Em ditadura, pertenceu ao Arena, o partido que sustentava o regime militar. Em democracia, foi eleito seis vezes deputado federal, primeiro pelo PDS, descendente direto do Arena, e depois pelo PL e pelo PR, partido do qual é hoje uma espécie de dono..Apoiou, primeiro, o presidente Itamar Franco - era dele o camarote no Carnaval de 1994 em que o então chefe de Estado foi fotografado acompanhado por uma modelo sem roupa interior num episódio que quase o derrubou - e, depois, Fernando Henrique Cardoso..Por FHC ter demitido um apadrinhado seu, passou para a oposição. Até voltar à órbita do governo, em 2003, apoiando o governo de Lula em troca de dez milhões de reais [pouco menos de 2,5 milhões de euros ao câmbio atual] e mais umas mensalidades ao grupo parlamentar do PR pagas com dinheiro público..Essa manobra, entretanto descoberta, levou-o a ser condenado em 2012 a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no escândalo de compra de deputados conhecido como mensalão..No ano seguinte, foi investigado novamente por corrupção passiva, desta vez na Operação Porto Seguro, que revelou um esquema multimilionário de fraudes em pareceres técnicos, em agências reguladoras e em órgãos estatais..Solto em 2016, ao ser beneficiado por indulto presidencial de Michel Temer após cumprir um quarto da pena, foi imediatamente incluído nas investigações da Operação Lava-Jato: é acusado de ter recebido dinheiro por fora da construtora UTC em troca de facilidades em contratos com o Ministério dos Transportes, feudo do PR desde há 14 anos nos sucessivos governos, e de ter desviado 4,3 milhões de reais [cerca de um milhão de euros] num contrato entre uma empresa pública e a empreiteira Odebrecht..Enquanto as investigações decorriam, Valdemar destacou-se em março deste ano por ser um dos principais tubarões no mercado de transferências de deputados, mês em que os parlamentares estão livres para trocar de partido. Segundo o deputado Uldorico Júnior, o PR oferecia valores perto de 700 mil euros, além de cargos nos diretórios do partido no seu estado de origem e mensalidades. Ao PR, o partido que elegeu e deve voltar a eleger o campeão de votos Palhaço Tiririca, interessava arregimentar o maior número de congressistas para ter direito a maiores percentagens do fundo eleitoral público e a mais tempo de antena..No caso, o PR é dono de cobiçadíssimos 1"34"" nas televisões que podem fazer a diferença na eleição. Por causa disso, o candidato Jair Bolsonaro, cujo pequeno partido (PSL) não tem direito a mais de 7"", tentou a todo o custo convencer Valdemar a emprestar-lhe o senador do PR e cantor gospel Magno Malta para o cargo de vice-presidente..Ciro Gomes (PDT), que não chega a um minuto de tempo de antena, também fez os possíveis para seduzir Valdemar e os seus 1"34""..Acabou por ser Geraldo Alckmin (PSDB) a ganhar o coração do chefe do PR e de outros partidos com o mesmo modelo de negócio. Para se deixar conquistar, Valdemar impõe um nome do seu partido como candidato a vice-presidente e consta que já garantiu a continuidade do Ministério dos Transportes na sua mão e outros cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões da administração pública, caso Alckmin seja eleito..Mas caso não seja Alckmin o escolhido, o futuro presidente, tenha o nome que tiver, precisará de bajulá-lo a ele, ao seu grupo parlamentar e aos outros partidos clientelistas se quiser aprovar projetos no Congresso - ou seja, governar - como precisaram Lula e Dilma. E Temer: o atual presidente só não foi derrubado no Congresso após as duas denúncias do Ministério Público por corrupção porque trocou os votos a seu favor do PR e outros por mais cargos e mais dinheiro..Portanto, após as eleições o país continuará, alegremente, nas mãos de um velho parceiro da ditadura, corrupto distinto e nobre ex-presidiário. É o Brasil refém de Valdemar e de outros Valdemares.
