Há 10 310 bolseiros financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT): entre bolsas de doutoramento, mestrado e investigação, a Fundação gastou no último ano mais de 146 milhões - nunca tinha gastado tanto ou tido tantos bolseiros antes. Tal como nas faculdades, as mulheres já são a maioria dos bolseiros. A maior parte tem entre 25 e os 35 anos, embora a percentagem daqueles com mais de 35 tenha vindo a crescer..É o caso de André Levy. Aos 37 anos, é bolseiro há nove e vai na segunda bolsa de pós-doutoramento. Quando se candidatou à segunda, já estava bem esclarecido sobre os problemas do sistema, nomeadamente a precariedade, mas foi a única forma de dar continuidade ao seu trabalho na área da biologia evolutiva e de ficar na mesma instituição, conta. Considera, no entanto, que os casos mais graves são os dos colegas que não têm o doutoramento e recebem bolsas de investigação a rondar os 745 euros, metade da sua..É que muitas vezes as bolsas são a única saída para quem quer fazer investigação em Portugal, e depois de entrar no sistema é complicado sair, já que o mercado de emprego científico é muito pequeno, indica Luísa Mota, presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC). .A bióloga de 34 anos, bolseira há nove, está entre os que recebem 745 euros por mês. "Se é uma situação boa para um recém-licenciado que não encontra saídas, passados dez anos já não é admissível. Não estamos a falar de jovens de 22 anos, estamos a falar de adultos em precariedade total", realça. Isto porque os bolseiros não têm acesso à Segurança Social mas sim a um seguro social voluntário, explica. O que significa que não têm direito ao subsídio de desemprego, nem de férias e ao 13.º mês..Por isso, apesar de ver com bons olhos este aumento de bolsas, alerta para a necessidade de investir na criação de emprego científico de forma a não criar bolseiros crónicos. Sobretudo porque há muitos a "assegurar necessidades permanentes das instituições porque são baratos e descartáveis". Além disso, alerta para o facto de ninguém saber ao certo o número total de bolseiros, já que, além dos financiados directamente pela FCT, há muitos que são contratados directamente por Projectos de Investigação e não entram nesta contabilidade..Nos últimos anos, o principal investimento da FCT tem sido nas bolsas de doutoramento - estas correspondem a 76% do total, seguidas das de pós-doutoramento (18%). João Sentieiro, presidente da FCT, justifica a aposta dizendo que são estes apoios que contribuem para o desenvolvimento da "investigação científica tal como é entendido internacionalmente". Ainda há algumas bolsas de mestrado, mas correspondem "a subsídios de tese" mais antigos, já que actualmente são financiadas apenas bolsas relativas a projectos muito específicos, como o concurso para luso-venezuelanos, explica João Sentieiro. Quanto às bolsas de investigação, a FCT só é responsável por 95..Para Ramôa Ribeiro, que liderou a FCT de 2002 a 2005, o rumo actual faz sentido num país em que o número de doutorados continua abaixo da média europeia. "Só em meados dos anos 90 começou a haver doutorados suficientes para abrir programas de pós- -doutoramento", lembra. Uma evolução visível nas candidaturas a bolsas de pós-doutoramento: há dez anos havia 309 candidaturas e em 2009 houve 1139..Para Ramôa Ribeiro, é uma pena que existam poucas bolsas de doutoramento em empresas: apenas 124. "É um número muito baixo e desmotivador, porque é uma iniciativa fundamental para integrar os doutorados no mercado de trabalho", conclui, acrescentando que as bolsas são uma "situação intermédia, não o futuro".