconsumo. Nessa altura, compramos energia caso precisemos de mais e vendemos se tivermos excedentes. Num caso ou no outro não há razões para continuarmos a importar tanta energia!

O Sol é, provavelmente, a estrela mais generosa do Universo. É gratuito, não tem dono e vai continuar a ser uma das maiores riquezas do nosso país. Cabe-nos a nós potenciá-la ao máximo para benefício individual e colectivo, sempre com consequências muito positivas para a sociedade e ambiente. Enquanto houver sol em Portugal, haverá energia para dar e vender.

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