Em ditadura, pertenceu ao Arena, o partido que sustentava o regime militar. Em democracia, foi eleito seis vezes deputado federal, primeiro pelo PDS, descendente direto do Arena, e depois pelo PL e pelo PR, partido do qual é hoje uma espécie de dono..Apoiou, primeiro, o presidente Itamar Franco - era dele o camarote no Carnaval de 1994 em que o então chefe de Estado foi fotografado acompanhado por uma modelo sem roupa interior num episódio que quase o derrubou - e, depois, Fernando Henrique Cardoso..Por FHC ter demitido um apadrinhado seu, passou para a oposição. Até voltar à órbita do governo, em 2003, apoiando o governo de Lula em troca de dez milhões de reais [pouco menos de 2,5 milhões de euros ao câmbio atual] e mais umas mensalidades ao grupo parlamentar do PR pagas com dinheiro público..Essa manobra, entretanto descoberta, levou-o a ser condenado em 2012 a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no escândalo de compra de deputados conhecido como mensalão..No ano seguinte, foi investigado novamente por corrupção passiva, desta vez na Operação Porto Seguro, que revelou um esquema multimilionário de fraudes em pareceres técnicos, em agências reguladoras e em órgãos estatais..Solto em 2016, ao ser beneficiado por indulto presidencial de Michel Temer após cumprir um quarto da pena, foi imediatamente incluído nas investigações da Operação Lava-Jato: é acusado de ter recebido dinheiro por fora da construtora UTC em troca de facilidades em contratos com o Ministério dos Transportes, feudo do PR desde há 14 anos nos sucessivos governos, e de ter desviado 4,3 milhões de reais [cerca de um milhão de euros] num contrato entre uma empresa pública e a empreiteira Odebrecht..Enquanto as investigações decorriam, Valdemar destacou-se em março deste ano por ser um dos principais tubarões no mercado de transferências de deputados, mês em que os parlamentares estão livres para trocar de partido. Segundo o deputado Uldorico Júnior, o PR oferecia valores perto de 700 mil euros, além de cargos nos diretórios do partido no seu estado de origem e mensalidades. Ao PR, o partido que elegeu e deve voltar a eleger o campeão de votos Palhaço Tiririca, interessava arregimentar o maior número de congressistas para ter direito a maiores percentagens do fundo eleitoral público e a mais tempo de antena..No caso, o PR é dono de cobiçadíssimos 1"34"" nas televisões que podem fazer a diferença na eleição. Por causa disso, o candidato Jair Bolsonaro, cujo pequeno partido (PSL) não tem direito a mais de 7"", tentou a todo o custo convencer Valdemar a emprestar-lhe o senador do PR e cantor gospel Magno Malta para o cargo de vice-presidente..Ciro Gomes (PDT), que não chega a um minuto de tempo de antena, também fez os possíveis para seduzir Valdemar e os seus 1"34""..Acabou por ser Geraldo Alckmin (PSDB) a ganhar o coração do chefe do PR e de outros partidos com o mesmo modelo de negócio. Para se deixar conquistar, Valdemar impõe um nome do seu partido como candidato a vice-presidente e consta que já garantiu a continuidade do Ministério dos Transportes na sua mão e outros cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões da administração pública, caso Alckmin seja eleito..Mas caso não seja Alckmin o escolhido, o futuro presidente, tenha o nome que tiver, precisará de bajulá-lo a ele, ao seu grupo parlamentar e aos outros partidos clientelistas se quiser aprovar projetos no Congresso - ou seja, governar - como precisaram Lula e Dilma. E Temer: o atual presidente só não foi derrubado no Congresso após as duas denúncias do Ministério Público por corrupção porque trocou os votos a seu favor do PR e outros por mais cargos e mais dinheiro..Portanto, após as eleições o país continuará, alegremente, nas mãos de um velho parceiro da ditadura, corrupto distinto e nobre ex-presidiário. É o Brasil refém de Valdemar e de outros Valdemares.