Desde 1980, com a realização de um concerto de Frank Sinatra, que eu não gostava do que estava a ver na minha cidade. Além de estarmos a viver um momento político com muitas mudanças, sentia que a verdadeira ideia de show business, negócio gerador de emprego, turismo, uma indústria limpa e tão rica, ainda estava distante do meu país..Pode parecer uma coisa de maluco, mas um dia sonhei com este festival, com a cidade construída, chamei o Mario Monteiro (cenógrafo) e pedi para colocar as minhas ideias em papel. Tive o sonho e vivi um verdadeiro pesadelo para torná-lo realidade. Foram seis meses que não faço a menor ideia como consegui superar e chegar ao outro lado. Tirei uma licenciatura durante esse processo.Na verdade, não tinha a menor ideia de como era um evento daquelas dimensões, porque ninguém no mundo tinha feito algo semelhante, nem passado por aquela experiência. Eu não tinha quem consultar, pois qualquer experiência internacional era menor quando comparada ao tamanho do Rock in Rio..Envolvia toda uma engrenagem gigantesca colocar aquela cidade de pé e ainda tínhamos de desenvolver uma engenharia de marketing, de comunicação, de relacionamento com patrocinadores, de transmissão de TV extremamente sofisticada para compensar a falta de recursos da bilheteira, que representava 35 por cento dos custos do evento.Estávamos estranhamente a construir uma cidade num país em desenvolvimento e precisávamos de oferecer ingressos muito baratos, pois o povo não tinha poder de compra, nem hábitos de cultura para entrar num festival como aquele. Tínhamos 250 mil bilhetes para vender por dia e era preciso envolver uma multidão para poder ser um sucesso. Mas eu sabia que íamos chegar lá..Paralelamente, uma outra engenharia acontecia naquele terreno em Jacarepaguá (Zona Norte do Rio de Janeiro). Quando me pergunto porque foi ali, não encontro resposta. Tinha de ser ali. Surgiram outras opções de terreno naquela região, mas aquele espaço era mágico. O terreno era um grande buraco e precisávamos de 71 mil camiões de terra para deixá-lo nivelado. Foram três meses a ver o dinheiro transformar-se em aterro, mais seis meses para fechar toda a obra, e muito dificil chegar ao final..Eu estava a viver intensamente aquele momento e, em consequência da pressão de trabalho, somada à tensão do projecto, fiquei doente.Estava envolvido num processo em que não poderia ficar nenhum dia fora e passei 21 dias num hospital. Éramos uma equipa pequena. Sonhadores e inexperientes para um festival daquele porte. O que nos motivava era o sentimento de que estávamos a fazer uma revolução no nosso campo, mostrando para o mundo inteiro que o nosso país era capaz de realizar aquele megaespetáculo organizadamente..Quando comecei a fazer o projecto, preparei uma apresentação escrita e uma enorme prancha com o mapa da cidade que iria construir, muito melhor do que qualquer evento internacional. E, com meu exército Brancaleone - Oscar Ornstein, Maria Alice (a minha ex-mulher) e Luiz Oscar Niemeyer (actual presidente da BMG Records no Brasil) - fui para os Estados Unidos contratar os artistas. Fiquei 45 dias em Nova Iorque, fiz 70 reuniões e recebi 70 nãos. Nenhuma esperança. Recebi algumas gentilezas, como a de Jim Beach, empresário dos Queen, que depois de ver o projeto me mandou uma garrafa de champagne com um cartão desolador: «O projeto é lindo, mas nem o Brasil nem os Estados Unidos têm capacidade de realizar um evento dessa magnitude». Educadamente ele dispensava assim uma conversa mais longa..Depois daqueles dias eu fiquei muito triste e doente. Fui para Los Angeles apenas cumprir uma etapa, pois já havíamos programado a viagem e planeado encontrar mais agentes. Montei novamente a minha base num hotel e depois de passada uma semana não tínhamos ainda qualquer resposta dos empresários. Na verdade, a situação era muito pior. Os empresários riam do festival. As pessoas que convivem comigo sabem que não costumo acordar cedo, mas um dia tirei da cama meu exército Brancaleone para andarmos pelas ruas de Beverly Hills. Eram 7h30 da manhã, caminhávamos por uma rua semi-deserta, quando anunciei que estava «jogando a toalha». Era melhor desistir. Não dava para continuar a obra de construção da Cidade do Rock no Brasil se nenhum empresário internacional acreditava no nosso projeto. A terrível conclusão a que eu chegava era ter sonhado alto demais.As últimas.Ben Harper é o mais recente nome confirmado no cartaz do Rock In Rio - Lisboa. O músico, que é já um verdadeiro veterano dos palcos portugueses, regressa meses volvidos sobre uma bem sucedida actuação no Pavilhão Atlântico. Ben Harper actuará no Palco Mundo logo no primeiro dia do Rock In Rio - Lisboa, a 29 de Maio. Nessa mesma noite Ben Harper partilhará o palco principal do festival com Peter Gabriel, Gilberto Gil e Rui Veloso. Entre os outros nomes já confirmados para o evento contam-se, entre outros, os Guns N'Roses e Britney Spears.