Mototáxi sustenta centenas de famílias em Luanda mesmo sem licença

Centenas de jovens dedicam-se diariamente ao serviço de mototáxi no centro de Luanda, permitindo aos passageiros, a partir de 500 kwanzas (2,60 euros), escapar às filas de trânsito, mas a atividade é exercida sem qualquer tipo de licença.
Publicado a
Atualizado a

Do centro para outros pontos da cidade, os 'kupapatas', como também são conhecidos estes mototaxistas, garantem rapidez para chegar a qualquer local de Luanda, dependendo apenas do bolso do cliente/passageiro, um serviço onde a boa disposição, aparência e a "documentação em dia" concorrem para atrair mais passageiros.

"É um trabalho bom, estamos a contribuir para o bem da sociedade, sobretudo na ajuda matinal dos funcionários, quando o trânsito nas ruas está intenso", explicou à Lusa o mototaxista David Sebastião.

Com 33 anos, explica que trabalha por conta própria após conseguir comprar a sua motorizada com as poupanças de vários meses.

"O rendimento, depende da dinâmica, mas em média, diariamente varia entre 15.000 e 20.000 kwanzas (78 a 100 euros). O preço inicial são 500 kwanzas e varia em função da distância, podendo chegar mesmo a 3.000 kwanzas (15 euros, uma única viagem)", acrescentou.

David Sebastião revela que também faz preços simbólicos a clientes com menos posses e por vezes até se tornam "fixos", satisfeitos com o serviço prestado.

"O nosso bom comportamento, capacete, o bom visual e a documentação em dia, eles solicitam os nossos terminais telefónicos e para qualquer situação eles telefonam e vamos ao encontro deles", explica.

Sem licença para o exercício da atividade, David Sebastião tem noção da documentação "indispensável" para a circulação da motorizada em Luanda, garantindo ter muitos clientes. Hoje garante que não vive sem a motorizada que garante sustento da família.

"Sem querer mentir, daqui consigo, sim, sustentar a minha família. Eu vivo graças à moto e tudo que eu tenho é graças a esse serviço que presto à sociedade de Luanda, mas com pensamento de que amanhã irei conseguir um emprego fixo", apontou.

Num outro ponto da cidade de Luanda, Edinho Semedo, de 24 anos, espera na rua por clientes, sentado na sua motorizada.

Há quatro anos na atividade e agora por conta própria, este 'kupapata' relatou à Lusa o seu percurso diário, trabalho que considera ser arriscado face à constante fuga ao trânsito congestionado da capital angolana.

"Das 07:00 às 19:00 estamos na via. Há dias que conseguimos fazer entre 7.000 e 8.000 kwanzas (36 a 42 euros), noutros conseguimos fazer 12.000 kwanzas (63 euros), isso também em função de muitos clientes fixos que já temos e que ligam quando precisam", explica.

Aquele mototaxista de Luanda garante que a moto está legalizada, mas continua a exercer a atividade sem licença, admitindo que já são vezes sem contas as "complicações" com a polícia.

"O nosso serviço não é legal, para o Governo Provincial, porque não estamos autorizados a fazer mototáxi. Mas apenas trabalhamos porque precisamos de facto do pouco que sai daqui, porque não temos emprego", referiu.

Edinho Semedo explica que consegue levar para casa, todos os dias, entre 5.000 e 8.000 kwanzas (26 a 42 euros), sendo por isso uma atividade rentável, sobretudo para os jovens sem emprego.

"Graças a Deus é um serviço que está a safar muitos jovens e daqui conseguimos o nosso sustento", assegurou.

Já para Edvánio Agostinho, que trabalha com a motorizada do patrão, o serviço pelas ruas de Luanda rende diariamente até 8.000 kwanzas, mas tem apenas a obrigação de entregar 5.000 kwanzas por dia, ficando com a diferença como rendimento próprio.

Conta que a segunda-feira é o dia mais rentável da semana, "devido à correria de muitos que tentam chegar cedo ao local de serviço".

"Não estamos filiados em nenhuma associação e assim vamos trabalhando. O preço da corrida são 500 kwanzas mas em locais mais distantes o preço varia de 1.000 kwanzas até 7.000 e 8.000 kwanzas", explica.

"Alguns respeitam o nosso trabalho e outros nem por isso, mas enfim depende do humor de cada cliente. Estamos aqui para remediar, porque não dá para ficar em casa. O que vamos comer se não fizermos nada", questionou, antes de novo cliente se sentar no banco traseiro, pronto para mais uma corrida por Luanda.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt