Nuno Ribeiro prometeu que falaria logo que conhecesse o resultado da contra-análise do seu teste de doping positivo. E assim fez: ontem à tarde, o vencedor da Volta a Portugal afirmou que não sabia o que tomava, que cumpriu apenas as ordens do médico e que está disponível para colaborar com as autoridades. A sua defesa será pro-activa, ou seja, tomará a iniciativa de contactar a Autoridade Antidopagem de Portugal e quer ajudar a mudar a mentalidade do ciclismo.."Espero que as coisas fiquem esclarecidas, para começarmos a ter uma ideia de ciclismo diferente, mudar a modalidade. Quero que as pessoas que gostam de ciclismo vejam que temos de mudar", disse Nuno Ribeiro, que vai lutar para uma "revolução no ciclismo". Um motivo para "colaborar com todos, com a justiça, com as pessoas que estão encarregues deste processo, com a Federação Portuguesa de Ciclismo": "Ainda não pensei muito nisso, mas estou disposto a ajudar na luta contra o doping, mostrar aos jovens a minha situação, para que não se repita.".Quando ao que levou ao seu teste positivo, por detecção de CERA (eritropoietina de acção prolongada), o ciclista vincou que só cumpriu o que lhe disseram para fazer, pois confiava nos dirigentes e médicos da equipa patrocinada pela Liberty Seguros.."Estava na equipa há três anos, com o mesmo médico, passámos muitos controlos e não tinha havido problemas. Se eu confiava no médico, porque estaria ali a contestar o que o médico me dava?", questionou Nuno Ribeiro, esclarecendo que lhe era dado um preparado injectável na altura pelo médico e que ele não conseguia saber se eram vitaminas ou dopantes..Ribeiro também respondeu de forma clara sobre o que lhe aconteceria se soubesse o que lhe estavam a administrar e recusasse: "Como todos os empregados de uma instituição, se o patrão mandar fazer algo, o que pode acontecer se questionarem? Podem apanhar um castigo, não ir para aquele trabalho e ir para outro. Se calhar ficaria fora [da edição deste ano da Volta a Portugal]. Éramos uma equipa de 14 ciclistas e se eu ficasse de fora o Américo [Silva, director desportivo] nunca me diria porquê ou que era uma questão técnica. O que poderia ia eu dizer publicamente?".Ribeiro reafirma desconhecimento do que lhe fora dado.Na conferência de imprensa, o ciclista português, que até agora só falou uma vez com Américo Silva, reafirmou vários pontos que já dissera numa entrevista ao jornal 'O Jogo', dada logo que na terça-feira foi conhecido o resultado da contra-análise..“Tomei aquilo que o responsável médico da equipa me deu. Não sabia o que era. (...) Só aquando da notificação soube que substância era. Até esse momento sempre confiei que aquilo que me davam eram recuperantes”, afirmou o ciclista, nessa entrevista..De acordo com o corredor, “no ciclismo é normal receber injecções”, pois “as vitaminas são injectáveis”: “Tomam-se injecções sem saber do que se trata. Se estamos dentro de uma equipa temos de confiar nas pessoas que connosco trabalham diariamente. E partir do princípio que o que fazem é para nosso bem. Não me competia questionar ou duvidar, até porque não havia motivos para isso.”.O ciclista português garantiu, àquele diário desportivo, que nunca questionou o que lhe era dado. “Confiar valeu-me a maior decepção da minha vida”, lamentou. “Era um ciclista profissional e limitava-me a cumprir o que me pediam. Hoje eram 150 km, amanhã 200... Vivia para o ciclismo e cumpria tudo à risca”, explicou Nuno Ribeiro, que “só obedecia a quem tinha de obedecer, em termos desportivos ao treinador”: “Na parte médica, face ao interesse na minha condição física e à forma como reagia em prova, nada me levava a duvidar”..De acordo com o corredor, “cada ciclista tinham um plano de preparação diferente, tanto no treino como na medicação/recuperação, atendendo às características físicas ou às provas”: “O encontro com o médico era individualizado e como tal não sabia em concreto o que se passava com os outros. Só alguns aspectos eram conhecidos , por conversarmos, mas não tudo”..A direcção desportiva da equipa estava sob alçada de Américo Silva e as questões médicas pelo colombiano Alberto Beltrán (oficialmente por um outro médico, pois os regulamentos da Federação Portuguesa de Ciclismo obrigam a que estejam inscritos na Ordem dos Médicos de Portugal)..Ao jornal ‘O Jogo’, o português disse considerar que não ganhou a Volta a Portugal graças à dopagem: “Ganhei porque fui mais forte, competi de igual para igual. O doping não me fez ganhar. Pelo contrário, tirou-me a vitória. Este ano estava bem, apostado em chegar ao primeiro lugar, e se o consegui não foi devido ao doping.”.Ribeiro, Nozal e Guerra.Foram três os ciclistas da Liberty Seguros a registar positivos por dopagem com CERA, eritropoietina (EPO) de acção prolongada: Ribeiro e os espanhóis Isidro Nozal e Hector Guerra, que não chegaram a pedir a realização de contra-análises, ao contrário de Nuno Ribeiro..A CERA foi detectada pelos laboratórios antidoping de paris e Lausana, na sequência de uma acção de controlo pré-competição realizada pela Autoridade Antidopagem de Portugal, sob mandato da União Ciclista Internacional (UCI)..Os corredores foram suspensos provisoriamente pela UCI (os processos disciplinares serão conduzidos pelas federações portuguesa e espanhola) e a equipa profissional da União Ciclista da Charneca foi extinta após a Liberty Seguros ter acabado com o patrocínio.