O Ensino em Portugal - As humanidades e as línguas clássicas

Aproxima-se o final do ano letivo e, consequentemente, a época de matrículas para o próximo ano. Os jovens que terminam o 9º ano são chamados a decidir a área de estudos que querem seguir nos três anos do Ensino Secundário. Para muitos uma escolha difícil, principalmente porque, seja qual for o curso superior a que queiram candidatar-se, a esperança de uma carreira profissional é algo obscuro e incerto.
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E a área de Humanidades é sempre o parente pobre, a área menos pretendida, numa sociedade onde a cultura intelectual anda tão desprezada, numa sociedade onde só a economia e a alta finança parecem ter valor.

E é também essa cultura do económico, essa preocupação com o déficit e com os cortes orçamentais que impede, muitas vezes, a abertura de turmas de Humanidades nas escolas do ensino secundário, dado o número de alunos exigido pela legislação em vigor.

A situação agrava-se quando se trata de disciplinas de opção para as quais a exigência de um grupo de 20 alunos não permite que o jovem realmente escolha a disciplina que deseja para o seu curriculum, porque, logo à partida, se vê confrontado com a hipótese de a disciplina não abrir por não se preencher essa exigência. Onde está, então, a liberdade de escolha?

Quando a disciplina de opção é o Latim a situação piora. A língua-mãe do Português e de tantas outras línguas ditas românicas, a língua que está presente em tão grande número de vocábulos das línguas germânicas, a língua da ciência e da cultura, essa língua tão estudada e reconhecida noutros países, está em vias de extinção em Portugal.

Que interesse haverá, então, em estudar essa língua morta, que já ninguém fala? !...

Nos tempos hodiernos [do latim hodie "hoje"] a crise impera [latim crisis,crisis, termo médico; grego krísis que, relacionada com o verbo krino, significa, em primeiro lugar, "ação de separar, de discernir"]; então a palavra deveria significar, na sua etimologia, uma atitude de discernimento que levasse a separar as coisas, a saber escolher, a saber decidir...

Porém, dependemos do FMI (Fundo Monetário Internacional)... A moeda europeia é forte, mais para uns do que para outros... [Moneta era o apelido dado pelos romanos à deusa Juno; no seu templo, Templo de Juno Moneta, se cunhava a moeda; monetam > moneta > moeta > moeda]. Agora, o erário [latim: aerarium "tesouro público"] está vazio... Na realidade, Juno Moneta avisou [latim: monere "avisar"], é que ... verba uolant..., ninguém ouviu e a crise aconteceu.

O provérbio diz também scripta manent!... Mas isso era dantes! Agora tudo mudou e as promessas escritas, os direitos, já não permanecem... Imperat oeconomia...

No entanto, a economia [do grego oikonomia, oikos "casa" + nomos "uso, costume,lei", logo, o governo da casa] do país está comparada a "lixo" [do latim lixius (?) "lixívia" ] e, quem manda, manda, como dizia há dias um certo senhor, "Roma locuta, causa finita"...

E não há nada a fazer, se Roma falou... isto é... o Governo... a Europa... etc. [et caetera..., outras coisas, quer dizer, outras pessoas, outros que mandam, para que o povo obedeça...], nada mais podemos fazer...

São os políticos a falar [do grego: pólis "cidade"], os ministros que temos... [latim: minister "o servidor", o "subordinado"... que evolução semântica! ], e, por isso, carpe diem.... para quem pode, porque para outros é só carpir...

Como as palavras podem ser enganadoras!... da mesma raiz, que diferença de sentido! Carpe diem, colhe o dia, isto é, aproveita-o, goza-o... mas como?, se todos nos carpimos do tempo, da crise, de tudo... [quer dizer, colhemos, realmente, mas arrancando, desfiando os problemas que vão surgindo dia após dia...] O positivo e o negativo, as duas faces de uma mesma moeda...

O Juno Moneta!

O tempora, o mores!

E apetece exclamar como Cícero: quousque tandem... abutere patientia nostra?

É a democracia [do grego demokratia, demos + kratos, isto é, o governo do povo...]

Na verdade, como fica demonstrado, estudar latim e grego para quê?

Gaudeamus igitur!...

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