O mistério do sete

E ao sétimo dia Deus descansou. E assim tornou o sete o número da perfeição, o dia em que o criador deu a obra por concluída e a pôde contemplar. Mas sete são também os dias da semana, as esferas celestes, as pétalas da rosa, os ramos da árvore cósmica, os pecados mortais, os sacrifícios do xamanismo, as cores do arco-íris, os anões da Branca-de-Neve, as notas de uma escala musical. Que estranha magia transporta o número sete para que tanto da nossa vida se organize à volta dele? E será que o podemos utilizar para melhorar a nossa vida?<br /><br />
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Sete é um número extremamente místico. Na numerologia é um número forte, masculino e carregado de simbolismo. A magia do sete remonta às eras pré-cristãs, divide os ciclos de vida do homem e é, curiosamente, o número de itens partilhados por religiões muito diferentes.
Estudos recentes têm mostrado a tendência das pessoas para optarem pelo número sete quando lhes é pedido um número ao acaso ou uma escolha para o totoloto.

Estudo do sete
Nos anos cinquenta do século XX, um professor de Psicologia da Universidade de Harvard, George Miller, ficou intrigadíssimo com as possibilidades demonstradas pelo número sete. E resolveu estudá-lo, ao número e à relação que mantém com as pessoas, concentrando-se na Psicologia Cognitiva. Fez medições, experiências, inquéritos, recolheu dados diversos e mostrou que a mente humana tem limites no que diz respeito à capacidade de recolha e armazenagem de dados. Concluiu que a média das pessoas consegue preservar em média sete números, sete objectos visuais ou sete palavras na sua memória de curto prazo. O professor Miller acabou por elaborar a teoria de que o sete é um filtro mental natural, que trabalha os estímulos informativos visuais, de modo a conseguir um funcionamento adequado do cérebro e da memória – embora Miller não pudesse adivinhar que se aproximava uma era que iria ser absolutamente revolucionada por uma invenção: a internet, que nos traz uma sobrecarga informativa que está a influenciar os nossos impulsos cerebrais e a ter consequências na nossa memória. Basta ouvir o tópico à volta do qual giram hoje as conversas das pessoas de meia-idade: a memória, ou a falta dela, que todos sentem com cada vez mais frequência. E que não se deve só a uma «decadência» física, mas também ao imenso caudal de informação que nos é dado para armazenar todos os dias através das novas plataformas de informação.

Porque precisamos do sete?
Mas a teoria de Miller fica muito longe de explicar porque é que o homem decidiu que as sete maravilhas do mundo seriam sete ou porque dividiu em sete as idades do ser humano, ou porque há sete níveis do inferno, sete cores primárias, sete notas na escala musical ou sete dias na semana. Ou porque é que os anões da Branca-de-Neve são apenas sete e os pecados mortais apenas sete (quando não seria difícil juntar-lhes mais uns quantos).
De acordo com o Dicionário dos Símbolos, de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant (Teorema, 1994), o número sete «é um número cósmico sagrado», é «o símbolo do homem perfeito», «é, universalmente, o símbolo de uma totalidade, mas de uma totalidade em movimento ou de um dinamismo total».
O sete corresponde aos dias da semana, aos sete planetas, aos graus da perfeição, às sete pétalas da rosa, às sete cabeças da naja de Angkor, aos sete ramos da árvore cósmica, aos sete sacrifícios do xamanismo: alguns septenários são símbolos de outros septenários: a rosa das sete pétalas evoca os sete céus, as sete hierarquias angélicas, todos os conjuntos perfeitos. Sete designa a totalidade das ordens planetárias e angélicas, a totalidade das moradas celestes, a totalidade da ordem moral, a totalidade das energias e, principalmente, na ordem espiritual. Entre os antigos egípcios, o sete era símbolo de vida eterna. Simboliza um ciclo completo, uma perfeição dinâmica. Cada período lunar dura sete dias e os quatro períodos do ciclo lunar (7x4) fecham o ciclo. Sete indica o sentido de uma mudança depois de um ciclo concluído e de uma renovação positiva.

