Luciana Abreu: "Não me casei com um jogador para ser dondoca"

O seu primeiro emprego foi num restaurante chinês e em tempos dividiu-se por três trabalhos para ter dinheiro para comer e ajudar a família. Hoje brilha na televisão, seja como atriz ou a cantar em 'A Tua Cara não Me É Estranha'. Sempre correu atrás de um sonho, assombrado por uma infância difícil. Mas Luciana venceu e afastada de polémicas à sua volta, casou e tem duas filhas. Lucy revela-se em entrevista.
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Duas semanas depois de ter a Lyannii estava a cantar em A Tua Cara não Me É Estranha. Foi o amor pela música que lhe deu força?

Foi o amor pela minha família e pela minha carreira. Agora antes de pensar em mim penso nas minhas filhas. Construir o futuro delas é o mais importante neste momento.

Demorou muito tempo a aceitar entrar no programa?

Aceitei de imediato. Já era fã do programa, é muito gratificante para os artistas poderem fazer o que mais amam na profissão e ao mesmo tempo poder entreter e acarinhar o público, que faz das pessoas com talento artistas.

O que lhe dá mais gozo, cantar ou representar?

Sou apaixonada pela arte. Cantar, dançar, representar faz parte da minha felicidade, da minha vida. Mas cantar é como se eu conseguisse tocar o céu.

Qual o maior desafio para si neste programa?

É estar sempre à altura das expectativas do público depois de receber tantos elogios.

Mas tem medo de não estar à altura?

Sem dúvida. Sou uma artista como todos os outros meus colegas e também tenho altos e baixos, também erro, também me calham músicas que não são o meu estilo e que por vezes tenho de trabalhar o dobro para conseguir interpretá-las.

Quem gostava de imitar?

Whitney Houston (risos). Ela também é património do meu coração. Mariah Carey também. Conheço-as muito bem, já cantei em karaokes.

Qual foi a interpretação mais difícil até agora?

Mariza. Pelo facto de ser portuguesa, conhecemos melhor. É muito mais difícil interpretá-la do que uma Celine Dion ou uma Whitney Houston. Considero-a uma diva. Ela é muito especial, o significado que ela dá às palavras quando canta... (pausa). Canta com alma. A Mariza foi a mais difícil. Nunca me passou pela cabeça interpretá-la.

Nem em karaokes?

Não, por ela ser tão boa naquilo que faz.

Os ensaios para o programa são feitos durante a semana, mas vai cantarolando em casa?

Sim. Há duas semanas fui para dentro do carro meia hora ouvir a música. Se estou em casa, ligo o rádio e a Lyonce pega logo no microfone, quer vir para o meu colo, põe-se a dançar e aquilo, às tantas, em vez de ser um ensaio é uma palhaçada (risos). A consciência pesa quando estou na garagem, sinto a obrigação de ir para casa. Já sou muito grata à minha mãe por tomar conta das meninas quando tenho de me ausentar...

Só ensaia nos estúdios?

Ultimamente tem sido aos domingos. Vamos para lá de manhã e fico o dia inteiro, enquanto estou a ser maquilhada, penteada, ouço a música, estudo...

A Lyonce gosta de aouvir?

Ela é muito engraçada. Ela vê-me nas revistas ou na televisão e diz logo "mamã" e com o pai também. E se canto, fica parada frente à televisão a ouvir. Ela é pequenina mas já reconhece.

Custa-lhe deixar as meninas e ir trabalhar?

Custa-me tanto... mas não me posso dar ao luxo de abandonar a minha carreira para poder tomar conta delas 24 horas por dia. Penso, acima de tudo, no futuro que lhes vou poder proporcionar sempre que vou trabalhar, embora tenha a sorte de ter uma mãe maravilhosa que olha por elas e pode fazer o papel de mãe e avó porque já criou três. Nestas alturas o meu coração aperta porque me lembro das mães que têm de colocar os seus bebés na creche porque têm de ir trabalhar.

Mas a Luciana e o Yannick não pensam deixar a Lyonce e a Lyanni numa creche?

Sim, quando acharmos que chegou a altura certa. Neste momento temos a sorte de a minha mãe as poder acompanhar e educar quando nos ausentamos por motivos profissionais, o que é maravilhoso para nós.

