Madeira. Quem é a assistente social que quer quebrar tabus?
Afasta a ideia de ser uma mulher de esquerda e rejeita estereótipos de qualquer natureza. Em declarações ao DN, Mónica Freitas afirma que "ainda há esse preconceito sobre o feminismo, de considerarem que todas aquelas pessoas que se assumem publicamente como feministas são extremistas e radicais. E que extremistas só podem estar em partidos de esquerda. Eu juntei-me ao PAN em 2021, por ser um partido de causas, um partido que nem se enquadra na direita nem na esquerda, mas que tem como objetivo fazer valer os direitos das pessoas", justifica.
No passado domingo, ao obter 2,25% dos votos na eleições regionais da Madeira, que corresponde à escolha de 3046 eleitores, o PAN tornou-se protagonista na opção estratégica para permitir à coligação vencedora, entre o PSD e o CDS, uma estabilidade governativa. PSD e CDS, juntos, elegeram 23 deputados, mas precisavam de 24 para conseguirem a maioria absoluta. Entre os quatro partidos que elegeram, cada um, um único deputado - Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal, CDU (PCP e Partido Ecologista Os Verdes) e PAN -, este último foi o escolhido pela coligação de sociais-democratas e centristas para dar ao futuro Executivo regional as ferramentas necessárias para governar. Dois dias depois das eleições, Mónica Freitas, a única deputada regional eleita pelo PAN, anunciava que iria viabilizar um acordo de incidência parlamentar com o PSD. CDS ficou de fora da decisão de assinar este acordo.
"Foi um acordo pós-eleitoral, como é óbvio. Não estávamos a prever os resultados, não sabíamos o que é que iria acontecer. Na noite de 24 de setembro, as sondagens apontavam para que elegêssemos entre zero a um deputado. Claro que não contávamos, depois, que houvesse esta questão da estabilidade governativa e de ser feita esta proposta ao PAN para um acordo. Foi uma decisão tomada em equipa e que foi extremamente ponderada", sublinha a deputada eleita. Questionada sobre se, ao assinar o acordo, estaria a defraudar as expectativas dos eleitores do PAN, Mónica Freitas vê esta situação como "a melhor hipótese de, por um lado, a nível democrático, garantir esta estabilidade governativa e, por outro lado, fazer valer aquelas que são as causas do PAN". Além disso, confirma que esta será uma boa oportunidade para o partido ver implementadas várias das medidas que propõe.
Vozes dissonantes no partido
Um mês e meio antes das eleições regionais na Madeira, Mónica Freitas não aparecia no topo da lista de candidatos a deputados, sendo esse lugar ocupado por Joaquim Sousa. "No dia 7 de agosto, numa reunião da comissão política regional, sou informado que Marco Gonçalves [mandatário do partido] e Mónica Freitas - a deputada eleita - falaram com Inês Sousa Real [a líder do PAN a nível nacional e deputada única na Assembleia da República], que agora entendia que eu tinha dito mal deles, que eles tinham dito que eu ia falar mal deles, que eu dizia que não trabalhavam nada. Isto não é verdade. Inês de Sousa Real mentiu a esses colegas ou então esses colegas mentiram a Inês de Sousa Real", declarou Joaquim Sousa ao DN, acrescentando que foi informado que deixaria de ser cabeça de lista pelo PAN às eleições regionais. "Outros militantes que estavam lá na comissão política regional também não concordaram, mas, nessa mesma noite, Inês de Sousa Real, Marco Gonçalves, Mónica Freitas, retiram-me os acessos ao email do PAN. Portanto, eu deixo de ter forma de comunicar com os militantes e de ser informado do que aconteceu", afirma o ex-cabeça de lista do PAN, sublinhando que a comissão política nacional do partido retirou da lista de candidatos a deputados 44 militantes. Nas eleições, Mónica Freitas acabaria por ser eleita deputada, sendo a cabeça de lista.
Joaquim Sousa, ao DN, afirmou que ainda é porta-voz na estrutura regional do partido e que, por isso, deveria ter sido chamado para falar com o representante da República, Irineu Barreto, que ontem ouviu todos os partidos com assento no Parlamento regional. Tal não aconteceu, tendo ido à reunião Mónica Freitas. Admitindo que jamais viabilizaria o acordo com o PSD, caso tivesse sido ele o deputado eleito, Joaquim Sousa, num artigo escrito na imprensa regional afirmou, dois dias antes da eleições, que não iria votar no seu próprio partido. "Certamente deverei ter um processo disciplinar", concluiu.
"Nós tínhamos uma candidatura na qual eu era número dois e Joaquim Sousa era cabeça de lista. Entretanto, devido a vários conflitos a nível interno regional, chegámos à conclusão, na véspera da entrega da candidatura, mas na maioria da comissão política regional, que havia coisas que eram inaceitáveis e que teria de haver uma mudança", confirma Mónica Feitas.
A jovem ativista, que em 2018 fundou a associação Womaniza-te, trabalha como assistente social e assim vai manter-se até assumir o mandato popular como deputada. Através da associação que criou, Mónica Freitas tem um podcast intitulado Masturbador Virtual, "com o intuito de desmistificar algumas ideias, quebrar alguns tabus" e "direcionado para jovens", admite, mas com o objetivo de falar de "coisas sérias". Com a habitação abordada num dos episódios, Mónica Freitas mostra ao que vem. "Eu, como jovem ativista e, ainda mais, dentro da minha área, que é o serviço social, claramente é uma preocupação que também tenho", conclui.
vitor.cordeiro@dn.pt