O Governo do PS está dividido quanto ao próximo líder do PS. Há quem apoie Pedro Nuno Santos, há quem apoie José Luís Carneiro e há quem não apoie ninguém, ou porque não quer ou porque não tem que (os ministros sem filiação partidária). A contabilidade para já feita indica que o candidato com mais apoios é justamente o ex-ministro Pedro Nuno Santos. E quanto ao outro candidato, José Luís Carneiro - que ainda é ministro, no caso da Administração Interna - só um outro seu colega do Conselho de Ministros lhe declarou apoio, Fernando Medina..Dito de outra forma: dentro do elenco ministerial, o ex-ministro (Pedro Nuno) tem bastantes mais votos do que o atual ministro (Carneiro). Dos 11 membros do Conselho de Ministros (António Costa incluído) que são militantes do PS, e que portanto poderão ter direito a voto nas eleições internas no partido marcadas para 15 e 16 de Dezembro, quatro já podem claramente ser assinalados como apoiantes de Pedro Nuno Santos: Manuel Pizarro (Saúde), Duarte Cordeiro (Ambiente), Marina Gonçalves (Habitação) e João Costa (Educação). Cinco não se pronunciaram (Costa, Mariana Vieira da Silva, Ana Catarina Mendes, Ana Mendes Godinho e Maria do Céu Antunes) e só dois são do "team Carneiro": o próprio candidato e Medina. Os restantes sete ministros não são militantes do PS - estão assim isentos da necessidade de se pronunciarem..A grande incógnita.Na verdade, o grande mistério está no grupo que forma o chamado "núcleo duro" mais próximo do primeiro-ministro..António Costa, note-se, disse desde logo o início que não se pronunciará nunca sobre qual é o seu candidato favorito, dado manter-se na liderança do partido até ser substituído..Mas esse dever de equidistância não se impõe aos restantes membros do tal "núcleo duro". Este é composto pelas ministras Mariana Vieira da Silva (Presidência) e Ana Catarina Mendes (Assuntos Parlamentares), pelos ministros das Finanças (Fernando Medina) e da Cultura (Pedro Adão e Silva) e ainda pela secretário de Estado adjunto do PM, António Mendonça Mendes, irmão de Ana Catarina Mendes..Neste pequeno coletivo que mais proximamente coadjuva Costa na coordenação diária da governação, o único que já se pronunciou (a favor de Carneiro) foi, como já vimos, o ministro das Finanças, Fernando Medina..Os restantes têm-se mantido em silêncio - e é verdade que Pedro Adão e Silva, sendo ex-militante do PS, não tem de o fazer, parecendo mesmo que se está a preparar para regressar ao ensino universitário, no ISCTE..Assim, os mistérios são três: Mariana Vieira da Silva e os irmão Mendes (Ana Catarina e António Mendonça)..Dentro das fontes do PS ouvidas pelo DN ninguém arrisca prognósticos - e os próprios não abrem o jogo..Ideologicamente, Mariana Vieira da Silva poderia estar mais próxima de Pedro Nuno Santos. Mas provavelmente o prioritário mesmo, no seu entender, é tratar da governação e, eventualmente, começar a preparar também um regresso à vida profissional (é formada em Sociologia pelo ISCTE e foi ali investigadora). Além do mais não tem peso no aparelho do partido - que de resto nunca procurou ter..O caso dos irmãos Mendes é diferente. Para já, sempre se movimentaram em bloco. E depois têm peso no aparelho partidário, por via da distrital de Setúbal, uma das quatro mais importantes do partido (as outras são Lisboa, Porto e Braga). António Mendonça Mendes lidera a federação do partido. E Ana Catarina Mendes foi nas últimas legislativas (e em legislativas anteriores) cabeça de lista pelo distrito..O que os levará a cair para um lado ou para o outro não se conhece. Sabe-se porém que Ana Catarina Mendes já várias vezes foi referida como provável cabeça de lista do PS nas próximas eleições europeias (maio/junho de 2024). Até que ponto isso condiciona as suas opções atuais é o que permanece por saber..As outras incógnitas são Ana Mendes Godinho (Trabalho e Segurança Social) e Maria do Céu Antunes (Agricultura). As "redes" internas de ambas dentro do PS indicam que poderão estar mais próximas de José Luís Carneiro do que de Pedro Nuno Santos. Mas nem um nem outra abriram o jogo..Adrião volta a avançar.Ontem dirigente socialista Daniel Adrião afirmou à Lusa que vai voltar a concorrer ao cargo de secretário-geral do PS, alegando que a sua sensibilidade interna não se revê em nenhum dos candidatos já no terreno. "Não queria candidatar-me desta vez a secretário-geral do PS e esperei até hoje que surgisse uma candidatura que representasse um virar de página no partido. Mas isso não aconteceu e só apareceram dois candidatos de continuidade para um ciclo político novo", declarou..Adrião há muito que dirige um grupo minoritário no PS e já se candidatou à liderança do partido. Tem uma representação de 12% na Comissão Nacional (CN) do PS (órgão máximo entre congressos) e 15% na Comissão Política Nacional (um "parlamento" interno um pouco mais restrito)..Nas declarações à Lusa, fez também uma referência às causas da demissão de António Costa e que conduziu à decisão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de convocar eleições legislativas antecipadas para 10 de março. "Passei estes anos todos a alertar para más práticas que culminaram na situação em que atualmente nos encontramos. Se me tivessem dado ouvidos...", comentou. Além de defender uma profunda reforma do sistema eleitoral, Adrião advoga uma separação entre as funções de secretário-geral do PS e as de candidato a primeiro-ministro..Hoje reunirá a Comissão Nacional do PS. O congresso que irá consagrar o novo líder foi marcado para 6 e 7 de janeiro..joao.p.henriques@dn.pt