Tem saudades de representar numa novela?

Sim, tenho saudades. Adorava interpretar uma personagem completamente diferente daquelas que me têm proporcionado. Gostaria que me dessem essa oportunidade para poder provar que posso ir ainda mais longe como atriz.

Antes de entrar em A Tua Cara não Me É Estranha esteve muito tempo parada. Tal como aconteceu com Yannick. Com os tempos que correm e com a crise que se vive, foram tempos difíceis?

Sim, como todos os portugueses sabemos o que é a crise e o que é emigrar, estar longe dos que mais amamos. Temos muita responsabilidade e soubemos, com a ajuda dos que têm mais experiência do que nós, ter jogo de cintura e acima de tudo saber poupar. Sempre soubemos juntar dinheiro a pensar no futuro incerto que de repente pode bater à porta de qualquer família.

Primeiras pisadas foram no 'ídolos'

Quem era a Luciana antes de se tornar conhecida?

Era a mesma Luciana só que com três empregos e uma vida completamente anónima cheia de dificuldades e sonhos, muitos sonhos por realizar.

Que empregos eram esses?

O meu primeiro emprego foi num restaurante chinês, depois batalhei em hotelaria na cozinha e a servir à mesa. Mais tarde tive necessidade de ter três empregos, de dia era empregada de balcão numa loja de roupa, à noite era empregada de limpeza num cabeleireiro, à quinta, sexta e sábado à noite servia à mesa num bar de karaoke, depois conheci um bocadinho da fama no Ídolos, o que me proporcionou voltar a estudar, mas de noite, e ser manicura e ajudante de cabeleireiro de dia.

Quando concorreu ao Ídolos alguma vez sonhou que ia ter o sucesso que teve?

Quando surgiu o Ídolos a minha vida mudou radicalmente pela positiva. Fiz boas amizades que ainda hoje duram, fez-me crescer, e fiquei muito surpreendida e feliz porque fui eliminada do concurso na sexta gala.

Então quer dizer que foi bom ser eliminada tão cedo... Não se arrepende de ter participado?

(pausa) De todos os meus colegas que participaram fui a única, até hoje, que conseguiu manter-se na televisão e realizar o sonho.

Concorreu ao casting para a Floribella. O que sentiu quando soube que era a escolhida para a protagonista?

A Floribella é uma linda história. Quando a publicidade passava na TV, anunciava que precisavam de talentos até aos 14 anos, pela lógica não me adiantava concorrer, o que me fez chorar de tristeza porque o que mais ambicionava era poder dar uma vida melhor à minha mãe, que sempre se matou a trabalhar para nos poder dar tudo e nunca faltar comida em casa. Era poder enchê-la de orgulho de mim, vê-la finalmente feliz e poder proporcionar à minha irmã mais nova o que nunca pude ter. Mais tarde, no trabalho, recebi um telefonema da produção da Floribella, que conseguiu o meu contacto através da minha ficha de inscrição do Ídolos.

Já percebi que não se arrepende de ter participado no Ídolos...

Estava destinado (risos). A minha alegria foi tanta que me ajoelhei a agradecer e pedi logo a Deus para me ajudar a passar no casting. Não conseguia conter as lágrimas com medo de falhar e de alegria por ter tido a sorte de me terem ligado. No dia do casting, com a falta de experiência que tinha, senti que dei o meu melhor, estava convencida de que lutava pelo papel secundário no casting final quando descobri que estava a lutar com mais três colegas para a protagonista... aí é que foram elas (risos e bate com a mão). Entrei em pânico, mas graças a Deus correu tudo bem e consegui realizar o meu maior sonho, fazer da minha mãe uma mulher feliz e poder compensá-la da vida triste que sempre teve.

A Floribella fez de si uma mulher rica?

A Floribella proporcionou-me uma certa estabilidade a nível financeiro porque me deu oportunidade de fazer outros trabalhos ao mesmo tempo, como acrescento. E sempre soube gerir bem o património.

Recorda-se do primeiro dia de gravações?

Lembro-me perfeitamente (risos). Pedia desculpa por tudo e por nada, agradecia por tudo e por nada, tal como hoje. Acima de tudo, tinha uma garra incontrolável de querer aprender, de não desiludir quem estava a apostar em mim e um sotaque nortenho tão acentuado que todos achavam imensa piada e riam sem parar.

