Morreu Günter Grass: calou-se o tambor, acabou-se a cebola

Polémico e pessimista, foi dos poucos escritores a reformar-se, esgotadas a energia e as ideias. O Nobel premiou uma obra de expiação e exposição. Mantinha uma forte ligação a Portugal. Günter Grass morreu na segunda-feira, aos 87 anos
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Há quem não consiga dissociar o adeus de Günter Grass às letras que o consagraram do episódio que viveu quatro anos antes da "reforma", em 2007 - a revelação de que, ainda adolescente, se alistara voluntariamente no exército nazi e acabara a prestar serviço nas Waffen-SS, valeu-lhe uma condenação politicamente repartida por quase todos os setores ideológicos alemães, inclusivamente do partido a que sempre pertenceu, o Partido Social-Democrata (SPD).

Coube à edição online da revista Der Spiegel a publicação de três documentos militares norte-americanos que, de alguma forma, desvendavam essa ligação do escritor às tenebrosas SS. Grass defendeu-se com a requisição de que foi alvo, depois de se ter alistado para serviço cívico e de escritório. Garantiu, até, que já tinha em mente assumir esse "segredo", naquele que viria a ser o primeiro de três volumes em que contou a sua própria vida: Descascando a Cebola (ed. Casa das Letras), relativo ao período 1939-1959, apresentou-se como um profundo reconhecimento dos erros de juventude, como um longo ato de exposição.

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