Mário Crespo, o homem da luta
Quando toda a gente já o dava por acabado, em 2000, vindo de um longo período "na prateleira" na RTP, Mário Crespo foi convidado para ser editor do Internacional na recém-criada SIC Notícias. O autor do convite foi Nuno Santos, então director do canal de informação, hoje director de programas da SIC e o "executivo de televisão" envolvido na mais recente polémica associada ao pivô: uma conversa no restaurante Terraço, do hotel Tivoli, em Lisboa, em que José Sócrates o terá descrito como um problema, perante o silêncio do responsável do canal de Balsemão.
A descrição dos eventos foi contada na crónica O Fim da Linha, que deveria ter sido publicada no Jornal de Notícias (JN), no dia 2 de Fevereiro. O director , José Leite Pereira, considerou que o seu conteúdo exigia que se exercesse o contraditório e o texto não saiu no jornal. Foi publicado na compilação A Última Crónica, da Alêtheia.
"Na altura em que se multiplicam as provas de interferência documental nos grupos de comunicação social, o episódio que jornalisticamente relato ganha uma relevância maior", diz Mário Crespo na introdução do livro. Decidiu fazer queixa à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) de José Sócrates e do JN.
A controvérsia faz parte do seu currículo de quase 38 anos de carreira. Em 1996, outro artigo seu, publicado n' A Capital, valeu-lhe um procedimento disciplinar, pelo conselho de administração da empresa, presidido por Manuela Morgado. Crespo, então correspondente da RTP nos EUA, defendia o encerramento de um canal e o fim da publicidade no canal público. Fez queixa à Comissão de Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República e à Secretaria dos Direitos do Homem, nos EUA.
Pouco tempo depois voltou a Portugal e ficou dois anos "na prateleira". Moveu um processo à RTP, em que reclamava o regresso às funções como jornalista.
Mais tarde, foi suspenso por oito dias, sem remuneração, por declarar à TSF que tinha provas de irregularidades na utilização de dinheiros públicos na RTP e envia documentos para a Procuradoria- -Geral da República. Dizer que o programa Conversas de Mário Soares não devia ir para o ar em plena campanha eleitoral para o Parlamento Europeu contribuiu para que o mal-estar com a estação continuasse.
Na SIC, a polémica foi com Pedro Silva Pereira e o chefe da Casa Civil da Presidência da República. Numa crónica do JN escreveu que o ministro da Presidência lhe tinha telefonado, antes de uma entrevista, a perguntar por onde ia começar. O Freeport era um dos temas sobre a mesa.
Numa crónica do JN pergunta--se: "Porque é que em Portugal, em 2009, Nunes Liberato usa papel oficial da Presidência da República para falar de mim e do meu comportamento editorial à administração de quem me dá emprego?" O pivô tinha afirmado que fontes de Belém estavam a colocar notícias nos jornais sob anonimato, que depois não confirmavam.