"Estou em casa. Bem. A fazer a minha vida normal." Foi por sms que Judite Sousa respondeu ao DN. O dia amanhecera com notícias de que a diretora adjunta de Informação da TVI estava internada em estado grave no Hospital de São José, em Lisboa. As mesmas notícias davam conta de uma alegada intoxicação medicamentosa, informação que não foi possível confirmar. A jornalista não o esclareceu e a TVI, que ao início da tarde enviou um comunicado às redações, limitou-se a dizer que "as notícias vindas a público dando conta de que a jornalista Judite Sousa se encontra hospitalizada em estado grave, são absolutamente falsas"..O DN sabe, contudo, que Judite Sousa deu entrada na noite de sábado naquela unidade hospitalar e que recebeu alta na segunda-feira, tendo assinado um termo de responsabilidade para poder ir para casa..Foi no sábado, aliás, dia da festa da TVI, a que já não marcou presença, que Judite Sousa teve conhecimento de uma reportagem sobre o ensino superior, exibida na TVI, que recorria a imagens de arquivo e onde se via André Bessa, o filho único falecido há um ano, nos seus tempos de estudante, sentado numa sala de aula. "Esse episódio afetou-a muito, não há como negar. É natural, foi na sua própria estação, onde é diretora", comenta ao DN uma amiga da jornalista..Nessa mesma tarde, Judite deixou um apelo na sua página de Facebook aos responsáveis do grupo Cofina, dona do Correio da Manhã, para que parasse de publicar notícias sobre o seu filho, "que não era uma figura pública". André Bessa morreu aos 29 anos, a 29 de junho de 2014, num acidente numa piscina em Azeitão.."Perdi o meu filho. O meu único filho. A luz que dava sentido à minha vida. Não sei como vou ultrapassar esta dor", escrevia a jornalista também na sua página de Facebook, no dia do funeral de André Bessa, a quem chamava o seu "grande amor"..Segundo o DN apurou, a jornalista tem estado de férias e "muito acompanhada nestes últimos dias por duas ou três amigas que lhe são mais próximas". Ontem, já depois de ter falado ao DN, foi fotografada por uma revista a tomar café numa esplanada no bairro lisboeta onde vive..As férias manter-se-ão até ao final do mês. Segundo o já citado comunicado da TVI, Judite está de volta ao trabalho "em agosto", algo encarado como "natural" pelos colegas contactados pelo DN. "O trabalho vai ajudá-la, com toda a certeza", comenta um colega. Opinião contrária tem o professor universitário José Eduardo Rebelo, fundador da Apelo, uma associação de apoio a pessoas em luto, e da Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção no Luto. O especialista não acredita que Judite Sousa já tenha aceitado a perda do filho. "É uma situação muito complexa, porque estamos a falar do luto de uma mãe que perde o seu único filho, um filho rapaz e já adulto. E que, devido à sua idade, não vai ter a capacidade biológica de o "substituir"." E, segundo o biólogo e professor universitário, ele próprio um viúvo que perdeu a mulher grávida e duas filhas num acidente de automóvel, há 20 anos, o primeiro ano após a perda "é tão tenebroso que se sente que não se pode sucumbir". "Usamos todas as estratégias, como mergulhar no trabalho, apenas para sobreviver", garante.."Há um tsunami que acontece dentro de nós e não sabemos para onde ele nos leva", diz ainda José Rebelo. Apesar de perceber o desequilíbrio da jornalista e de saber que Judite Sousa está a à procura de respostas "que nunca vai encontrar", o professor universitário sublinha que "ninguém morre de luto. Sofre-se é muito"..Nas palavras do fundador da Apelo, a jornalista da TVI é "uma mulher que perde um filho e que sente que metade de si morreu, que foi decepada". Terá de lidar "com a culpa e com a raiva, com a depressão e com uma tristeza profunda. E terá momentos de explosão. Tudo isto é normal". Principalmente para uma figura pública.."A Judite Sousa é a imagem do sofrimento e as pessoas não querem confrontar-se com o luto de uma mãe", explica. Até o facto de ter continuado a trabalhar - voltou ao ecrã apenas dois meses após a morte de André Bessa - é visto pelo professor como algo nocivo. "Há uma expectativa para que continue a trabalhar de forma profissional e isso pode não ser possível. É preciso tempo para fazer o luto. Durante uma entrevista, pode ter vontade de chorar e está em frente às câmaras. A verdade é que está obcecada pela perda do filho e sente que está a abdicar dele, a trair a sua memória.".José Rebelo alerta também para que não julguem a jornalista. "Pode ter comportamentos que ela mesma vai estranhar. A Judite não está doente, está só a fazer o luto", diz o especialista, que costuma apresentar a jornalista como um caso de estudo nas suas aulas.