O Nápoles, do idolatrado Maurizio Sarri, ameaçou durante grande parte da época acabar-lhe, por fim, com a hegemonia, mas a resiliência desta Velha Senhora voltou a impor-se na fase mais crítica da temporada. Assim que o calendário virou a folha para março, a Juventus saltou para o trono da Série A, o lugar que tem sido seu desde 2011/12, e hoje prepara-se para estender o domínio no calcio até um inédito heptacampeonato: basta-lhe um empate, em Roma, para assegurar um novo título (34.º do historial), à falta de uma jornada para o final da liga italiana..Nunca, na história do futebol italiano, se tinha visto um domínio assim. E mesmo ao nível das principais ligas europeias é coisa rara. Entre as Big Five atuais [Alemanha, Espanha, Itália, Inglaterra e França], o futebol europeu só tem um exemplo anterior: o do Olympique de Lyon, que entre 2001 e 2008 conquistou sete títulos franceses consecutivos. Fora do círculo dos campeonatos mais elitistas, o recorde está na posse do Lincoln (Gibraltar) e do Skonto Riga (Letónia), que esticaram os respetivos domínios domésticos ao longo de 14 épocas [ver quadros]. Atualmente, o BATE Borisov, na Bielorrússia, ameaça essa marca (vai em 12)..De resto, antes desta série em curso da Juventus (que remonta já a 2011/12), a Serie A italiana só tinha visto duas equipas conseguirem chegar ao penta - o Inter de Milão, entre 2005 e 2010, num trajeto completado por José Mourinho e iniciado pelo escândalo calciocaos que despromoveu a Juventus e lhe retirou os títulos de 2004/2005 e 2005/2006; e o Gran Torino que desapareceu na tragédia de Superga, em 1949, com a queda do avião após um jogo com o Benfica em Lisboa..Hoje (19.45), basta então um ponto na sempre difícil visita ao Olímpico de Roma (e à AS Roma), para a Juventus garantir o sétimo título consecutivo de uma hegemonia que começou a ser construída com Antonio Conte - o atual treinador do Chelsea, que ganhou os três primeiros campeonatos desta série - e foi sublimada por Massimiliano Allegri, que se prepara para assinar um feito único: um póquer de dobradinhas [campeonato e taça] consecutivas, depois de mais uma vitória na final da Taça, quarta-feira, frente ao Milan, com uma superioridade incontestável (4-0) ..Allegri tornou-se a personagem central deste domínio histórico, um treinador admirado pelo seu pragmatismo, tanto na capacidade de ajustamentos táticos como de gestão do plantel. E o seu futuro passou a ser o maior foco de atenção em todas as conversas sobre o futuro de uma Velha Senhora [Vecchia Signora, alcunha da Juve] que terá pela frente um inevitável projeto de renovação - além do anunciado adeus da lenda das balizas, Buffon, esperam-se as partidas de Mandzukic, Asamoah, Khedira, Lichtsteiner e até Marchisio, teme--se o assédio a Alex Sandro e Dybala, e ainda há a renovação geracional aconselhada pela veterania de nomes como os dos centrais Barzagli e Chiellini..O treinador tem mais dois anos de contrato, mas o seu nome tem surgido com frequência associado a vários clubes, desde o Arsenal ao Chelsea, PSG e até Real Madrid. "Tenho um contrato com a Juventus e, como todos os anos, no fim da época vamos reunir-nos e programar o futuro. Estou num dos clubes mais importantes do mundo, vimos de um período importante de vitórias, voltar a vencer é sempre complicado e agora precisamos de construir algo novo para continuar a ganhar", disse Allegri após a conquista da Taçade Itália, na última quarta-feira..A luta do Nápoles e... o VAR.Na história deste sétimo título ficam os golos da dupla argentina Dybala (22 na Serie A, até agora) e Higuain (16), naturalmente, as assistências do brasileiro Douglas Costa (12, só atrás do espanhol Luis Alberto, da Lazio), o sólido meio-campo com Khedira, Matuidi e Pjanic e, obrigatoriamente, a despedida de Buffon. Mas ficam também a ameaça do Nápoles - que chegou a ter quatro pontos de vantagem sobre a Juventus à 14.ª jornada e só à 27.ª perdeu definitivamente a liderança - e as polémicas arbitrais que a chegada do videoárbitro não afastou. Bem pelo contrário, como se atestou ainda há duas jornadas, quando a Juventus conseguiu uma crucial vitória em Milão, frente ao Inter (3-2), com uma reviravolta operada nos minutos finais, que levou até o presidente da Câmara de Nápoles, Luigi de Magistris, a protestar nas redes sociais: "Eles sentem-se fortes e poderosos com roubos de Estado ou de futebol. Mas nós vamos re-cuperar tudo.".Os cinco do clube dos sete.Polémicas à parte, a Juventus faz história. Uma história que sublinha cinco nomes, presentes em todos os (quase) sete títulos consecutivos desde 2011: Buffon, Chiellini, Barzagli, Lichtsteiner e Marchisio. São eles o verdadeiro clube do hepta.