Está a ser um grande ano para a Coreia do Norte, e nem a goleada no Mundial de futebol estraga o quadro. Vejamos: uma empresa do país de Kim Jong-il construiu a estátua que celebrou em Abril o meio século do Senegal, em Viena faz furor até 5 de Setembro uma exposição de arte norte-coreana e agora a República Checa recebeu a oferta de 20 toneladas de Ginseng como pagamento de uma dívida que vem dos tempos em que Praga e Pyongyang eram satélites de Moscovo. Junte-se a ida à África do Sul da sua selecção e o mínimo que pode dizer-se é que tem sido muita agitação internacional para um país só célebre pelos mísseis. De tão fechado que costuma ser, até é conhecido como reino eremita. .O maior contributo da Coreia do Norte para a humanidade foi até agora a ideia juche, variante do marxismo criada por Kim Il-Sung e desenvolvida pelo filho Kim Jong-il. A juche defende que uma nação deve bastar--se a si própria. Mas, seis décadas após a divisão da península coreana, o Norte continua pobre, enquanto o Sul é próspero. Ambos foram ditaduras, às ordens da União Soviética e dos Estados Unidos, mas, enquanto o primeiro se transformou numa monarquia comunista, o segundo fez-se democracia. Contudo, aquilo que a sério separa as duas Coreias, além do terreno minado no Paralelo 38, é que, se uma se fechou ao mundo a sete chaves, a outra fez do comércio global o seu maná. As estatísticas não mentem: a Coreia do Norte é um pigmeu económico enquanto a Coreia do Sul está no G20. E a esperança de vida na primeira é de 64 anos, contra os 79 na irmã-inimiga..Kim Jong-il provou ser um optimista quando graças ao golo ao Brasil autorizou a transmissão em directo do jogo com Portugal. Sabe-se que os futebolistas e o treinador sofreram depois uma humilhação oficial, mas a Coreia do Norte não perdeu nada em exibir-se nos relvados. Mostrou alguma normalidade que já se duvidava existir na kimlândia, uma normalidade que pretende confirmar a mostra no Museu Austríaco de Arte Contemporânea, mesmo que um quadro tenha o título "Kim Jong-Il, supremo comandante do exército popular, preocupado com a dieta dos soldados", mostrando o querido líder a olhar para um tacho. É que a ideia de auto-suficiência, cara à juche, já mostrou estar esgotada e o regime começa a apreciar os negócios internacionais. Afinal a Mansudae que construiu em Dacar um monumento maior que a Estátua da Liberdade prova que as empresas norte- -coreanas podem ganhar dinheiro no estrangeiro. E a vontade de pagar a dívida aos checos é outro indicador do desejo de ganhar amigos, mesmo que os interessados preferissem um carregamento de zinco a uma carga de raízes afrodisíacas que lhes dará para 15 anos. Talvez o reino eremita esteja a sair da casca.