O recreio dos

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No ano passado, mais de metade dos filmes em competição em Cannes eram primeiras ou segundas realizações. Este ano, dos 21 filmes que compõem a Selecção Oficial, apenas um é uma estreia The Three Burials of Melquiades Estrada, do actor americano Tommy Lee Jones.

Nos dois últimos anos, a competição do Festival de Cannes incluiu longas-metragens de animação e documentários. Um deles, Fahrenheit 9/11, de Michael Moore, até ganhou a Palma de Ouro em 2004. Este ano não há filmes de animação na Selecção Oficial e os documentários ficaram fora de competição. Consumadas as inovações e as ousadias das edições de 2003 e 2004, Cannes 2005 (de hoje até dia 22) reservou a sua Competição para os pesos-pesados. É o regresso ao passado, o retorno dos nomes grandes, a reafirmação da tradição.

OS GRANDES. Nada menos de quatro dos concorrentes deste ano já ganharam a Palma de Ouro Wim Wenders, que traz Don't Come Knocking, co-escrito com Sam Shepard, que interpreta uma vedeta de westerns decadente que se lança numa viagem de autodescoberta; Luc e Jean-Pierre Dardenne, cujo L'Enfant conta a história de um homem a braços com a experiência da paternidade; Lars von Trier, com Manderlay, segunda parte da trilogia iniciada em Dogville, onde a jovem Bryce Dallas Howard (A Vila) substituiu Nicole Kidman no papel principal; e Gus Van Sant, que propõe Last Days, um filme baseado nos últimos dias da vida de Kurt Cobain, o líder dos Nirvana, interpretado por Asia Argento, Lukas Haas e Michael Pitt.

Entre outros nomes prestigiados - e vários também anteriormente distinguidos no festival com outros prémios - que concorrem à Palma de Ouro este ano contam-se David Cronenberg, com A History of Violence, um thriller interpretado por Viggo Mortensen, Ed Harris e William Hurt, baseado em duas graphic novels; Jim Jarmusch com a comédia Broken Flowers, com Bill Murray e Julie Delpy; Atom Egoyan, com Where the Truth Lies; Michael Haneke, com Caché; Hou Hsiao-Hsien, com Three Times; ou Amos Gitai, com Free Zone.

OS outros. Perante esta superabundância de talento com polimento, comentou à bbcnews Nick James, director da revista britânica Sight and Sound "São todos nomes que Cannes já favoreceu muitas vezes (...). Este ano, as coisas estão muito mais tradicionais." Mas Cannes é também o festival dos inesperados, e a competição contempla vários outros filmes que podem pedir meças aos consagrados. Assim, Robert Rodriguez e Frank Miller trazem Sin City, baseado no comic book deste; Johnnie To estreia-se na Selecção Oficial com Election, sobre uma eleição democrática numa organização criminosa de Hong Kong; o italiano Marco Tullio Giordana (A Melhor Juventude) vem mostrar Quando Sei Nato Non Puoi Più Nasconderti, um drama adolescente na Itália de hoje; e do México, Carlos Reygadas, "descoberto" em Cannes com Japão, traz Batalla en el Cielo.

A competição tem ainda a curiosidade de incluir uma co-produção franco-iraquiana, Kilomètre Zéro, de Hiner Saleem. E volta a abrir com um filme francês, Lemming, de Dominik Moll (nascido na Alemanha), "repetente" após Harry, Um Amigo Que Lhe Quer Bem, em 2000. A "quota" de França na Competição este ano completa-se com o já referido Caché, do austríaco Haneke, e Peindre ou faire l'amour, de Arnaud e Jean-Marie Larrieu.

FORA DE COMPETIÇÃO. George Lucas, com Guerra das Estrelas - Episódio 3 A Vingança dos Sith(ver página ao lado), que fecha a saga, e Woody Allen, com a comédia tenista Match Point, rodada em Londres, são as duas maiores estrelas da Selecção Oficial - Fora de Competição. Nela encontramos ainda títulos como o documentário biográfico Pelé Eterno, de Aníbal Massaini Neto, e a nova realização de Michel Piccoli, C'est pas tout à fait la vie dont j'avais rêvé, produzido por Paulo Branco; Les Artistes du théatre brûlé, do cambojano Rithy Panh, e Kiss, Kiss, Bang, Bang, estreia na realização do argumentista americano Shane Black; Cindy, do francês Bertrand Bonello, ou outro documentário, Midnight Movies, de Stuart Samuels, sobre o fenómeno dos cult movies de terror dos anos 70.Tanta variedade daria mesmo para fazer uma competição paralela. Só em Cannes.

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