Já em miúdo não disfarçava o fascínio pela cozinha. Os amigos iam jogar à bola mas ele trocava tudo por uma tarde a escalar peixe, por causa da curiosidade detectivesca em desvendar o mistério dos sabores. Delirava com as festas, pois eram um pretexto para longas e enciclopédicas estadas na cozinha, onde descascava cebolas e amassava pão enquanto espreitava a feitura das rabanadas. "Sempre quis ser cozinheiro", confessa Pedro, recordando os tempos em que a bisavó materna o levava à lota de Matosinhos, onde se abastecia do peixe que vendia pelas ruas do Porto..Filho de uma enfermeira, cedo se habituou a substituir a mãe na cozinha quando os horários dela a impediam de estar em casa a horas de preparar as refeições, mas na escolha do curso seguiu o caminho do pai, engenheiro, na Efacec..Andava no 3.º ano quando deu livre curso à sua vocação. Apesar de nunca lá ter comido, ganhou coragem, apresentou-se no Bull & Bear e explicou a Miguel Castro Silva que gostava muito que lhe desse a oportunidade de aprender na sua cozinha. O chef achou-lhe graça, mas não havia vaga. Recomendou--o ao chef Hélio Loureiro e prometeu chamá-lo quando tivesse um lugar para ele. Pedro subiu uns dois km na Av. da Boavista e apresentou-se no Porto Palácio, onde lhe facultaram um estágio e não demorou muito até ter à sua responsabilidade bacalhau com broa para 400 pessoas..Quando Castro Silva o chamou, passou a acumular a cozinha mais industrial do hotel com os pratos sofisticados do Bull& Bear. Melhor e mais variada formação não podia ter arranjado. "Deram-me oportunidades porque viram em mim carácter e persistência. Nessa altura, eu não queria dinheiro, mas encontrar um caminho e sentir-me feliz", conta Pedro que, aconselhado por Hélio e Miguel, se inscreveu na Escola de Hotelaria do Estoril..Em Lisboa, foi ao Pestana Palace, fisgado em arranjar nova oportunidade para enriquecer a sua experiência. Receberam-no bem, proporcionaram-lhe um tour à cozinha e às tantas já estava com a faca na mão e os olhos postos nele. Passou a prova. Nesse mesmo dia foi contratado e ao cabo de três semanas já era o responsável pela bancada do peixe..Cresceu como cozinheiro ao lado do chef Aimee Barroyer e estava na maior das felicidades quando ele o chamou e lhe deu cinco minutos para decidir se aceitava o desafio de ir para o Pestana Porto, que não estava a correr bem. Não podia recusar esta hipótese de ganhar os galões de chef, que fez por merecer ao longo dos oito meses que precisou para cumprir a missão que lhe deram..O passo seguinte foi abrir a Quinta da Romaneira, 400 hectares de deslumbrante paisagem do Douro, entre Alijó e o Pinhão, em que por mil euros/dia se compra o luxo dos luxos. Se o Pestana Palace foi o mestrado, a Romaneira, onde os clientes nunca se cruzam uns com os outros, nem repetem cenários e menus de refeição, foi o doutoramento.."Aprendi a ler e a sentir os desejos do cliente, para o poder surpreender com propostas de menu e de mise en scène - por exemplo, um jantar à luz da vela no meio do rio ou de um olival", explica Pedro, que em 2009 achou chegada a hora de cumprir um sonho antigo e, aos 30 anos, abriu, na Foz Velha, um restaurante com o seu nome, onde a preços acessíveis (a refeição média custa 35 euros) disponibiliza a sabedoria acumulada com Castro Silva, Hélio, Barroyer - e a fantástica experiência de ler os desejos dos clientes vivida na Romaneira.