O génio que reinventa o jogo com um sorriso

"Sem uma bola não sou nada", dizia ontem Ronaldinho, em entrevista publicada pelo jornal espanhol El País, no dia em que a revista francesa France Football elegeu o brasileiro para Bola de Ouro de 2005 - o mais prestigiado prémio para um futebolista, logo depois do troféu de Jogador do Ano atribuído pela FIFA, que o avançado brasileiro do Barcelona venceu em 2004.

A frase do sul-americano não será original, mas restam poucas dúvidas de que Ronaldinho Gaúcho é actualmente o jogador que melhor se relaciona com o esférico no mundo do futebol. A prova foi dada pelo camisola 10 do Barça há bem pouco tempo, em pleno terreno inimigo, no Estádio Santiago Bernabéu, humilhando o rival de sempre, Real Madrid, de forma tão superior que até os adeptos da casa se levantaram para o aplaudir.

Desde os tempos do argentino Maradona que o mundo do futebol não se lembrava de uma exibição individual tão arrebatadora. Desde os tempos do argentino, também, que o futebol não conheceria um jogador tão genial. Reconhecem-no os melhores de sempre. Pelé disse esta semana que Ronaldinho representa para o futebol de hoje aquilo que ele, "o Rei", representou para o futebol no seu tempo. Ou seja, "é o melhor". Maradona acrescenta-lhe uma definição mais romântica "Ronaldinho é o único que tem o encanto e a habilidade para dar alegria ao povo num campo de futebol."

A forma como deixou colados ao relvado os defesas do Real Madrid no clássico de há uma semana, ou o golo que marcou ao Chelsea de Mourinho na época passada, em Stamford Bridge, abrindo uma defesa de ostra com um simples passo de dança, são imagens que constroem a história do jogo. Como o foram no seu tempo o golo de Van Basten na final do Euro 88, a "mão de Deus" e o slalom de Maradona perante a selecção inglesa no México 86, o golo da laranja mecânica de Cruyff após 14 toques consecutivos no primeiro minuto da final contra a Alemanha em 74, o golo de Pelé contra a Suécia em 58.

Num futebol cada vez mais submisso a uma ideia de ordem, Ronaldinho assume a defesa do indivíduo, reiventando o jogo com novos truques. Essa necessidade de criar, de inovar - de "entreter", como diz Maradona - está-lhe no sangue. "Em pequeno queria ser como o meu irmão [Assis, que chegou a jogar no Sporting]. Mas aprendi com tantos. De um imitava o remate, de outro o controlo de bola. Mesmo de gente anónima, futebolistas que ninguém conhece. Aprendo até com os miúdos a jogar na praia ou a ver o meu sobrinho no jardim", refere Ronaldinho ao El País.

O menino gaúcho que passou por uma infância difícil em Porto Alegre - aos oito anos perdeu o pai, afogado na piscina - não perdeu o seu lado infantil. Expõe-no em campo, de sorriso rasgado nos lábios. Ronaldinho diverte-se no relvado. "Em campo sou feliz, sinto-me como um menino", assume. Um menino que cresceu depressa no futebol primeira equipa do Grémio aos 18 anos, primeiro golo (comparado ao de Pelé frente à Suécia) na selecção aos 19, campeão do mundo aos 22, melhor jogador FIFA aos 24, Bola de Ouro aos 25. Bem para trás fica uma recambolesca dispensa no Estrela da Amadora, aos 17 anos. "Para entrar na história preciso de títulos", diz. A história já não o dispensa.

Ronaldinho

Ficha pessoal

trajecto:

Grêmio Porto Alegre 1997 - 2001

Paris Saint Germain 2001 - 2003

FC Barcelona Desde 2003.

Títulos colectivos:

Barcelona Campeonato de Espanha (2005), Supertaça de Espanha (2005),

Brasil Campeonato do Mundo (2002), Taça Confederações (2005), Copa América (1999)

Título individuais:

Bola de Ouro France Football (2005) Melhor Jogador do Mundo FIFA (2004)

Melhor jogador da Taça Confederações (1999)

Porto Alegre (21-03-1980) idade: 25 peso: 76 kg

altura: 1,80 m pontos fortes: Velocidade e drible

Ficha pessoal