Altos responsáveis dos dois maiores operadores no mercado, a brasileira e timorense Timor Telecom e a indonésia Telkomcel, que pediram para não serem identificados, explicaram à Lusa que o mercado tem "potencialidades de crescimento"..Contudo, insistem que isso não depende de haver mais concorrência, mas sim de melhorias de serviços, especialmente na ligação por cabo de fibra ótica internacional..Com cerca de 1,2 milhões de habitantes, Timor-Leste tinha, no final do terceiro trimestre do ano passado, mais de 1,5 milhões de linhas de rede móvel -- segundo dados do relatório trimestral de estatística..No entanto, fontes dos dois maiores operadores, Timor Telecom (TT) e Telcomcel, admitem que muitos dos clientes "têm mais que um número" e que muitos dos números não estão ativos, sendo que a estimativa de clientes ativos nas três redes móveis ronda "os 500 mil"..Desse valor só "menos de metade" têm dados ativos na sua rede, com uma fatia "muito significativa" dos que têm dados ligados a utilizarem os telemóveis apenas para consultar e navegar nas redes sociais.."Os dados são caros e muita gente acaba por fazer uso muito limitado da internet", explicou uma das fontes..Dos 1,5 milhões de números móveis que os operadores dão como registados só 250 mil são assinantes da rede móvel 3G ou 4G..Outra questão que continua a pairar sobre o mercado é o futuro da participação que a brasileira Oi detém na maior operadora nacional, a Timor Telecom, com a vontade "de vender" a manter-se, apesar dos solavancos da operação.."A Oi quer vender. A decisão está tomada e a operação está aberta", disse fonte da TT..É neste ambiente que surge a possibilidade de um quarto operador para o setor, liderado pelo consórcio timorense Ceslink, que apresentou em fevereiro ao Governo um plano que prevê um investimento de 21 milhões de dólares (18,5 milhões de euros)..O consórcio nacional, composto pela Ceslink, empresa de tecnologia informática, e o consórcio Oka-D'tel, tem como principal investidor do projeto o empresário timorense Salvador Henrique 'Mauhoka', considerado um dos timorenses mais ricos, com uma fortuna feita do setor da lotaria..Operadores ouvidos pela Lusa mostram dúvidas sobre a capacidade da Ceslink recuperar esse investimento, apontando "um mercado saturado" em que as empresas "estão aflitas porque não geram resultados positivos".."A internet esteve sempre liberalizada. Nunca ninguém lhe pegou isoladamente porque não foi um bom negócio. Os preços de aquisição de internet são altos, os custos de fornecimento são elevados e há sempre problemas com questões como o fornecimento de energia", explicou um responsável da Timor Telecom..Mesmo a Timor Telecom, a operadora com maior êxito no mercado timorense e que beneficiou durante vários anos de um monopólio, admite dificuldades no momento atual, com perdas nas contas de 2017 e de 2018..A funcionar em Timor-Leste desde 2003 a TT é maioritariamente (54,01%) controlada pela sociedade Telecomunicações Públicas de Timor (TPT), onde, por sua vez, a brasileira Oi controla 76% do capital, a que se soma uma participação direta da PT Participações SGPS de 3,05%..Os restantes acionistas da TPT são a Fundação Harii - Sociedade para o Desenvolvimento de Timor-Leste (ligada à diocese de Baucau), que controla 18%, e a Fundação Oriente (6%)..Na TT, em que 35% do capital está em mãos timorenses, o capital está dividido entre a TPT (54,01%), o Estado timorense (20,59%), a empresa com sede em Macau VDT Operator Holdings (17,86%) e o empresário timorense Júlio Alfaro (4,49%)..Além do capital social inicial -- de 4,4 milhões de dólares - nenhum dos acionistas meteu qualquer dinheiro na empresa que nos anos de melhores contas (2209 a 2013), e segundo dados obtidos pela Lusa, distribuiu aos acionistas dividendos de 88 milhões de dólares..Só o Estado, que injetou 900 mil dólares no capital social, obteve benefícios em dividendos de 18 milhões..No último ano de grandes lucros -- 24,7 milhões em 2012 -- a TT acabou por distribuir todos os dividendos, tendo que ir depois endividar-se em 22 milhões de dólares, com a dívida a aumentar até um total de 45 milhões..A empresa -- que entre 2002 e 2018 investiu no país mais de 200 milhões de dólares - regista atualmente uma divida de 19,5 milhões, tendo a haver do Estado como cliente mais de nove milhões, o que deixa uma dívida líquida de dez milhões, segundo dados a que a Lusa teve acesso..Este nível de escrutínio dos números só é possível na Timor Telecom -- que chega a publicar as suas contas na imprensa local..No caso da Telekomcel, a marca é detida pela Telin SA, que não publica as contas, apesar de ser formalmente obrigada a tal, e a vietnamita Telemor é controlada por a empresa Vietel que, por ter sido constituída como unipessoal, nem sequer é obrigada a prestar contas..No mercado há ainda várias empresas que vendem internet que compram a outros fornecedores, sendo que todos acabam por acabam por estar, ainda que indiretamente, a recorrer aos mesmos fornecedores de satélite..A empresa Gardamor, por exemplo, compra a internet a uma empresa revendedora que, por sua vez, a compra à 03B-CES, a mesma empresa que venda acesso por satélite à TT.