Neonazis e extrema-direita Os telhados de vidro do Kremlin

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O argumento usado pelo Kremlin para a invasão da Ucrânia foi a desnazificação do país. É verdade que a Ucrânia tem alguns sinais da presença de partidos da extrema-direita. É o caso da União Pan-Ucraniana "Liberdade", também conhecida por Svoboda. Mas a extrema-direita nas eleições de 2019 obteve apenas 2% dos votos, muito baixo dos valores nalguns países da Europa. Depois há o já célebre Batalhão Azov, tão odiado por Moscovo. Pois bem, não parece razoável invadir um país soberano por causa do desenho da sua composição partidária, ou devido a um batalhão tido como nazi com cerca de mil e quinhentos elementos, aliás todos eles, hoje, prisioneiros de guerra da Rússia.

Bom, e então e o que se passa com o Kremlin no que respeita a neonazis e extrema-direita?

Fixem estes nomes: "Moving together", "Nashi" "Ours" "Young Russia","Russky Obraz", "Born"", "Liga Imperial Russa" , "Rusich" e claro a já conhecida "Wagner".

O que têm de comum todas estas organizações? Pois bem, todas elas, de algum modo, em diferentes momentos, estão marcadas pelo neonazismo, pela extrema-direita, pelo racismo, pela violência contra os movimentos democráticos e liberais.

A "Moving Together" começou por ser uma organização de juventude de extrema- direita criada para combater a literatura modernista. Putin aproveitou a embalagem desta organização e conferiu-lhe objectivos mais ambiciosos no combate aos movimentos democráticos. Com base na "Moving Together" surgiram dois novos grupos, a "Nashi" e a "Ours", que passaram a integrar neonazis ligados às claques de futebol. No ano de 2005, estas duas organizações desencadearam ataques ferozes contra grupos de jovens opositores a Putin, em que resultaram vários feridos.

Mais tarde, a "Nashi e a "Ours", conectaram-se com uma nova organização, a "Young Russia" também ela de perfil neonazi e com ligações ao Kremlin.

No ano de 2008 e 2009 o conhecido oposicionista Alexei Navalny deitou mãos à obra na construção de uma coligação democrática destinada a retirar Putin do poder. Em reposta a esta iniciativa, Putin criou uma outra organização, a "Russia Obraz" ou RO, um grupo de inspiração neonazi, detentor de um jornal e de uma banda de música chamada Kolovrat. Sob a batuta do Kremlin a RO atacou cidadãos russos independentes que estavam a começar a engrossar as fileiras da coligação de Navalny.
A RO, liderada por ILya Goryachev, foi responsável por inúmeros crimes racistas cometidos na segunda metade do ano de 2000.

Mais tarde, no ano de 2007, surgiu no horizonte uma nova entidade política de cariz nazi, a Born, liderada por Nikita Tikhonov. Este grupo articulado com o Kremlin, desencadeou em 2007 vários crimes contra figuras públicas e militantes antifascistas. A jornalista Anastazia Bubarova, e o advogado dos Direitos Humanos, Stalisnav Markelov, foram assassinados por elementos da Born, no cumprimento de uma "encomenda" com a assinatura do Kremlin.

A Liga Imperial Russa é um outro movimento de extrema-direita, que defende a supremacia branca. Nasceu em 2002, em São Petersburgo, e é apologista do regresso à Rússia czarista. Liderada por Stalisnav Vorodiev, um veterano das Forças Russas de Estratégia de Mísseis, é bem conhecida no leste da Ucrânia. De facto, entre Junho de 2014 e Janeiro de 2016, a Liga Imperial Russa treinou paramilitares que viriam a combater ao lado dos separatistas russos, no Donbass. O seu objectivo era, naturalmente, desestabilizar o governo de Kiev e ocupar as regiões do Donbass de etnia russa.

Finalmente o grupo Rusich, com ligações aos mercenários da Wagner, é uma estrutura paramilitar de extrema-direita com curriculum também no leste da Ucrânia. Recentemente a revista alemã Der Spiegel, noticiou a presença de elementos deste grupo no Donbass a combater junto do exército russo.
Em resumo, e feitas as contas, oito organizações que, de alguma maneira, estão marcadas com o ferrete do nazismo ou da extrema-direita. Ora digam lá se não enormes os telhados de vidro do Kremlin no que respeita a ligações com grupos neonazis e de extrema-direita!


Jornalista

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