Dificilmente se consegue escapar ao seu projeto maior - além da democratização da arquitetura e do papel icontornável na arte em língua portuguesa -, o de criar a nova capital para um país gigantesco, como é o caso do Brasil em toda a sua dimensão geográfica, que o Presidente Juscelino Kubitscheck sonhou e para a qual pediu tradução ao arquiteto e ao engenheiro Lúcio Costa. A partir desse momento, nada seria igual na sua vida. Nem nos seus traços arqueados, dobrados, geométricos, com passagens aéreas e lagos, que dominaram a silhueta de avião com que nasceu Brasília. Nem as posteriores capitais criadas a partir do nada pelo mundo conseguiram fugir à sua influência, mesmo que pudessem ser edificadas no ponto central do território, como era o caso desta..Há, no entanto, coisas que o arquiteto desenhou que concorrem com o deslumbre de Brasília. Até se podem enunciar as suas duas únicas obras em Portugal, no Funchal, por serem nossas. Ou o centro de artes em Gijón, com o fundo do palco a abrir-se para a arqueologia industrial e o mar pardacento do cais local... Mas, para os órfãos da capital perdida do Rio de Janeiro, Óscar Niemeyer fez um risco muito especial, que permite olhar desta cidade maravilhosa o museu em forma de objeto voador não identificado, posto no outro lado da Baía da Guanabara. Objeto que, pela identificação imediata do dono, confirma que a sua arquitetura é um dos rostos do planeta Terra..Crise política no Cairo.O ambiente de tensão que se tem vivido na capital egípcia demonstra que a crise política suscitada pelo decreto que reforçou e alargou os poderes do Presidente Mohamed Morsi, chegou a um ponto crucial. Ou é possível um compromisso entre Morsi, o seu campo político, e a oposição, ou o país está, possivelmente, à beira de um confronto generalizado. A intervenção televisiva do Presidente, lançando um apelo de diálogo às forças da oposição revela consciência da dimensão da crise política. É um primeiro gesto. .O Presidente aceitou uma vitória da oposição, mas manteve o essencial: a data de realização do referendo ao projeto de Constituição. De algum modo, o voto desta é o elemento que vai influenciar a vida política egípcia a prazo. É este facto que a oposição, por seu lado e na sua diversidade, deve estabelecer uma plataforma de consenso sobre objetivos políticos realistas e linhas claras de negociação. De outro modo, as negociações poderão desembocar em novo impasse e novo ciclo de tensões. .Ontem, podem ter-se criado condições para a democracia ficar mais forte no Egito. Cabe ao Presidente e, principalmente, às forças da oposição, que se tem reivindicado seu garante, trabalhar para a sua concretização.