O culto de Apolo
O número sete é característico do culto de Apolo, as cerimónias em sua honra realizavam-se no sétimo dia do mês. Na China, a grande maioria das festas populares também aconteciam num sétimo dia. O sete aparece em muitas tradições e lendas gregas: as sete Hespérides, as sete portas de Tebas, os sete filhos e as sete filhas de Níobe, as sete cordas da lira, as sete esferas. Há sete emblemas de Buda. As circum-ambulações de Meca duram sete dias. Se associarmos o número 4, que simboliza a terra, e o número 3, que simboliza o céu, temos que o sete representa a totalidade do universo em movimento.
O septenário resume também a totalidade da vida moral, adicionando as três virtudes teologais – fé, esperança e caridade – e as quatro virtudes cardeais – prudência, temperança, justiça e força. As sete cores do arco-íris e as sete notas da gama diatónica «revelam o septenário como um regulador das vibrações, das quais várias tradições primitivas fazem a própria essência da matéria», lê-se no Dicionário dos Símbolos. Sete é assim o número da conclusão cíclica e da sua renovação.
Não podemos esquecer que o sete é também a chave do Apocalipse: sete igrejas, sete estrelas, sete espíritos de Deus, sete selos, sete trombetas, sete trovões, sete cabeças, sete calamidades, sete taças, sete reis. E é o número dos céus budistas: os sete arcanjos príncipes dos sete céus, que são os sete vigilantes de Enoch e correspondem aos sete rishi védicos. De acordo com o Dicionário dos Símbolos, «estes residem nas sete estrelas da Ursa Maior, com as quais os chineses relacionam as sete aberturas do corpo e as sete aberturas do coração. A luz vermelha das sociedades secretas chinesas tem sete braços, como o candelabro dos hebreus».
O sete é frequentemente utilizado na Bíblia: candelabro de sete braços, sete espíritos repousam na vara de Josué, sete céus onde residem as ordens angélicas, Salomão construiu o templo em sete anos. Todos os sete anos os escravos são libertados e os devedores perdoados. O sete é utilizado 77 vezes no Antigo Testamento e possui assim, em si mesmo, um poder. Mas traz uma certa dose de ansiedade pelo facto de indicar a passagem do conhecido para o desconhecido – um ciclo encerrou-se, qual será o seguinte?

Porque escolhemos este número?
Porque agrupamos tantas coisas em sete? O sete é mais do que um número de boa sorte ou o da camisola de um famoso jogador de futebol. Jacqueline Leo, uma «guru» dos media, que tem desempenhado altos cargos no mundo televisivo e editorial dos Estados Unidos, escreveu um livro a que chamou 7 o Número da Felicidade do Amor e do Sucesso (Estrela Polar, 2010). Jacqueline considera que o sete «é o guia natural do cérebro, conduzindo vastas quantidades de informação em grupos controláveis, mais fáceis de utilizar: «O número sete não só é capaz de servir de filtro à avalancha de informação que constantemente nos assola, como também pode ajudar-nos a fazer escolhas inteligentes quando procuramos uma casa, um emprego ou quando pedimos um simples sumo de laranja. O número sete pode ajudar-nos a encontrar as palavras certas na altura certa e a evitarmos palavras ou as frases que nos minam ou nos deixam embaraçados»
Com o seu livro, Jacqueline Leo pretende mostrar como é possível utilizar a energia do número sete para melhorarmos o nosso dia-a-dia. Um pouco à maneira dos grupos de «anónimos» que ajudam os dependentes a libertar-se da sua adição (passo a passo, um passo de cada dia), propõe sete «passos» para cada um dos muitos problemas com que a sociedade actual nos confronta: sete passos para controlar a ansiedade, para reavivar o casamento, para actuar no trabalho, para gerir as relações com os amigos, etc. Se é verdade que o número sete tem funções de «organizador mental» nos complexos meandros cerebrais do ser humano, então aproveitemos esta nova teoria para darmos mais qualidade à nossa vida.


Sete curiosidades
• Guerra dos sete anos. A guerra com os franceses e os índios (1756-63) não é comparável à primeira e à segunda guerras mundiais, mas envolveu as maiores potências do mundo de então. Winston Churchill considerava-a a verdadeira primeira guerra mundial.
• Na Mesopotâmia, a terra e o céu foram divididos em sete zonas e a Árvore da Vida tinha sete ramos.
• Existem sete orifícios na cabeça humana
• Miley Cyrus, mais conhecida por Hannah Montana, teve uma canção de sucesso chamada 7 Things.
• Sete maneiras. Paul Simon cantou para o mundo «50 maneiras para deixar o seu amante». Mas se ouvirmos bem a canção, percebemos que na realidade são só sete: sai pelas traseiras, Jack; traça um novo plano, Stan; não te intimides, Roy; ouve-me bem; salta para o autocarro, Gus; não há muito para discutir; deita fora as chaves, Lee (e diverte-te).
• 7Up. A gasosa que foi anunciada ao mundo como «não coca-cola» nos anos setenta, foi criada por Charles Leiper Grigg, que decidiu dar à bebida um nome inspirado na massa atómica do lítio, sete, que era um dos ingredientes da fórmula original. O citrato de lítio, estabilizador do estado de humor, pode ter contribuído para o sucesso da bebida, nas vésperas do crash de 1929.
• Vida de cão. Os cães envelhecem sete vezes mais rapidamente do que os seres humanos. Os cientistas referem-se a este ratio como «modelos de sobrevivência paramétrica».

Fonte: 7, de Jacqueline Leo, Estrela Polar


Sete mentiras que os homens contam às mulheres
• Tive a melhor média de licenciatura do meu ano.
• É claro que gosto dos teus amigos.
• Querida, tu és a melhor (sobre performance sexual).
• Não vou poder ligar-te. Ainda nem sei em que hotel é que fico.
• Esse vestido não está apertado de mais. Fica-te muito bem!
• Estão a reduzir o pessoal lá na empresa. Mas não te preocupes, não serei despedido.
• Claro que lavo a loiça. Assim que me passarem estas dores nas costas.

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