O poder dos 'noves'. Do monarca português que encerrou a primeira dinastia ao presidente dos EUA que menos tempo esteve em exercício, passando pelo papa que instituiu a figura dos padrinhos de baptismo, sem esquecer o imperador chinês que revoltou os príncipes feudais ou o faraó egípcio de nome duvidoso.Diz-se que Deus não dá tudo nem tira tudo. No caso de D. Fernando I (1345, Lisboa - 1383, Lisboa), nono rei de Portugal, a premissa torna-se clara quando tomamos conhecimento dos seus dois cognomes: primeiro foi o Formoso, ou o Belo, em virtude dos seus predicados físicos; depois veio também a ser o Inconsciente, ou o Inconstante, por obra de uma lastimosa política externa que levou a três guerras com Castela e não esteve longe de deixar o trono, após a sua morte, voar para domínio estrangeiro..Filho de D. Pedro I e da rainha D. Constança, aquele que se consagrou como último rei da primeira dinastia chegou à coroa com 22 anos, quando em Castela ela era disputada entre D. Pedro, filho ilegítimo de D. Afonso X, e Henrique de Trastâmara, um de vários bastardos do falecido rei, D. Pedro I de Castela, com D. Leonor de Gusmão. Bisneto de D. Sancho IV de Castela, por via feminina, D. Fernando quebrou a neutralidade e, estimulado pela rivalidade comercial e marítima entre Lisboa e Sevilha, quis tomar parte nesse episódio peninsular..Não teve, porém, sorte com Henrique II, declarado rei após o assassinato de D. Pedro. As guerras em que se envolveu custaram a Portugal três derrotas e outros tantos tratados de paz com cláusulas de vencido, o primeiro dos quais, em 1371, fruto da intervenção do papa Gregório XI, implicou a promessa de D. Fernando a D. Leonor de Castela, uma das filhas de Henrique II - que o rei português, contudo, desfeiteou, casando-se com D. Leonor Teles, por quem, entretanto, se apaixonara..Nos períodos de paz, D. Fernando dedica-se à administração do reino. E se, em termos de política externa, a sua folha de serviços ganhava mancha sobre mancha, a nível interno o rei somava pontos nos mais diversos capítulos, destacando-se do global da sua acção medidas de fomento como reparações de vários castelos e construção de outros, a edificação de novas muralhas em volta de Lisboa e do Porto, a criação do cargo de condestável, o desenvolvimento da marinha, o alargamento das relações mercantis com o estrangeiro, renovações de armamento, o impulso efectivo dado à Universidade (transferida para Lisboa) e, com o propósito de desenvolver a agricultura, a promulgação da Lei das Sesmarias, ao abrigo da qual se impedia o pousio nas terras passíveis de aproveitamento e se procurava aumentar a mão de obra naquele sector. E mais iniciativas haveria a citar testemunhando a sua notável capacidade administrativa..A morte de D. Fernando, em 1383, coincide com o términus da Dinastia de Borgonha (Afonsina). Um ano antes, após a fim da guerra com Castela, conjectura-se o casamento entre a sua única filha legítima, D. Beatriz de Portugal, e o rei D. João I de Castela, mas, significando isso a anexação de Portugal, D. Leonor Teles assume a regência em nome da filha. A crise de 1383-85 marcou a transição para a Dinastia de Aviz.|