Carregar o peso de deixar o marido para trás e levar pela mão os filhos pequenos, a caminho de um país que acolha os refugiados da Ucrânia, é a maior prova de fogo a que milhares de mulheres europeias estão sujeitas a 8 de março, data em que se assinala o Dia Internacional da Mulher. O mesmo já aconteceu na Síria, no Afeganistão. Desta vez toca-nos mais perto. É no Velho Continente, que parece ter esquecido as feridas profundas da Segunda Guerra Mundial, que eclodiu o conflito que dilacera as famílias..Hoje, à força das mulheres refugiadas junta-se a coragem de outras mulheres, como a idosa russa Yelena Osipova, que sobreviveu ao cerco de Leningrado pelos nazis, mas, há poucos dias, foi presa pelas forças de Putin porque se manifestou em São Petersburgo contra a invasão da Ucrânia. Junta-se também a resiliência das mulheres ucranianas que, ainda na sua terra natal, costuram redes de camuflados e enchem cocktails molotov ou de outras raparigas que se alistaram no exército de Zelensky. Um pouco por toda a Europa, outras mulheres reúnem as suas vozes em manifestações antiguerra e em ações de voluntariado que podem ajudar a minorar a dor provocada pelo conflito. Todas têm o seu valor, todas fazem falta ao país e ao mundo..Noutro patamar, temos Ursula von der Leyen, a mulher que lidera a Europa. Também a presidente da Comissão Europeia precisa de encher o peito e de respirar coragem para que, sentada na sua cadeira em Bruxelas, possa receber o pedido de adesão da Ucrânia à União Europeia e aceitá-lo e, ao mesmo tempo, engolir alguns sapos, desde o machismo do seu inenarrável colega Charles Michel (presidente do Conselho Europeu) até ao belicismo de Vladimir Putin que ameaça a Europa..Cada mulher à sua escala, no seu contexto, pode dar o seu contributo para um mundo melhor. Como afirma Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, hoje em entrevista ao Diário de Notícias: "Guardando a consciência de que somos mulheres, deitemos fora tudo o que é, ou que tradicionalmente é, a ideia de que se somos mulheres não fazemos ou não querem que façamos ou não é a nossa área. Não." E reforça: "Utilizemos os instrumentos que existem independentemente de qualquer espécie de juízo, de que tenhamos limitações, em função do facto de sermos mulheres. Todos os setores podem ser explorados, todas as ambições estão ao nosso alcance e julgo que o nosso país precisa muito da nossa participação.".Acreditando na mais-valia que advém de assegurar a diversidade e a igualdade de oportunidades, o Diário de Notícias reúne hoje, numa tertúlia intitulada "Mulheres de Portugal H Desafios para o País", líderes de várias áreas de atividades, homens e mulheres que querem dar o seu contributo para a igualdade de oportunidades, não permitindo que se desperdice talento e potencial de crescimento..Em tempo de guerra não se limpam armas, mas também não se criam divisões. Pelo contrário, devem unir-se as forças femininas e masculinas para vencer o inimigo: a crise, a desigualdade, a discriminação, a pobreza, a guerra.