Estava preparada para em pouco tempo se tornar no fenómeno de audiências que foi?

Não estava preparada absolutamente para nada a não ser para trabalhar sem parar. Mesmo doente e esgotada o que mais continuava a ambicionar era ter trabalho para podermos ter uma vida estável e nunca mais ver a minha mãe sem tempo para dormir de tanto trabalhar na altura em que eu ainda era uma criança. Achava que tinha de provar àqueles que tanto amava e aos que me deitavam abaixo e diziam que eu era uma cana-rachada que tinha talento e que podia aprender e aperfeiçoar com muito trabalho.

A seguir à Floribella apresentou um programa para crianças, mas que não teve grande impacto nas audiências. Porque acha que isso aconteceu?

Eu era apenas a cara do programa e arcava com as más decisões das outras pessoas com quem trabalhava. E era submissa, era apenas a apresentadora do programa e como tal também não queria perder o meu trabalho. Mas acredito que todos aprendemos com o Programa da Lucy, teve momentos lindos e fez parte dos degrauzinhos que tenho subido ao longo destes anos de tanto trabalho.

Fez ainda uma novela, Perfeito Coração, mas na SIC não entrou em mais produções nacionais. Porquê?

Cheguei à conclusão de que a minha imagem precisava de uma pausa e de voltar a aparecer noutro registo. Sempre quis gerir muito bem a minha carreira e não aceitar qualquer trabalho.

Falou-se que tinha sido aliciada por outros canais. O que aconteceu realmente?

Acabei por rescindir o contrato com a SIC e ser mamã. A estabilidade que consegui criar nas nossas vidas depois de tanto trabalhar proporcionou-me poder parar um pouco e dedicar-me a realizar outro dos meus maiores sonhos - ser mãe.

Mas antes de ser mãe aceitou fazer uma produção ousada para uma revista masculina. Porquê?

Fiz a produção da FHM de que me orgulho muito, era necessário descolar da personagem Floribella. No mundo da televisão todos me alertavam para isso porque, diziam-me, ia ser muito difícil voltar a trabalhar em breve na televisão porque estava muito vinculada à personagem devido ao fenómeno que foi. E surgiu o convite da FHM, que aceitou as minhas condições. Apenas faria a produção se fosse uma coisa glamorosa, com classe e sensualidade, nada de vulgaridade. E assim foi.

Lembro-me que bateu recordes de vendas...

Sim, sinto-me muito grata e felizarda por ter trabalhado com a equipa que se formou e de ter batido os recordes de vendas em Portugal e ter sido considerada por duas vezes consecutivas a mulher mais sexy de Portugal. Fiquei em segundo lugar a nível mundial, com a Megan Fox em primeiro. Nunca foi um objetivo meu ser reconhecida pela beleza e sensualidade corporal, mas foi um bom presente que não estava a contar e esses têm um sabor especial (risos).

Voltava a fazer uma produção para uma revista masculina?

Já tive essa experiência e foi tão especial e digna que vou ficar com essa lembrança. Não há mais a curiosidade nem a necessidade de voltar a fazê-lo.

Depois de ter sido mãe entrou no Último a Sair, RTP1. O que a levou a aceitar esse desafio? Esse foi um trabalho num registo diferente do que estava habituada...

Sempre tive uma admiração muito grande pelo Bruno Nogueira, queria muito trabalhar com ele. E poder fazer comédia era um dos meus grandes objetivos a nível profissional. Cresci muito como atriz. E não é por ser mãe que me posso dar ao luxo de não trabalhar. Ser mulher de um jogador de futebol não faz de mim dondoca. Sempre fui independente e isso faz parte de mim como mulher, como mãe e da minha felicidade. Não casei para viver bem, porque já vivia bem (risos). Casei para ser amada, para construir a minha família e ser feliz.

Casamento com Yannick Djaló em segredo

Tanto a Luciana como o Yannick são figuras mediáticas. Porque decidiram casar em segredo?

Casei em segredo porque não quis fazer do meu casamento um pretexto para aparecer na imprensa. Foi uma cerimónia religiosa que merecia ser íntima, não havia razão para a expor, se o fizesse ia deixar de ter privacidade.

