Num erro de análise, o americano "levou tempo a convencer-se de que Mário Soares era uma escolha acertada como interlocutor", escreveria Hall Themido, ao ponto de, em conversas informais com o embaixador, considerar que se tratava de "um político ingénuo" (Dez Anos em Washington). E Soares recordaria o que ele lhe tinha dito: "Você fique cá, porque eu vou cuidar de si, vou arranjar-lhe um lugar numa universidade. Se você for para Portugal ou é fuzilado ou fica preso toda a vida." (O Que Falta Dizer)..Mas seria o próprio Kissinger a admitir, em Anos de Renovação, que "este aparte não constituía qualquer juízo quanto às boas intenções de Soares; depois de derrotar os comunistas, ele viria a dar um contributo fundamental para o seu país, enquanto primeiro-ministro e, mais tarde, como Presidente"..E Rui Mateus, no livro Contos Proibidos, recorda que, no encontro seguinte, Kissinger "fez questão de afirmar perante os seus principais colaboradores ter-se enganado em relação a Mário Soares quando o classificou de "Kerensky português". Essa admissão causaria grande surpresa no Departamento de Estado, pouco habituado a atos de humildade do seu ministro, mas a verdade é que Soares era também, (...) naquela época de desorientação nacional, o exemplo do lado bom da política externa norte-americana".