Aos 39 anos, Moretto já tem as luvas penduradas, mas continua ligado ao futebol. Fundou há dois a Moretto World Soccer, uma empresa de intermediação de transferências, e vai gerindo-a a partir de Florianópolis, no estado brasileiro de Santa Catarina, onde reside.."Estou a dar os primeiros passos. Era mais fácil quando estava no relvado. É muito complicado. Tens de ser mais esperto do que os outros e há uma desonestidade muito grande. Temos de estar com o radar 24 horas ligado, mas estou a gostar da experiência", contou ao DN o ex--guarda-redes de V. Setúbal, Benfica e Olhanense, que ajudou nas transferências de jogadores para países como Turquia, Emirados Árabes Unidos, Grécia e Tailândia. "Para Portugal ainda não. O mercado brasileiro está muito valorizado e os jogadores querem ir para onde se ganha melhor. Mas quero ir viver para Portugal, porque 99% dos meus negócios são fora do Brasil", esclareceu o brasileiro, que não para "um minuto" e viaja "bastante" para preparar as janelas de transferências..Saudades de V. Setúbal e Benfica.Para trás, fica uma carreira de futebolista da qual sente saudade. "Não vou mentir. Quando se participa em grandes jogos, como na Liga dos Campeões, dá saudade. Mas tudo tem o seu tempo. Sofri uma lesão no joelho e preferi parar em vez de me arrastar", confessou, recordando com nostalgia "os jogos pelo Benfica na Luz, com o estádio cheio e na Champions frente a Barcelona e Liverpool, e a final da Taça de Portugal ganha pelo V. Setúbal, no Jamor lotado"..Esses são, garante, os clubes do coração em Portugal. "O V. Setúbal pelo carinho que as pessoas me deram, e o Benfica pela grandeza. Vou carregar amor pelos dois clubes para o resto da minha vida", revelou Moretto, que chegou a Portugal no verão de 2004 para representar o Salgueiros, algo que não chegou a acontecer.."Fui para Portugal através de um empresário, Artur Santos, que enviou um DVD meu para o Norton de Matos, que treinava o Salgueiros e tinha o Pedro Martins como adjunto. Quando cheguei, o clube teve um problema com as finanças e foi despromovido à II Divisão B. Cada jogador foi para um canto, incluindo o Marco Silva. Então, o Norton de Matos indicou o meu nome ao Diamantino Miranda, que era treinador do Felgueiras, e fui para lá com o objetivo de ficar três meses e ir para a I Liga", lembrou, puxando a cassete atrás.."Em janeiro, havia interesse de Penafiel, Belenenses e V. Setúbal. O Penafiel não quis pagar os 25 mil euros que o Felgueiras pedia, mas o Chumbita Nunes [então presidente do V. Setúbal] bateu no peito e fechou a minha contratação. Eu disse-lhe que ia lucrar comigo e assim foi, um ano depois", relembrou o brasileiro, que pelo emblema sadino conquistou uma Taça de Portugal, com um triunfo sobre o Benfica na final. "Esse dia foi maravilhoso, desde a chegada ao estádio. Os adeptos foram para a sardinhada no Jamor, o sol estava escaldante e, quando fomos ao relvado ver o ambiente, o estádio estava a abarrotar. Foi uma tarde única. Tínhamos um grupo muito forte e uma equipa muito boa e entrosada. Começámos a perder mas, com muita luta, demos a volta", recordou..Foi o menos batido da Europa.A glória de Moretto à beira-Sado não se ficou por aí. No início da temporada 2005-06, o V. Setúbal andou pelos primeiros lugares e chegou a ter a melhor defesa da Europa, com apenas três golos sofridos em onze jornadas, numa altura em que o clube também era notícia pelos salários em atraso. "Tínhamos uma equipa muito coesa e ganhávamos quase sempre por 1-0. Tínhamos um grupo muito unido e ajudávamo-nos uns aos outros. Mas no final da primeira volta, com a chegada do Natal, houve algum stress. Tínhamos três meses em atraso e a minha venda para o Benfica foi primordial. Também saíram outros, como José Fonte e Dembelé, e a equipa perdeu um pouco", lembrou o atual intermediário, nostálgico..A boa campanha valeu-lhe o salto. Um salto dado em forma de... cambalhota, pela forma como acabou por assinar pelo Benfica e não pelo FC Porto, motivando na altura uma guerra entre os dois rivais. "Reuni com o Benfica, mas depois o empresário José Caldeira disse que o FC Porto me pagava o dobro e então reuni com Antero Henrique e Reinaldo Teles. Ficou tudo acertado, o contrato era bom, mas eu queria o Benfica. Luís Filipe Vieira ligou-me, disse-lhe que preferia o Benfica mas que o FC Porto pagava mais, e ele então fez um contrato igual e foi buscar-me ao Brasil", afirmou o goleiro, esclarecendo uma transferência ocorrida em janeiro de 2006..Na Luz, três treinos bastaram para roubar a titularidade a Quim, algo que lhe ditou uma estada menos positiva nos encarnados. "Poderia ter corrido melhor. Senti a grandeza do clube e se calhar não estava preparado psicologicamente. Mas foi uma fase bonita da minha carreira", confessou o ex-futebolista, que de águia ao peito defendeu uma grande penalidade de Ronaldinho em Camp Nou, um feito que não serviu para conquistar os adeptos. "Conquistar logo a titularidade foi prejudicial. O Quim estava bem e os adeptos e a imprensa contestaram. Foi muito complicado. Tenho uma história triste, de um jogo frente ao PSG em que cometi um erro e os adeptos gritaram por Moreira. Aí decidi ir embora do Benfica", rematou.