Luanda muda-se para Hanôver no Mundial

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"Se a capital representa uma nação e aqui vão estar as pessoas mais representativas do país, então podemos dizer que Hanôver é a capital de Angola por estes dias, porque estão cá os artistas, os futebolistas, todos os símbolos da cultura angolana", disse ontem John Bella, no meio da excitação do desembarque dos voos charter que transportaram cerca de três mil pessoas oriundas de Luanda. O escritor angolano é um dos sete a oito mil apoiantes dos Palancas Negras, que, desde anteontem e até amanhã, dia do jogo com Portugal, transformam a cidade alemã numa gigantesca mostra de Angola.

Hanôver, a cidade das feiras, servirá de palco para este país africano mostrar a nova face. "Prova-se que era a guerra que travava Angola. Queremos mostrar aos outros países que sem guerra é possível avançar", acrescentava Bella.

Esta operação está ancorada no Movimento Nacional Espontâneo (MNE), "um grupo de activistas sociais surgido após o fim da guerra [2002]", como o caracteriza Adão Filipe, jornalista da Rádio Luanda e outro dos tripulantes desta viagem, e visa, durante a estadia da selecção no Mundial, mostrar o país que vive o mais duradouro período sem guerras desde a independência. Além de, claro, apoiar a equipa.

"Uns são optimistas, outros pessimistas, eu sou realista: um pontinho será o nosso título mundial", defendia Derito, músico angolano radicado em Lisboa há 24 anos. O aeroporto, enquanto os angolanos que pagaram entre 2000 e 5500 euros pelas viagens esperavam pelas carrinhas que os iriam transportar aos hoteis, ficou inundado de vermelho e amarelo.

As funcionárias das duas agências que colaboraram com o MNE, presidido por Justino Fernandes, igualmente líder da Federação Angolana de Futebol, vestiam equipamentos alternativos dos Palancas, os adeptos trajavam a rigor, com cachecóis, camisolas, cabelos a imitar Lebo Lebo (o jogador da selecção já famoso pela coloração dourada), exibiam orgulhosamente o nome do país nos cabelos, na roupa.

Tinha razão Jamba, pouco antes na sala de imprensa do hotel da selecção, quando dizia esperar dos angolanos "o mesmo apoio dos últimos anos". Mas, provavelmente, o defesa dos Palancas só não podia perceber que este apoio à selecção é até mais importante para o país - e que, por isso, o Estado suporta parte dos custos com uma subvenção. "Vamos ter um Pavilhão de Angola em Hanôver, no qual mostraremos dança, ballet, música, fotografia, documentários, gastronomia, enfim mostraremos Angola", explicava Adão Filipe.

Para isso, a organização trouxe vários artistas a Hanôver: Kituxi, Eduardo Paim, Elias Dya Kimuezo, os Kuduro, na música; o Ballet Tradicional de Angola; Etona (pintura); Kamguimbo Ananaz (escritora)... Agora, só falta o Presidente da República, mas José Eduardo dos Santos ainda não confirmou a viagem.

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