O alemão que preferiu Espanha

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Bernd Schuster era um centrocampista calado que, ao longo de toda a carreira, e apesar de conseguir pôr uma equipa inteira a jogar futebol com os seus passes e capacidade de liderança, se incompatibilizou com colegas, presidentes e treinadores. Schuster estava ao lado de Maradona, quando o argentino, durante uma discussão com o presidente do Barcelona, José Luis Nuñez, partiu um troféu do torneio Teresa Herrera. Em seguida, Maradona agarrou numa Taça do Rei e ameaçou desfazê-a contra a parede.

Hoje, Bernd Schuster, o novo treinador do Real Madrid, fala mais - dispondo de uma ironia e um sentido de humor que costumam rarear nas conferências de imprensa futebolísticas -, e incompatibiliza-se menos com quem trabalha. Quando lhe perguntaram sobre o estado físico de um dos seus jogadores, no Getafe, o alemão respondeu: "Mudou muito desde que está com Nuria Bermúdez (um convidada habitual dos programas de coração da TV espanhola). Já aparece de barba feita e penteado. Antes, quando o via nos treinos, chegava a pensar que tinha dormido debaixo de uma ponte."

Como jogador, Schuster foi campeão da Europa, pela RFA, com 20 anos, no Itália 80. Nesse Verão transferiu-se para o Barcelona onde esteve oito anos. Durante esse período, não jogou duas épocas inteiras - uma por lesão grave, outra por imposição do presidente. Os conflitos repetiam--se no clube e na selecção do seu país. Os problemas com a federação alemã levaram-no a deixar a selecção com apenas 23 anos. Espanha tornou-se a sua casa.

Em 1988, numa transferência tão polémica como seria a de Figo anos mais tarde, assinou pelo Real Madrid, onde, menos conflituoso que em Barcelona, soube integrar-se na chamada "Quinta del Buitre"- o grupo de jogadores formados nas escolas do clube, liderados por Butragueño, que dominaram o futebol em Espanha nos anos 80. Dois anos depois, com 30, mudou-se para o Atlético de Madrid, onde ganharia uma Taça do Rei ao ex-clube, marcando um prodigioso golo de livre na final. Passou ainda pelo Bayer Leverkusen, pelo futebol americano e mexicano.

No ano em que terminou a carreira de jogador, em 1997, iniciou a de treinador, no banco do FC Colónia, da segunda divisão alemã. Treinou o Xerez e pelo Levante. Em 2005 assinou pelo Getafe e chegou a liderar a tabela durante algumas semanas. Na época que agora terminou, o Getafe acabou em nono, o seu futebol foi elogiado, e chegou à final da Taça do Rei, que perdeu para o Sevilha, depois de eliminar o Barcelona nas meias-finais - um exemplo da capacidade de liderança de Schuster. Perdeu em Barcelona (5-2), e antes da segunda mão ouviu as certezas daqueles que já tinham a eliminatória por decidida. Schuster avisou que não - o Barcelona foi goleado (4-0).

Por essa altura, começou a falar--se da sua transferência para o Real Madrid, ainda que Capello fosse o treinador. Foi apresentado na semana passada. Disse que ia reconciliar o Bernabéu com o bom futebol. Mas reconhece o monstro que tem de dominar e que cuspiu fora seis treinadores em cinco anos: "Sei onde me meti e em que clube estou."|

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