Nos últimos meses temos assistido a um cenário económico alarmante, com várias empresas, sobretudo na indústria, a enfrentarem uma queda acentuada nas encomendas..A pandemia global trouxe consigo desafios inesperados, criando um ambiente frágil que coloca em risco a subsistência de muitos negócios. A invasão da Ucrânia pela Rússia, está a ter um impacto económico direto, gerando uma atmosfera de incertezas e disrupções dos mercados que se reflete nas reduções ainda mais drásticas das encomendas para várias empresas. Esta dupla adversidade, resultado da pandemia e da instabilidade geopolítica, está a criar um cenário económico ainda mais desafiador..E, se no início do presente ano as empresas foram fustigadas com a subida abrupta dos preços e aumento dos custos de produção - associado ao aumento do preço da energia -, a verdade é que essas empresas - a quem foram prometidas soluções e até um pack de medidas do Governo que nunca viu a luz do dia, - estão a ser confrontadas, novamente, com um cenário muito difícil de incerteza económica, o que as leva a ponderar a sua viabilidade a curto prazo..Esta realidade, abafada pelo Governo - que anunciou e prometeu um programa de formação de cem milhões de euros aos trabalhadores de empresas com necessidade de suspender a laboração, mas que ficou esquecido no fundo da gaveta - é bastante preocupante, na medida em que a única solução que estas empresas têm para sobreviverem num longo período de ausência de encomendas e consequente redução de atividade é o recurso ao mecanismo do lay-off clássico, com todas as dificuldades inerentes à aplicação desta medida, o que, segundo recentes notícias, tem originado o encerramento de várias empresas..O lay-off simplificado, que permitia a suspensão temporária dos contratos de trabalho com acesso a subsídios de desemprego parcial para os trabalhadores, mostrou-se como um recurso valioso durante a primeira vaga da pandemia. Contudo, este mecanismo já não está à disposição das empresas..Embora o Governo, no início do ano, tenha parecido preocupado e ativo no combate à crise energética que obrigou a que muitas empresas se reinventassem, atualmente as dificuldades que as empresas enfrentam estão a ser completamente desconsideradas pelos nossos decisores, que não se preocupam com o estado das empresas e os inúmeros postos de trabalho que, face a este cenário, estão em risco..Neste contexto, é fundamental que se reconsidere a aplicação do lay-off simplificado ou a criação de outras medidas de ajuda adaptadas à situação atual. A possibilidade de suspender temporariamente os contratos de trabalho, reduzindo os custos salariais das empresas, poderia ser um alívio essencial para aquelas que enfrentam uma diminuição significativa nas suas atividades..Contudo, é importante ressaltar que qualquer medida de ajuda deve ser acompanhada de uma estratégia de longo prazo. Apenas aliviar temporariamente os efeitos da crise não será suficiente. É necessário fomentar a inovação, a digitalização e a diversificação das operações empresariais para construir uma base mais sólida para o futuro..O caso dos setores do têxtil e da cerâmica é uma chamada de alerta para uma situação generalizada. É imperativo agir agora para proteger as empresas e os postos de trabalho que estão em risco. A retoma económica exige a adoção de medidas flexíveis e direcionadas que se adaptem à realidade de cada setor e empresa..A sociedade enfrenta um desafio sem precedentes, e a sobrevivência das empresas está intrinsecamente ligada à colaboração entre o Governo, as instituições financeiras e os empresários, pois são os únicos que poderão encontrar soluções que garantam um futuro mais estável e resiliente para o tecido empresarial do nosso país e que, infelizmente, tem sido posto de lado pelo Governo, que prefere perder tempo a discutir as miudezas da espuma dos dias..Sem qualquer medida de salvamento, não há poupança que resista, nem empresas que consigam manter os seus postos de trabalho. Ou o Governo acorda e atua, ou o último quadrimestre do ano vai ficar marcado por lay-off, despedimentos coletivos, insolvências e, consequentemente, morte do tecido empresarial e aumento do desemprego..Advogado especialista em Direito do Trabalho