As grandes dúvidas nunca lhe atrapalharam a vida. Quando tinha 14 anos e estudava no Colégio dos Cedros, já sabia que queria ir para Gestão. E quando estava na Católica já sabia que queria ter o pai como patrão. Há várias explicações para não ter sido contaminado pela dúvida na hora de tirar o azimute do seu futuro. A mais provável é que esta determinação mergulhe as raízes no facto de ter nascido e crescido ao mesmo tempo em que o grupo empresarial foi erguido pelo pai, Eduardo Rangel..Ex-ajudante de despachante, o Rangel pai começou a trabalhar aos 16 anos como paquete e aos 25, em 1980, fundou o seu negócio, uma empresa de transitários, que em menos de 30 anos transformou num operador logístico global, parceiro da poderosa FedEx, com bases em Portugal, Espanha e Angola, que transporta desde pneus da Goodyear até LCD da Samsung, passando por medicamentos da Roche, quadros do Picasso e os manuscritos de Da Vinci, que são propriedade de Bill Gates..Eduardo Rangel tem, por assim, três filhos; Nuno, 30 anos, é o mais velho; o grupo Rangel Invest, 29, é o do meio, com 900 trabalhadores e uma facturação de 100 milhões de euros; Joana, 26 anos, dentista, é a mais nova. "Eu e o grupo crescemos juntos. Vivi muitos anos dentro do escritório. Ao jantar, o meu pai discutia comigo a compra de uma empresa, mostrava-me as contas e pedia-me opinião", explica Nuno, acrescentando que nem a mãe nem a irmã apreciavam que os negócios monopolizassem a conversa à mesa..A meio do curso, Nuno ainda esteve quase a abrir um restaurante italiano, mas essa eventual deriva gastronómica nunca o desviaria da rota traçada desde a adolescência. Em 1999, aos 20 anos, vemo-lo no primeiro emprego a sério, a tentar expandir, em plena bolha das dotcom, a Zipnet, uma das dez empresas do grupo..Antes de concluir o curso, completou o tirocínio do outro lado do Atlântico no quadro do Free Move (uma espécie de Erasmus). O meio ano no Rio de Janeiro alargou--lhe os horizontes: "Nunca tinha vivido sozinho. Voltei muito mais comunicativo e com maior facilidade na abordagem e contacto com as outras pessoas.".Licenciatura acabada, pegou numa mochila e foi de férias para os Balcãs, antes de a 1 de Setembro se apresentar ao trabalho na sede do grupo, na Folgosa, Maia. Ficou logo com a área informática e começou pela holding o grand tour pelo interior do grupo..Como adjunto da administração, entre 2006 e 2007, esteve na primeira linha da internacionalização, abrindo operações em Angola e Espanha. Até que, no ano passado, liderou a autonomização na Rangel Express na área de distribuição. Fez a reengenharia do negócio e aguentou fortes ventos contrários - a empresa nasceu em Abril, num ano em que o petróleo não parou de subir, os camionistas fizeram greve em Junho e a crise estourou em Setembro..Nesta conjuntura desfavorável, a Rangel Express facturou 12 milhões de euros, usou a sua frota de 225 viaturas e dez plataformas para entregar 1,3 milhões de volumes (média de cinco mil/dia). E, apesar da crise, espera crescer 3% este ano.."Já noto o levantar do pé no travão. Os últimos meses já foram melhores do que os de 2008. 2010 vai ser um ano interessante", prevê Nuno, que não tem dúvidas em relação ao futuro: "O meu futuro é ser presidente do grupo Rangel. Quero o lugar do meu pai - e já lhe disse."