Latas de atum com rosto de Chávez invadem Peru

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Dia sim, dia sim, Hugo Chávez é notícia. Quer na Venezuela, quer noutro país. E o último exemplo é, desse ponto de vista, bastante elucidativo. Quase uma semana depois do terramoto que assolou o Peru, os moradores de Pisco, Chincha, Ica e Cañete - quatro das localidades atingidas - começaram a receber latas de atum, decoradas com a imagem de Chávez e onde se lia a seguinte mensagem: "Perante as pilhagens, o desespero e o caos, solidariedade com os nossos compatriotas."

Confrontado com a distribuição, algo insólita, destas ofertas, o Presidente peruano, Alan García, desviou o dedo acusador do seu homólogo venezuelano, preferindo apontá-lo ao mais chavistados seus adversários internos: Ollanta Humala, líder do Partido Nacionalista e candidato derrotado nas presidenciais do ano passado. Que, por acaso, também aparece retratado nas mesmas latas.

"Não creio que [Hugo] Chávez seja responsável por esse tipo de propaganda, porque ele não é candidato a nada neste país. É preciso questionar quem entrega essas latas, que são de muito mau gosto. Seria o mesmo se eu andasse por aí com uma estrela do Partido Aprista", declarou Alan García, apelando às forças políticas peruanas para que não se aproveitassem das circunstâncias.

A resposta dos nacionalistas peruanos não tardou a surgir, tendo uma porta-voz de Ollanta Humala acusado García de estar a fazer insinuações cobardes, desmentindo qualquer relação com as latas de atum. "Há uma mão obscura por trás dessa iniciativa", acusou Cynthia Montes, dando a entender que a "mão obscura" poderá ser a das próprias autoridades de Lima, que, assim, desviariam as atenções do caos em que se transformou a distribuição da ajuda alimentar às regiões mais afectadas pelo terramoto.

Quase em simultâneo também Hugo Chávez negava qualquer relação com a iniciativa peruana.

Suspeito de ter financiado a campanha presidencial de Humala, à semelhança do que aconteceu com Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia) e Daniel Ortega (Nicarágua), o líder venezuelano reiterou a disponibilidade de Caracas para ajudar as vítimas do terramoto peruano, canalizando esses apoios através das vias oficiais.

Bastante mais explícito do que o Presidente venezuelano foi o seu ministro da Informação, William Lara, que, em conferência de imprensa, garantiu que o seu Executivo não tinha qualquer relação com a distribuição das latas de atum no Peru, adiantando que Caracas não tencionava, contudo, investigar o assunto por se tratar de um tema interno peruano.

Uma frase que é muitas vezes utilizada pela Venezuela e até pelo próprio Hugo Chávez, quando pretendem distanciar-se de um tema incómodo. Ou porque algo correu mal ou, tão simplesmente, porque não é, de facto, da sua responsabilidade.

Sem que isso faça dissipar todas as dúvidas. Como está a suceder, por exemplo, na Argentina, onde Hugo Chávez está a ser acusado de financiar a campanha da senadora Cristina Kirchner, candidata à sucessão do seu próprio marido, o Presidente Nestor Kirchner, nas presidenciais de Outubro.|

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