Presumimos que não esteja arrependido de ter aceite o convite do Sporting para treinar a sua equipa feminina... Foi sem dúvida uma boa escolha. Depois de ter sido selecionador nacional e de ter treinado clubes disse que só voltaria ao futebol feminino integrado num projeto que tivesse o objetivo de ser um dos melhores oito clubes da Europa. Tinha feito a previsão de que só se um clube grande apostasse no futebol feminino é que iria regressar. Percebi que não se iria construir a casa pelo telhado, ou seja, para além da equipa sénior, havia a intenção de construir equipas nos escalões de formação.. Foi-lhe exigido o título no início da época? É curioso que ninguém me pediu nada, mas quem está num clube como o Sporting tem de pensar sempre alto. À terceira jornada tivemos um percalço, empatando com o Albergaria, e sabíamos que estávamos proibidos de voltar a ter outro desaire, pois rapidamente se percebeu que o campeonato iria resumir-se a uma luta entre nós, o Sp. Braga e eventualmente outro clube, que entretanto nos pudesse ganhar. O jogo em Alvalade com o Sp. Braga [as duas equipas estavam em igualdade pontual, mas com vantagem na diferença de golos para as minhotas] iria ser crucial e quem saísse na frente estaria numa posição muito vantajosa, a oito jornadas do fim. Ganhámos e felizmente a equipa manteve a mesma disponibilidade mental e atingimos o objetivo fundamental a uma jornada do fim.. Esta época revelou várias jovens jogadoras do Sporting. Quer destacar alguém? A média de idades do nosso plantel é de 21,8 anos! Houve jogadoras que cresceram muito. Mesmo não gostando de fazer destaques individuais, posso referir a Bruna Costa, defesa central de 17 anos que conseguiu impor-se. Penso que irá ser uma futura central na seleção principal. Quanto a jogadoras mais velhas, posso destacar a Solange Carvalhas, que é a nossa melhor marcadora, a Ana Borges, que veio do Chelsea em janeiro mas a tempo de ser uma das atletas com mais assistências no Campeonato Nacional, a Diana Silva, a Patrícia Morais, a Fátima, a Tatiana, a Joana Marchão... Enfim, todas elas, não é fácil estar a fazer destaques individuais.. Como é o seu relacionamento com Bruno de Carvalho? Não falamos diariamente, mas sempre que é necessário ele está presente. No dia em que fui à SAD para assinar o meu contrato, o presidente do Sporting estava no corredor, ao telefone. Entretanto, chegou o senhor Virgílio, o diretor do futebol feminino, começámos a falar e eu aproveitei para me apresentar ao presidente do Sporting. Quando lhe disse que era o Nuno Cristóvão, ele respondeu "Ah, o nosso treinador da equipa feminina". Ou seja, nunca nos tínhamos cruzado e já ele sabia quem eu era, o que diz muito da forma como ele vive o clube. O presidente teve um momento muito importante, no dia da apresentação da equipa sénior, com uma intervenção muito boa junto das jogadoras no que concerne ao significado do que é representar o Sporting. Teve ainda outro momento marcante, que foi querer estar no jogo com o Sp. Braga e perguntou-me se eu via algum inconveniente em que ele estivesse no banco dos suplentes. Tive muita pena que ele não tivesse podido descer ao relvado no último jogo, para festejar connosco [devido ao castigo aplicado pelo Conselho de Disciplina], mas as jogadoras decidiram ir, lá acima à bancada, ter com ele.. Já afirmou que quer que o Sporting esteja nos oito melhores clubes da Europa. Isso irá obrigar a um investimento de monta? Não estou muito a par dos investimentos necessários, mas obviamente que se queremos ter jogadoras de mais qualidade teremos de gastar mais dinheiro. Mas não iremos fazer uma revolução! O profissionalismo será obrigatório se o Sporting se quiser bater com as melhores da Europa? O nosso plantel só tem quatro jogadoras profissionais, mas posso dizer que tivemos condições de equipa profissional, com exceção do horário de treino. Na próxima época não podemos continuar a treinar às 20.30! Sessões tão tardias impedem-nos de ter um treino na véspera dos jogos, pois saímos muito tarde da Academia e no dia seguinte saímos muitas vezes para o norte. Haverá condições financeiras para lá chegar? Passo a passo iremos vendo.... Gosta de ser treinador de equipas femininas ou sente saudades do futebol masculino? Quais as grandes diferenças entre estes dois mundos? A minha paixão é o futebol e tenho 34 anos de treinador, a maior parte no futebol masculino de formação. Os conteúdos e as questões do ponto de vista técnico e táticos são as mesmas, mas existem diferenças, principalmente a nível mental e fisiológico. E os treinadores que não tiverem em conta essas diferenças vão enfrentar problemas no seu relacionamento com as jogadoras. As mulheres são muito mais curiosas e precisam de saber porque "é feito assim e não assado". Como analisa a evolução do futebol feminino em Portugal nos últimos tempos? Existe muito mais apoio hoje em dia por parte da estrutura federativa, se compararmos com o ano 2000, quando eu era selecionador. Na altura, eu saí da seleção nacional por sentir que estava completamente isolado... agora existe uma visibilidade muito maior e claro que o aparecimento de grandes clubes ajudou. Por outro lado, há muito mais praticantes, mas tenho dúvidas se o nível do futebol aumentou.... Quando começarão os trabalhos na próxima temporada? Vamos regressar ao trabalho a 10 de julho e teremos seis semanas para preparar a fase de pré-qualificação da Liga dos Campeões. Propus ao Sporting que ponderasse candidatar-se à organização dessa fase [quatro clubes que jogam entre si todos contra todos, numa semana] e penso que o assunto está a ser estudado por quem de direito.