Judeu americano conta história de palestinianos

Festival de Veneza recebe 'Miral', um filme realizado por Julian Schnabel.
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No mesmo dia em que os dirigentes israelitas e palestinianos se sentaram à mesma mesa, em Washington, pela primeira vez em quase dois anos, um judeu americano apresentou em Veneza uma abordagem emocional ao destino trágico dos palestinianos.

Miral é uma adaptação do romance em tons autobiográficos da jornalista palestiniana Rula Jebreal. A protagonista do filme, Miral (interpretada por Frieda Pinto, a jovem goesa que se tornou conhecida no elenco de Quem Quer Ser Bilionário), é uma jovem palestiniana de nacionalidade israelita, que cresce e vive em Jerusalem Oriental até aos 17 anos.

Durante todo este tempo, deve confrontar se com os efeitos da ocupação israelita, com a guerra que a obriga a ter de tomar atitudes bem definidas. Ela é órfã de uma palestiniana que se suicidou depois de ter sido violada diante de Miral e filha de um rabino progressista, que a entrega a uma escola fundada por Hind Hussein, uma professora palestiniana que, a seguir à Guerra dos Seis Dias (em 1967), começou por acolher 55 órfaos e em breve já tinha dois mil..

Rula Jebral, a argumentista, formou-se em Jornalismo em Itália, onde chegou aos 17 anos com uma bolsa de estudo, obtida por Hind Hussein. Na verdade, a história começa muito antes, em 1948, numa Jerusalém devastada pela guerra, quando Hind Hussein (interpretada por Hiam Abbass) encontra os primeiros órfãos e decide levá-los para casa, dar-lhes abrigo, ensiná-los a ler e escrever.

O filme foi realizado na própria Palestina. Schnabel, do mesmo modo como pinta quadros,narra reunindo os fragmentos que compõem a vida de Miral: os anos da formação, a história das pessoas que tiveram influência na sua vida de criança e adolescente, e todas as experiências dos primeiros anos, longe do pai, que só vê aos fins-de-semana, um retrato duro e cru, comovente e poético de uma mulher, hoje com 38 anos, bonita, inteligente, determinada, cuja vida pessoal está ligada de modo incrível à história de uma região ainda hoje à procura de paz.

Miral, professora do instituto onde cresceu e foi educada, no momento mais crucial da Intifada é encarregada de ser professora num campo de refugiados, onde terá experiência muito dolorosa, misturando então sentimentos como ódio e frustração: a continuação do património espiritual da própria família.

O filme termina com os Acordos de Oslo, quando Miral se apaixona por um activista político, Hani (interpretado por Omar Metwally), e deve confrontar se com um dilema: combater, como os seus antepassados, ou seguir os ensinamentos da mãe, Hind, e defender que a educação é a única estrada para a paz...

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