Marcelo D2: o rap sambado de um brasileiro de 45 anos

O rapper brasileiro Marcelo D2 está em Portugal para duas atuações, em Lisboa e no Porto, em que vai apresentar o seu novo disco 'Nada Pode Me Parar'.
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Marcelo D2 chegou a Lisboa na segunda-feira e nessa mesma noite, num impulso, entrou na Queen of Hearts, no Bairro Alto, para fazer uma tatuagem. "Tinha acabado de fazer uma tatuagem na Argentina e nunca tinha feito nenhuma em Portugal, como é possível?, eu que gosto tanto de Portugal. Então, tinha aqui um espaço livre no braço e decidi fazer." O rapper brasileiro tem o corpo coberto de tatuagens - de Hendrix a Bezerra da Silva. Mas ainda havia espaço para mais uma águia no estilo "americano tradicional", desenhada por Nicole Lourinho.

Fica assim marcada no corpo do músico mais esta viagem a Portugal para dois concertos - hoje no Teatro Tivoli, em Lisboa ("vai ser o meu primeiro show num teatro com cadeiras", ri-se) e, na sexta-feira, na Queima das Fitas no Porto - integrados na digressão de Nada Pode Me Parar, o disco que lançou no ano passado.

Um disco assumidamente de rap depois de um longo mergulho no samba, que começou devagarinho no seu primeiro disco a solo, Eu Tiro é Onda (1998), onde começou a introduzir a música brasileira no universo do hip hip herdado dos Planet Hemp; passando depois por A Procura da Batida Perfeita (2003), Meu Samba é Assim (2006) e A arte do Barulho (2008); e culminando com o lançamento de Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva (2010).

Agora, com Nada Pode Me Parar, Marcelo D2 regressa às origens. "Já estava cansado de fazer samba. Falei: não aguento mais, quero cantar rap." Este disco é uma homenagem à cultura do hip hop, que começa logo no título, que faz referência a um tema de Thaiti, um dos rappers mais conhecidos do Brasil. "Eu amo essa música mas acabei por não gravá-la, ficou só no título. Ela está dentro de mim, não precisa estar no disco. Está como fio condutor mas não literalmente."

Para fazer este disco, que Marcelo D2 queria que tivesse um lado muito soul, o músico contou com a colaboração preciosa do seu filho, Stephan, também músico, e com participações especiais como as de Aloe Blaac, Joya Bravo, Like (Pac Dive), entre outros. Ao longo de um ano, o músico andou em viagem, escrevendo, gravando e filmando videoclipes em várias cidades. Por exemplo, Danger Zone foi filmado em Los Angeles e Você Diz Que o Amor Não Dói foi feito em Luanda.

Veja o videclipe de Danger Zone:

[youtube:heb7vsVFexo]

e de Você Diz Que o Amor Não Dói:

[youtube:HRGIYenhcO8]

Quando estava em Nova Iorque, para atuar no Central Park, o músico descobriu que ali ao lado ficavam os Electric Lady Studios, onde Jimmi Hendrix gravou, e fez questão de marcar uma hora para gravar lá. Quando o técnico de som comentou que nunca ninguém tinha gravado samba ali, Marcelo D2 não hesitou e gravou Na Veia. "Pensei que nem ia usar esse samba no disco, porque só ia ter rap, mas, no final, não tinha como deixar de fora", explica. Esse samba-intruso é o único do disco.

[youtube:VdjZuNmPx_g]

Mas fazer rap hoje não é como fazer rap há 20 anos. E não é só porque agora há computadores e internet e é muito mais fácil conseguir as bases instrumentais para as canções. "O rap ainda é música de contestação" mas Marcelo D2 já não se dedica a dizer mal do governo nem usa as músicas para pedir a legalização da maconha. "Tenho 45 anos. Posso me vestir como um rapper de 18 anos mas não faço música como um rapper de 18 anos. Não preciso ficar falando de política. Se fizer uma música sobre o amor e sobre a necessidade de cuidar o outro, isso também é intervenção social", defende.

Por exemplo, mesmo sem referir explicitamente as manifestações e os recentes episódios de violência, há um pouco disso tudo em Rio, uma música que fala dos vários bairros do Rio de Janeiro:

[youtube:7m50ar1BBtQ]

"Envelhecer dói no joelho e também dói na cabeça", brinca Marcelo D2. "Mas eu ainda vou para a rua, me manifesto, jogo pedra na polícia, tenho o espírito rebelde", garante. Só que isso não tem de se refletir na música tão literalmente como antes. Um rapper também pode ser romântico e, neste disco, Marcelo D2 tem até um tema dedicado à sua mulher, Feeling Good:

[youtube:ZCnJdxPYKC4]

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