No mundo dos homens

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Em 15 anos de carreira e mais do dobro de vida, nunca me senti discriminada por ser mulher. Nunca fui preterida no trabalho, impedida de chegar onde quer que fosse, olhada de lado. Sei, no entanto, que o meu caso não é sequer comum. É esta a triste realidade: a maioria das mulheres no mundo ocidental - e há tanto caminho que falta fazer no resto do planeta... - não são tão valorizadas quanto os seus colegas homens. Nunca defendi sistemas artificiais para impor o que me parece natural, que homens e mulheres, sendo diferentes, são igualmente capazes de desempenhar as mesmas tarefas. O que faz a diferença será o feitio de cada pessoa, as competências, as ambições, as capacidades; mas nunca é o género que determina uma maior ou menor aptidão para o que quer que seja. Há, porém, demasiados homens que acreditam genuinamente que merecem mais, invocando razões como a maternidade para justificar o inconcebível: que a capacidade de trabalho e a competência não pesem de igual forma para ambos sexos. Ainda assim, o que nunca esperei, em pleno ano de 2017, foi saber que há eurodeputados sem vergonha de afirmar em pleno Parlamento que as mulheres "devem ganhar menos porque são mais fracas e menos inteligentes". E descobrir que esta nem sequer foi a primeira vez que se lhe ouviram semelhantes pérolas - e as restantes ocasiões mereceram simples multas. Não se pense que é caso único. Janusz Korwin-Mikke pode tê-lo dito às claras, mas outros pensam como ele. A atriz Jessica Chastain, por exemplo, revelou ontem que um realizador a aconselhou a não falar tanto sobre igualdade de género porque isso prejudicava a sua carreira. E mesmo aqui, que não o ouvimos, é flagrante que há muito quem pense da mesma forma. Basta olhar para a composição das administrações ou para as folhas salariais das empresas para perceber que em Portugal há discriminação de género. E, mesmo enquanto o governo impõe quotas para reverter essa desigualdade, o banco do Estado cria uma administração de 16 elementos em que inclui apenas uma mulher. É difícil de acreditar que não houvesse outras igualmente capazes. Só se entende que isto aconteça numa sociedade que se quer dizer igualitária mas permanece essencialmente machista.

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