Morreu Mireille Darc, símbolo da comédia do cinema francês

Atriz muito popular nos anos 60/70, Mireille Darc faleceu aos 79 anos: "Fim de Semana", de Godard, é um marco da sua carreira.
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Foi uma das atrizes mais populares no cinema francês das décadas de 60/70: já há muito tempo afetada por problemas cardíacos, Mireille Darc faleceu ontem, em Paris - nascida em Toulon, a 15 de maio de 1938, contava 79 anos.

De seu nome verdadeiro Mireille Aigroz, surge por vezes referida como "rival" de Brigitte Bardot (nascida em 1934). Tê-lo-á sido, mas apenas no contexto francês, já que nunca desfrutou da mesma projeção internacional. Formada com mérito no Conservatório de Toulon, adotou o nome artístico de Mireille Darc por duas razões nostálgicas: recordando o Arc, o "rio da sua infância" que atravessa o departamento de Var, onde nasceu, e como alusão à figura lendária de Joana d"Arc.

Após pequenos papéis mais ou menos discretos, alguns filmes bastaram para lhe conferir um grande reconhecimento junto do público, a começar pelas comédias que rodou com vedetas da época como Louis de Funès (Casamento a Propósito, 1963) e Jean Gabin (Sua Exa. o Mordomo, 1964). Em 1966, em Galia, uma realização de Georges Lautner, assumiu a personagem de uma jovem de costumes particularmente liberais, surgindo com a franja loura que, de alguma maneira, permaneceu como a sua imagem de marca (entre nós, o filme foi lançado como História de uma Rapariga Loira); no cartaz da época, era mesmo identificada como "uma revelação".

A sua popularidade terá levado Jean-Luc Godard a convidá-la para, com Jean Yanne, formar o par central do seu filme Fim de Semana (1967). Garantem as crónicas da época que Godard os convidou por serem os atores franceses que mais... detestava. Uma coisa é certa: ambos tinham um lugar de evidência no cinema combatido pelo realizador e os seus companheiros da Nova Vaga. Além do mais, em crescente conflito com as regras da indústria, Godard criava filmes cada vez mais agrestes, profundamente desencantados com a evolução social e política da França - obviamente não por acaso, Fim de Semana, lançado nos ecrãs franceses nos últimos dias de 1967, entrou para a história simbólica do cinema como um objeto premonitório de Maio 68. Vulnerável e perversa, discreta e brilhante, Mireille Darc acabou por ter o seu mais extraordinário trabalho de interpretação em Fim de Semana: a cena em que narra uma orgia sexual a que foi compelida constitui um dos momentos mais intensos e comoventes de toda a filmografia godardiana.

O maior êxito de Mireille Darc aconteceria em 1972 com O Louro do Sapato Preto, comédia policial em que contracenava com Pierre Richard, sob a direção de Yves Robert. Durante cerca de quinze anos foi a companheira de Alain Delon que conhecera em 1968 na rodagem de Jeff, de Jean Herman; depois, foi casada duas vezes. Na fase final da carreira, dedicou-se sobretudo à realização de reportagens televisivas sobre temas humanitários. Em entrevista ao jornal Libération, em 2015, reconheceu que foi "feliz" no cinema, rematando: "... mas não cresci".

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