O futuro é 4D e, em Portugal, chama-se SketchPixel

<div>Almoçam cedo para poderem jogar em rede, brincam ao Second Life, animam heróis de banda desenhada, vasculham fóruns na net, enquanto trabalham e comunicam por MSN com colaboradores da Colômbia, República Dominicana e Brasil. A SketchPixel é um negócio de sucesso, português, na vanguarda da animação 3D e soluções high-tech para empresas. Pura diversão, a pensar num Óscar em Hollywood.</div> <div> </div>
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«Eu não trabalho, eu venho aqui todos os dias divertir-me.» Para desprevenidos, o manifesto dito assim, descontraído, da boca de Miguel Abreu, 34 anos, CEO da SketchPixel, empresa portuguesa de soluções tecnológicas utilizando, sobretudo, tecnologia 3D, soa a equação secreta para um emprego de sonho. Atentos, continuamos a seguir a fórmula: «Daqui a pouco é meio-dia e meia. É melhor almoçarmos cedo para termos tempo de jogar», atenta Nuno Freitas, 30 anos, director de estratégia e marketing. Ficamos desconcertados: jogar? «Sim, um jogo de computador: o Call of Duty; perco sempre», esclarece Freitas, que é formado em gestão. Então como é que a maior empresa portuguesa de animação 3D, nascida em 2008 e já considerada um caso de sucesso, que passou de 13 mil euros de facturação inicial para 280 mil o ano passado e com previsão de mais de meio milhão para este ano, pode parecer um laboratório de constante recreio? «Aqui, divertimo-nos a trabalhar», graceja o CEO, que é formado em Relações Internacionais. É essa a parte essencial do ADN da empresa localizada no Ave Park, Parque de Ciência e Tecnologia, em Guimarães, que tem um robot como mascote e pensa através de palavras como motion, efeitos especiais e frame: diversão. Num dos computadores anima-se personagens para o ambiente virtual Second Life, noutro o Astérix; na sala ao lado temos um cenário quase Star Wars, com pirâmides holográficas e óculos futuristas tipo Matrix, simulando animações. Desbravando a cave do edifício da SketchPixel descobrimos ainda touch screens gigantes, uma lata de refrigerante oriental a girar e um mini-estúdio de chroma key. «Estamos sempre atentos às novas tecnologias, aceitando os desafios para descobrir o que melhor se anda a fazer em 3D», resume Miguel Abreu. Continua, enquanto ele próprio anima uma tartaruga num emaranhado de grelhas no ecrã do computador: «Aliás, mais ou menos trinta por cento do tempo do trabalho de cada um dos nossos colaboradores é passado à procura de novas soluções tecnológicas e a ler manuais de programas actualizados.» Na verdade, foi, também, nessa percentagem de labor que Miguel contratou vários colaboradores para a empresa que é hoje considerada a melhor em tecnologia 3D e efeitos especiais, com clientes como a La Roche Posay, Fundação EDP, TAP, Super Bock, Portucel Soporcel, entre outros, sobretudo a maioria das grandes agências criativas. «Procuro sempre saber quem são os melhores em animação 3D em fóruns de internet e, em alguns casos, chegamos mesmo a comprar parte da empresa deles.» Foi assim que chegaram a colaboradores na República Dominicana, por exemplo. Haverá intercâmbio para breve. E, no mapa-mundo, marcam posição no Brasil, em França, Marrocos, Angola. Agora, andam a namorar o mercado alemão. «Parece-me um mercado com potencialidade», avança o CEO. A alma do negócio é a animaçãoE onde é que se aplicam todas as possibilidades do 3D? «Temos duas vertentes», sintetiza o responsável pelo marketing, «a SketchPixel Animation Studios e a Innovation Studios». Na primeira é onde trabalham o 3D para área publicitária, arquitectura, holografia e projectos de visualização arquitectónica, efeitos especiais para televisão, motion graphics e 3D de animação. Na segunda desenvolvem a pirâmide holográfica (projecção óptica de imagens com sensação de relevo; e eles são pioneiros na introdução e desenvolvimento desta tecnologia em Portugal), fazem a estrutura de hardware do holograma de palco, desenvolvem aplicações para iPad, iPhone (têm a chancela da Apple) e Android. Mais: jogos, interactividade touch, conteúdos dinâmicos, realidade aumentada, tecnologias imersivas para simulações que podem ser aplicadas em publicidade, no interior de uma casa que ainda não foi construída, e na área médica, no apoio a cirurgias. «Se quiser filmar as sinapses do cérebro dentro do processo de pensamento não consigo, mas com 3D posso simular tudo isso, recriando o ambiente, como se lá estivesse.» Palavra de Nuno Freitas. Uma das grandes meninas dos olhos da empresa, actualmente, é a projecção em 3D em edifícios, tal como aconteceu o ano passado em Nova Iorque num evento da marca Ralph Lauren, num espectáculo a 4D de oito minutos.Projectava-se num edifício imagens em 3D: manequins a desfilar, descendo escadas ilusórias (mas tão reais), cavalos a trote para o pólo e, no final, uma quarta dimensão: frascos da nova fragrância, formados no céu, a «pulverizar» os espectadores. Poderosa «arma» de marketing, conforme antevê Freitas, que morou já nos EUA e fez um MBA no Porto. «Esse tipo de espectáculos é o novo fogo-de-artifício mas mais ecológico, porque cria muito impacte visual.» O vídeo teve milhões de visualizações.De Braga para o mundoA SketchPixel, que agarrou o nome à ideia de «esboço» (sketch, em inglês) do desenho e pixel à representação da era digital, é uma empresa pequena, de low profile, conforme define Miguel Abreu, o mentor do projecto. Para chegar até esse laboratório futurista, temos de passar por um corredor que faz lembrar o das naves espaciais cinematográficas, com o cinzento metálico a predominar. Depois, em ambiente descontraído, mas num meio silêncio de concentração, apercebemo-nos de computadores com explosão de cores e formas animadas, com a tridimensionalidade do cinema. Um minilaboratório criativo a desenhar o futuro da animação 3D em Portugal. Abreu contextualiza. «Eu já trabalhava nesta área anteriormente e resolvi abrir o negócio com outra pessoa.» Na altura, nem sequer tinham o capital mínimo para abrir a empresa. Três mil euros foram a ignição necessária. Ele, que acabou por fazer um curso de Artes Digitais e Multimédia, percebeu aqui uma oportunidade de negócio.E, já que SketchPixel é uma spin-off da Universidade do Minho, a pergunta é obrigatória: há sinergia com o meio académico? «Poderia ser mais forte e potenciada», avança Nuno Freitas. Desenvolve: «Temos tido uma abertura muito forte, mas acho que são as dores do crescimento, pois estamos com muito trabalho e não temos dedicado tanto tempo a essa questão, mas essa é uma aposta muito importante, pois há muitos projectos universitários que ficam na carteira e não têm visibilidade nem rendibilização e poderiam ser potencializados, se as empresas se envolvessem.» Lamenta que haja tanta tecnologia que se perca nesse processo, actualmente. Depois, afirma, como quem revela outra fórmula do êxito: «As universidades têm de se preocupar hoje, cada vez mais, em ensinar a aprender.» Suscitar curiosidade e incentivar à constante actualização. «Aqui na SketchPixel é esse o lema e imediatamente percebemos se um colaborador está ou não no ambiente certo», afirma Miguel Abreu.O sucesso que vem das soluçõesSe é certo que o portfólio e reconhecimento têm vindo a desenhar uma curva ascendente, queremos perceber melhor as variáveis da fórmula de sucesso desta cria da Universidade do Minho. «Temos uma abordagem diferente daquilo que é o mercado, hoje, na metodologia do trabalho», esclarece Freitas, «porque não nos preocupamos em ter um produto standard; preocupamo-nos em levar soluções aos clientes». Ou seja, «não queremos apenas fazer coisas bonitas, mas coisas que também tenham impacte no resultado final». Além do «serviço personalizado», a SketchPixel dá «soluções inovadoras de comunicação que mais ninguém tem», resume o director de marketing da empresa de Guimarães. Uma incubadora a prever o futuro. E eles, que mantêm contacto com o cliente final, envolvendo-se em todo o processo do negócio, arriscam, quando não sabem se conseguem encontrar a solução ajustada? «Sim, porque em poucas horas damos a resposta ao cliente: se é possível ou não fazer o que ele pretende. Normalmente é, pois o desafio em busca de novas soluções em 3D é o nosso negócio.» Por exemplo: «A Ballantine"s queria uma pirâmide holográfica com a bebida e tivemos de simular líquidos, com gelo a cair. Do ponto de vista da animação é difícil conseguir um resultado aproximado do real, mas nós chegamos lá.» Mais: numa recente parceria com a DigitalSign, o cliente pode controlar em tempo real várias pirâmides holográficas. Um desafio «constante e divertido», com uma equipa interna de colaboradores na maioria com menos de 30 anos, no top da tecnologia, a dominar sombras e movimentos simulando realidade no Studio 3D Max - o software também usado pelos estúdios DreamWorks (produtores dos filmes Shrek e Antz). «Nós costumamos dizer que com 3D tudo é possível e esse é o nosso lema, desde que não haja constrangimentos orçamentais.» Até porque, «o objectivo final da SketchPixel é, um dia, ganhar um Óscar de Hollywood por efeitos especiais», gracejam os responsáveis com uma pitada de seriedade. «Os filmes são trabalhos muito grandes; aqui em Portugal é um pouco difícil, mas contamos fazer cinema no futuro.»A importância de ser Gigi FortunasEle é fancy, fashion, egocêntrico e viajado. Ainda não é colunista social porque talvez se ache além do mercado português, mas não admira que um dia a imprensa cor-de-rosa, uma vez apresentados, não lhe perca o rasto e faça até ensaios fotográficos na sua mansão. É que além de desenvolver soluções de novas tecnologias, a SketchPixel desenvolveu um personagem quase quarentona chamada Gigi Fortunas. Está no Facebook e na internet, assinando um blogue. É uma personagem kitsch, animada pela empresa de Guimarães já com imagem de marca: cabelo em poupa, calças justas cor-de-rosa e camisa aberta no peito, sentado num divã em pose de capa de revista. Apresenta-se como «crítico de arte» que «vive e respira entretenimento». Nasceu em Paris, lê-se no blogue (http://gigifortunas.blogspot.com/) e agora vive em Lisboa, com «um sentido estético apurado». Para manter o mistério, a SketchPixel não desmente nem confirma que ele realmente exista ou que possa, eventualmente, ser o alter ego da personalidade criativa da empresa. Quem sabe um dia, admitem os responsáveis, possa passar da internet para o ecrã de televisão, ou ganhar forma mais animada em 3D.

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