Leiloeiro que importou conceito de 'private sale'

Pedro Mesquita da Cunha. A Sala Branca ainda só efectuou dois leilões, mas já definiu o seu projecto: só leva a licitação obras de arte, não coloca no mercado nenhum nome que não seja consagrado e publicita os catálogos no 'artprice'
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\t\tOlhou atentamente para aquele quadro de Carlos Botelho e descobriu que o local onde o pintor instalou o cavalete foi na Calçada do Conde de Penafiel - o anterior proprietário também tinha tentado encontrar o enquadramento, mas deixara-se iludir pelo título genérico, que não correspondia ao sítio preciso. Meteu-se no automóvel para ir a Olhalvo, uma aldeia do concelho de Alenquer, comparar a tela de Eduardo Vianna com a paisagem que, agora, está cheia de prédios.


O cuidado na descrição de cada uma das obras no catálogo não é a única
inovação de Pedro Mesquita da Cunha, que abriu, em Setembro do ano passado, a leiloeira Sala Branca, com instalações na lisboeta Rua Luz Soriano, mas que faz os leilões no Centro Cultural de Belém (CCB). Além de organizar só leilões de arte, também coloca o catálogo nos motores de busca da Net (como o artprice), o que permite que uma obra de Vítor Pomar ou de Albuquerque Mendes seja vista por milhões de entendidos. E até permitiu que, no último leilão, fosse um italiano a comprar a peça de Christo - um dos desenhos da operação de embrulhar o Reichstag.


Mas, sobretudo, copiou um conceito das londrinas Sotheby's e Christie's: a private sale. Naquele espaço de venda discreta ficam as obras retiradas do leilão sem serem arrematadas em praça, para os interessados, depois, melhor "esmagarem" o preço - nos dias seguintes ao último leilão, vendeu ali 35 quadros que não tinham sido licitados. Mas também as que os proprietários não querem que se saiba que estão à venda - afinal, algumas foram dadas por artista amigo, que ficaria desapontado se as visse em catálogo.


Até agora Pedro Mesquita da Cunha só efectuou dois leilões. No primeiro, a 28 de Fevereiro, além do quadro da Paula Rego que ilustrava o convite, também bateu recordes nacionais nas vendas de artistas como Júlio Pomar, Menez, Joaquim Rodrigo, João Vieira e Cabrita Reis, num total de 1,5 milhões de euros no conjunto das vendas. O segundo, a 26 de Maio, apesar do especial cuidado com que seleccionou as peças, quase se dirigindo apenas a coleccionadores - do Eduardo Vianna que ilustrava o convite ao maior quadro de Arpad Szenes segundo o catálogo raisonné, passando pelo pequeno desenho Retrato de Médico, um esboço de Amadeo para a tela que está no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian -, não correu tão bem.


No próximo, para continuar a inovar, vai reforçar a oferta em fotografia e introduzir o vídeo. E - quem sabe? - talvez um dia leve à licitação do martelo imagens assinadas por Cindy Sherman ou obras de Nam June Paik.

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