Mais forte do que os gritos de alegria à chegada dos homens da GNR, enviados para manter a ordem pública e actuar em situações que exijam o treino de operações especiais, soa o medo das vinganças que na capital têm rastilho curto e não tardam a explodir..Em Campun Alor, mesmo ao lado de uma mesquita que se teme possa vir a ser alvo de ataques (quando, e se, os confrontos passarem a ganhar cariz religioso), uma casa é devastada pelas labaredas provocadas pelo ataque, rápido, de grupos rivais das gentes do bairro. Apenas uma jovem tenta, com uma pequena lata cheia de água, impedir o avanço das chamas, pelas traseiras, a muitas outras habitações que os franceses chamam de bidonville, constituídas que são, na sua maioria, por placas de zinco e pedaços de madeira..O intérprete, Fernão Rocha Vieira, bem tenta extrair do morador da frente a tão preciosa informação que pode ajudar a GNR a traçar o cenário dos confrontos. Pelo menos, naquele local específico. Mas ninguém viu, ninguém sabe de nada, ninguém fala. "Eles sabem, mas não vão dizer", explica Fernão ao capitão Gonçalo Carvalho, comandante operacional da companhia de 120 homens..Medo de represálias.Na rua, perante o olhar de militares australianos que chegaram antes e guardam um jovem numa carrinha de caixa aberta, o chefe de suco (freguesia), emocionado e já entrado no álcool, chora copiosamente. Agostinho da Silva pode ter bebido, talvez para esquecer o desgosto de ver o seu povo cometer (in)justiça pelas próprias mãos, mas não bebeu o suficiente para não perceber o risco de estar a divulgar informações que lhe pode sair caro. "Digo dentro de dias, talvez um mês, mas agora não.".Gonçalo Carvalho não insiste, ainda que tenha tentado passar a mensagem de que a GNR só pode ajudar se for ajudada. Pouco depois, as três viaturas da guarda com 12 homens que uma hora antes iniciaram um reconhecimento da cidade colocam-se de novo em marcha, sob o atento olhar dos jornalistas portugueses.."Por enquanto trata-se apenas de um reconhecimento pela cidade", diz o capitão. As razões por que a GNR ainda não começou as patrulhas, propriamente ditas, são fáceis de perceber. Falta equipamento que só deverá chegar amanhã - se não houver mais atrasos. O que significa que só dentro de dias a GNR avançará protegida por coletes à prova de bala e dentro dos seus veículos equipados para este tipo de missões e não com as carrinhas pick up emprestadas pela Cooperação Portuguesa..Poucos minutos antes, mal tinha percorrido um quilómetro desde que deixara o hotel onde a GNR instalou temporariamente o seu quartel-general, uma freira grita por socorro..No Bairro Económico, uma das muitas zonas pobres de Díli, três viaturas tinham passado antes pelo padre Henriques, com jovens aos gritos de "mata, mata, mata". Rapidamente o sacerdote, que se preparava para ir celebrar missa, procurou abrigo e esperou pela dádiva de uma resposta em tempo útil. .Os militares australianos responderam, os polícias portugueses também. A medo, o padre Henriques meteu-se a caminho acompanhado da irmã Esmeralda..No bairro do Fomento, onde dias antes foi saqueado um dos quatro armazéns do Governo, só um resiste ainda incólume às pilhagens. Susto apanhou o grupo de timorenses que ainda procurava por algo que pudesse carregar, mas o facto de não transportar qualquer objecto livrou-o de uma acção mais enérgica por parte da GNR..A primeira detenção.Com a noite a envolver a cidade e depois de umas voltas mais, que nestes dias servem para passar o recado de que já está operacional e vigilante, os homens da guarda regressaram ao hotel Díli 2001. Que horas mais tarde testemunhava pequenos focos de incêndio nas montanhas a algumas centenas de metros. O fogo, segundo testemunhas oculares, terá sido ateado por pneus a arder lançados do alto da montanha. Dois ficaram pela vegetação a meia encosta e outro atingiu algum do casario, sem consequências de maior dada a rapidez com que foi controlado..Foi, de resto, um confesso incendiário, apanhado ainda com a mão na botija, a primeira detenção da GNR pouco depois de a coluna ter entrado em Díli. Para a força portuguesa é "fundamental" que as acções de detenção voltem a impor respeito na cidade, evitando os confrontos ocorridos na parte da manhã e que obrigaram os soldados australianos a lançar gás lacrimogéneo e a fazer disparos de aviso. * Especial DN/TSF