Pouco tempo depois engravidou da Lyonce. Sempre quis ser mãe?

Sempre foi um princípio que adquiri com a educação que a minha mãe me deu. Primeiro casar e formar uma família estável para depois, quando vierem os filhos, terem toda a estabilidade de que precisam. Ser mãe era um dos meus grandes sonhos.

Como é a Luciana como mãe?

Sou uma mãe extremamente protetora. Vivo para as minhas filhas.

Muitas notícias têm saído sobre si e a sua família. Isso magoa-vos? Acha que o facto de ter mostrado a sua casa ajudou a desencadear estas histórias à sua volta?

Desde que a minha primeira filha nasceu que jurei a mim mesma que não ia tolerar a maldade dos outros nem deixar que denegrissem a minha imagem e a da minha família com calúnias e difamações. Desde então, sempre que sai uma matéria desse tipo, ligo para a minha advogada e é feita logo de imediato uma queixa-crime, à revista ou jornal, às fontes anónimas que são descobertas em tribunal, aos entrevistados que usam a minha imagem e a da minha família para terem cinco minutos de fama, ao jornalista que as escreve e até ao fotógrafo que invade a nossa privacidade e põe em risco a segurança das minhas filhas, e o mesmo acontece quando o fazem na televisão.

Quando a Lyonce nasceu, até foi notícia no Jornal da Noite, na SIC, por causa do nome que a Luciana e o Yannick escolheram...

As minhas filhas conseguiram ser fenómenos apenas com dois dias de vida. Isso só pode encher-nos de orgulho. São filhas de figuras públicas, mas são bebés como todos os outros. Pelos vistos nasceram para o mundo (risos).

Quando ouve brincar com o nome delas, chateia-a? Afinal, elas são apenas bebés...

Não, elas são bebés como todos os outros, simplesmente estão mais expostas devido ao facto de terem pais tão mediáticos.

O que acha que os portugueses acham de si? Muita coisa tem saído na imprensa na tentativa de denegrir a sua imagem.

Que sou uma boa profissional. Acredito que não façam mau juízo da minha pessoa até porque, como não convivem comigo diariamente e no meu lar, não me podem julgar pelas calúnias e difamações que são feitas a meu respeito em troca de cinco minutos de fama. Porque são pessoas que, como não têm de que se gabar a nível profissional e pessoal, vivem mal-amadas e dedicam-se a viver à custa da imagem das figuras públicas.

Isso preocupa-a?

Preocupar não me preocupa, mas entristece-me o facto de a imprensa, em vez de escrever sobre a minha carreira pela qual tanto luto, só querer guerras e agir de má-fé.

Acha que as pessoas a respeitam enquanto atriz?

Sim, o Último a Sair ajudou a afirma-me como atriz e a ter o reconhecimento do público, mas gostava de ter mais desafios a esse nível e interpretar personagens completamente diferentes das que estou habituada a interpretar.

"Passava horas a cantar em frente ao espelho"

Como era em criança?

Era extremamente nervosa, falava pelos cotovelos (risos). Passava horas a cantar e a dançar em frente ao espelho, extremamente organizada e já com a paranoia das limpezas como a minha mãe. Muito sociável, responsável e humilde.

Era boa aluna?

Era uma aluna dentro da média. Gostava mais de umas disciplinas do que de outras como todos os outros alunos, mas era aplicada. Estudei ate ao 11.º ano e só não fui mais longe porque a vida não me proporcionou.

Qual a disciplina que mais gostava e a que menos gostava?

Adorava Marketing e Publicidade. A que menos gostei foi Físico-Química.

A sua família sempre a acompanhou nos seus projetos. Quando veio para Lisboa, a família também veio. É o seu grande pilar? A família sempre a apoiou?

A minha mãe sempre me apoiou muito nos sonhos que tinha e apoia-me constantemente nos que ainda tenho (risos). Quando recebi o meu primeiro ordenado na Floribella, a primeira coisa que eu fiz foi alugar casa e trazer a minha mãe, a minha irmã e a Ritinha, uma gatinha que entretanto faleceu e que viveu connosco 14 anos, para Lisboa. Odivelas foi a nossa primeira casa.

Sempre acreditou nos seus sonhos. O que a move, mesmo?

O que me move? É o amor incondicional que tenho pela minha família.

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