Colecionar é algo muito especial. Cada peça tem um significado particular para o colecionador. Um objecto artístico é um bem para toda a vida e deve ser adquirido com paixão, mas de forma racional..Todas as coleções são diferentes, refletindo o gosto do colecionador, o seu requinte ou inocência e às vezes o do seu conselheiro. Uma grande parte dos museus começaram por ser coleções privadas, como a Ernst Beyeler e a Fundação Caloust Gulbenkian..Há colecionadores que preferem permanecer anónimos pela sua personalidade ou desejo de privacidade, não querendo divulgar a sua paixão, por receio de roubo ou de ostentação..Outros preferem divulgá-la, beneficiando do prestígio social e cultural que daí advém. Quer uns quer outros mantém o mercado vivo, absorvendo a produção artística no mundo..Atente-se que comprar arte é diferente de colecionar arte. A compra é muitas vezes um ato isolado, com um fim decorativo, optando o comprador por nomes sonantes ou seguindo um gosto pessoal. Colecionar é um projeto a longo prazo, com um fio condutor..O que define o verdadeiro colecionador é o objetivo a que se propõe e a estratégia que delineia, para obter um conjunto coeso. A compra do "objecto" tem que ser feita por prazer, mas muitas vezes torna-se quase uma obsessão..Deve ter-se uma boa capacidade de seleção e assertividade perante a oferta interminável, nunca esquecendo o trajeto previamente definido porque é muito fácil cometerem-se erros, quer por falta de conhecimentos, quer por nos deixarmos tentar por propostas meramente comerciais..É importante seguir o próprio gosto, o que nos apaixona, desenhando uma coleção à nossa imagem pois se ignorarmos as preferências pessoais em prol dos interesses mercantis, a coleção tornar-se-á igual a todas as outras..Compreender a emoção que uma obra transmite é fundamental na decisão. Apreciar arte liberta uma quantidade de dopamina nos nossos circuitos, igual a quando nos apaixonamos. Olhar para as Banhistas de Monet pode ser tão bom como observar o ser amado..É importante avaliar a forma como a peça se relaciona com as outras, como refere Miguel Palma (Zet Gallery): Numa boa coleção, o todo é mais relevante do que as partes que o constituem. É o caso da coleção Berardo, formada por obras dos mais importantes artistas dos principais movimentos na arte moderna. Embora algumas não sejam as mais representativas do percurso de certos artistas, fazem sentido no conjunto, ganhando uma valorização extra ao integrarem esta grande coleção..Aconselhável, se não obrigatório é ter noções de História de Arte, ir a conferências e feiras de arte, ler publicações e construir uma boa biblioteca, tirando também partido da facilidade no acesso à informação que existe atualmente..A escolha deverá ser baseada em critérios rigorosos, tais como o reconhecimento mundial das galerias ou as associações a que pertencem - e que certificam a sua idoneidade - APA em Portugal, SNA em França ou LAPADA em Inglaterra. Obter o máximo de garantias possível: Certificados de autenticidade emitidos por peritos reconhecidos, condition reports e proveniências comprovadas. Fatores como qualidade e representatividade na obra do artista, estado de conservação e participação em exposições também influenciam o preço. Nada é aleatório..Devemos investir em qualidade e não em quantidade. É preferível ter menos peças de grande qualidade, do que muitas peças meramente medianas. Qualquer coleção tem de ter critério, para não ser meramente decorativa e almejar um golpe d´asa..Colecionador, Antiquário e Médico