O drama que marcou a história do povo russo no século XIX, causado pela invasão de Napoleão, que mereceu um julgamento destruidor de Leon Tolstoi, foi já considerado criador do "sentimento nacional moderno da Rússia". As destruições e os sofrimentos derivados da guerra de 1914-1918 implicaram não apenas a queda dos impérios alemão, austro-húngaro, turco e russo, e, neste, a resposta de novo futuro sistematizada na Resolução do Comité Central Executivo Pan-Russo (3 de outubro de 1918). Os seis anos de Guerra Mundial provocados pela loucura de Hitler levaram de novo a Rússia a pagar a vitória com sacrifícios desmedidos, mas o povo russo, não obstante o sofrimento brutal, não perdeu o sentimento nacional. Os romances de Svetlana Alexievich, que lhe fizeram merecer o Prémio Nobel, e são de uma criatividade que desafia o talento dos futuros historiadores, mostram que, mais uma vez, o patriotismo russo se reafirmou para além dos sofrimentos ainda de memória recente..É nessa tradição, resistente às adversidades históricas, que o nacionalismo do povo russo, e a submissão das minorias étnicas e religiosas, encontra na liderança de Vladimir Putin a vontade de corresponder à nunca esquecida proclamação da Igreja Ortodoxa nacional, depois da invasão turca da Europa, quando, em 24 de maio de 1453, o imperador Constantino XI perdeu Constantinopla, e "a cidade guardada por Deus e o império romano, deixaram de existir": a proclamação foi que "a primeira Roma caiu, a segunda Roma caiu, a terceira Roma nunca cairá". Putin declarou num discurso, rodeado de generais, que "a fronteira dos interesses da Rússia é mais vasta do que a fronteira geográfica", e acrescentou, em 2007, que, depois da queda do Muro, os ocidentais "se esforçaram para nos impor novas fronteiras e novos muros. Mesmo que virtuais, eles não deixam de dividir, de compartimentar o nosso continente". Desde então, parece evidente que a linha orientadora de Putin, tal como conclui Grachev, politólogo e antigo conselheiro de Gorbachev, é que "a Rússia procura a sua grandeza perdida". Como o facto da globalização anda longe de organizar uma governança, a questão atómica, os EUA com deficiente capacidade governamental, a União Europeia a reformar-se, começarão provavelmente a encontrar algum sentido em que o realismo, a segurança, e a aproximação da União, dos EUA, e da indispensável Rússia de Putin, possa evitar o pior.