"Quando me apercebi do que estava a acontecer, temi pela vida." Guilherme Maia, 42 anos, ficou "em pânico" quando os telhados "voaram" levados pelas rajadas de vento e a chuva intensa caiu do tecto, deixando a família desalojada. Muitos outros moradores nos lugares do Paço e Póvoa do Paço, fronteira das freguesias de Esgueira e Cacia, Aveiro, saltaram da cama pelas 03.00 de ontem sobressaltados pela passagem do que o povo logo chamou "de minitornado", versão confirmada por climatologistas..Quando o dia amanheceu colocou à vista os "danos consideráveis, mas felizmente sem vítimas", lembrou João Pereira, dos serviços da Protecção Civil Municipal de Aveiro, que estiveram envolvidos juntamente com as duas corporações do concelho nas operações de socorro e limpeza..Numa questão de "poucos minutos", quase duas dezenas de casas ficaram despidas de telhados, algumas árvores de porte caíram e muitos postes de iluminação foram derrubados. Nas ruas, enlameadas, vários carros ficaram danificados. Panorama comum numa extensão de 500 metros.."O que mais me amedrontou foram os fios da electricidade a estoirar e a querer pegar fogo", recordou Margarida Vitória, de 52 anos. Joaquim Junqueiro não conseguia adormecer devido ao vento forte. Depois ouviu "um barulho muito estranho de algo que vinha da ria e levou tudo à frente por onde passava", destruindo, no seu caso, a marquise da residência. .Os relatos de um fenómeno "localizado, intenso e rápido" levaram fonte do Instituto de Meteorologia (IM) a dar crédito à hipótese de tornado, que se caracteriza por surgir na vertical, em funil, e deslocar-se num trajecto em linha. As condições climatéricas por estes dias "têm todos os ingredientes" para este fenómeno..Guilherme Maia e mais quatro irmãos, entre os 38 e os 52 anos, um dos quais ausente durante a noite de temporal, foram os únicos que ficaram sem tecto. Os estragos danificaram de tal forma a casa desta família carenciada que ela só poderá ficar habitável com obras para as quais os inquilinos esperam "apoio"..Segundo o vereador da Protecção Civil, Miguel Fernandes, "para já" os irmãos podem contar com alojamento provisório nas instalações próximas da Fundação Cesda. "Entretanto", a câmara, através dos serviços sociais, "irá procurar forma de dar maior dignidade à casa" onde residem..Mas o mau tempo não deixou famílias desalojadas apenas em Aveiro. No distrito de Viseu, uma trovoada acompanhada de chuvas fortes e granizo provocou ontem à tarde vários acidentes e esteve na origem de um fogo que fez três desalojados. .O granizo e a chuva forte "obrigaram os condutores que circulavam na A25 a parar, o que provocou vários acidentes que não provocaram vítimas", contou o Comando da Protecção Civil de Viseu. No Sátão a "trovoada" terá estado na origem de um fogo que fez três desalojados, disse o adjunto do comandante dos bombeiros. José Carvalho contou que a população "ficou sem energia eléctrica durante uma trovoada". Pouco depois, deflagrava o incêndio, "que os populares atribuem a um raio". O fogo "começou no quarto e provocou danos avultados na habitação", adiantou. A família, um casal com uma filha, foi realojada em casa de familiares..Já em Beja, uma parte do forro do telhado num gabinete de um vereador do edifício dos Paços do Concelho da Câmara Municipal ruiu ontem à tarde sem causar feridos. Mais a sul, a rotura de uma conduta de abastecimento de água provocou a derrocada de uma parede do túnel rodoviário da principal entrada da cidade de Portimão, que ficou a funcionar apenas com um sentido..A chuva que tem caído desde domingo fez accionar o plano de cheias para a bacia do Tejo. No Guadiana foi levantado o estado de alerta. Para hoje prevêem-se períodos de chuva forte, que colocam 11 distritos em alerta laranja.