Perto de 6% da população portuguesa é sócia de um clube com futebol profissional. A concentração dos associados está nos três grandes, Benfica, Sporting e FC Porto, que abarcam mais de 70% dos sócios pagantes em Portugal. Porém, existe um potencial enorme para que esta percentagem suba, uma vez que dos que se dizem adeptos do futebol apenas 45% afirmam ser sócios de um clube desportivo, segundo um estudo feito pela consultora Deloitte para a Liga de Clubes e que serviu de base de trabalho para a redução dos quadros competitivos. Mas valerá a pena fazer um investimento nesta área face ao escasso - em alguns casos quase nulo - peso das receitas da quotização nos orçamentos da maioria dos clubes? .Com dois anos de uma agressiva política de marketing, o Benfica só conhece vantagens. Foi o clube, quer em Portugal quer no estrangeiro, que mais cresceu no número de associados, tendo passado da barreira dos 90/100 mil sócios registados na época de 2004/05 para os actuais 169 mil. Esta capacidade de mobilização da sua base de apoio, que se deve ao sucesso da iniciativa do kit, fez com que a quotização na Luz se tornasse na segunda maior fonte de receita do clube, logo a seguir à bilhética..No último exercício as verbas provenientes das quotas atingiram os 12,8 milhões de euros (no universo Benfica), uma subida interessante relativamente a 2004/05, que foi de nove milhões. Este ano atinge os 14 milhões de euros. .Sporting e FC Porto, que também contam com uma política de marketing agressiva, estabelecendo parcerias com empresas comerciais, têm nos associados uma fonte de proveitos significativa, na ordem dos seis a sete milhões de euros (metade da verba obtida pelos encarnados)..Mas a importância da quotização no orçamento dos clubes fica praticamente por aqui. Além do Benfica, Sporting e FC Porto, só mais quatro da principal Liga (o Guimarães, na Honra, com 25 mil adeptos, é um caso excepcional) conseguem tirar algum proveito com a sua massa de apoiantes. É o caso de Académica, Braga, Boavista e Belenenses, que têm uma média de 20 a 25 mil sócios, sendo que destes quase metade têm as quotas em atraso. Esta base de apoio resulta numa receita anual na ordem de um milhão de euros. Já para os restantes emblemas, as verbas provenientes da quotização são quase "trocos". Em clubes com a dimensão de um Aves ou da Naval, que contam com dois mil associados e muito dificilmente aumentarão este número, os sócios representam uma receita de 50 mil euros. Para o Beira-Mar não passa dos 250 mil. .Mas o que significa hoje ser sócio de um clube? A paixão tende a dar lugar de forma definitiva ao racionalismo. Os clubes/SAD adulam os sócios para sobreviverem, incentivando-os a consumirem os seus produtos e alimentando uma máquina devoradora de receitas. Vale tudo para seduzir os simpatizantes a serem sócios. Promessas de descontos, ofertas de camisolas na compra de kits e/ou bilhetes para jogos, os sócios são de facto vistos pelos gestores actuais apenas e só como consumidores. . Visitando as lojas dos grandes clubes europeus, há de tudo para o adepto comprar. Em Portugal também assim é. Mas afinal os sócios são os heróis, como os dirigentes os classificam quando mais precisam, ou vítimas, por adquirirem os produtos na convicção de que contribuem para o engrandecimento do clube do seu coração? Talvez eles sejam apenas a alma dos clubes que as SAD exploram.|