Juan Martin Guevara, irmão de "Che" Guevara, admite que terá havido um "entendimento" entre o KGB e a CIA para a captura do comandante revolucionário argentino em outubro de 1967, na Bolívia.."A estrutura do Partido Comunista Boliviano atraiçoou os guerrilheiros e é o próprio 'Che' que o diz no diário, mas há uma informação adicional sobre a traição -- mas temos de conjeturar sobre isso porque não está nada escrito -- que é o entendimento KGB e a CIA", disse à Lusa, em Lisboa, o irmão mais novo de "Che" Guevara..Juan Martin Guevara, 72 anos, "marxista guevarista", ex-preso político da Junta Militar durante a ditadura argentina (1976-1983), é autor do livro "O Meu Irmão Che", traduzido para português, em que refere as críticas de "Che" Guevara contra o dogmatismo soviético e que o levam a "difundir a revolução" fora de Cuba.."'Existem documentos que mostram que 'Che' toma decisões que coincidem com as de Fidel Castro. Não se trata de um entendimento com todos os membros do governo cubano, mas sim entre 'Che' e Fidel", indica Juan Martin referindo-se às tentativas de Guevara para "levar a revolução" ao continente africano e mais tarde à Bolívia, em 1967.."Che" Guevara considera que é difícil fazer "avançar Cuba enquanto a revolução [cubana] estiver sozinha" e simultaneamente vai-se afastando da União Soviética criticando publicamente Moscovo que apoiava Havana desde o início da década de 1960. ."Por exemplo, todas as coisas que 'Che' implementou no Ministério da Indústria, enquanto ministro em Cuba são depois mudadas, obviamente, pelos economistas pró-soviéticos" refere acrescentando que é possível especular sobre o eventual envolvimento de Moscovo contra "Che" na Bolívia.."Há uma forma de ver o assunto desde um prisma especulativo: ou seja, dizer diretamente que Fidel Castro o mandou matar, porque não estavam de acordo, que um era pró-soviético e o outro era pró-Pequim ou trotskista mas na verdade o que é que aconteceu na Bolívia?", questiona o irmão do argentino, passados 50 anos. .Juan Martin recorda que quatro guerrilheiros que acompanhavam "Che" Guevara na Bolívia conseguem escapar à operação que levou à captura do líder revolucionário, em outubro de 1967, e passaram imediatamente a desconfiar da organização comunista a que pertenciam. ."'Inti' é secretário do Partido Comunista em Cochabamba (sudoeste da Bolívia) onde procura companheiros de partido da sua confiança. Pede ajuda para conseguir um camião para sacar os outros três, mas deixa claro para ninguém dizer nada à direção do Partido Comunista da Bolívia. Para 'Inti' era claro que era perigoso dar informação porque iria ser passada rapidamente ao inimigo", afirma..O irmão de "Che" Guevara diz mesmo que o grupo que consegue sair clandestinamente da Bolívia alcançando o Chile mas é recebido pelos os socialistas de Salvador Allende e não pelo Partido Comunista Chileno.."Era evidente que já não era desconfiança, era mais do que desconfiança", frisa. ."Quem sabe se algum dia vamos saber exatamente o que aconteceu? Os factos históricos mostram um caminho e os políticos também. Se o diário de 'Che' no Congo aparece 30 anos depois porque foi? Porque não apareceu antes? Havia razões políticas? Estas coisas dos serviços secretos obscurecem ainda mais os temas em vez de os esclarecer", afirma mostrando-se atento a todos os dados novos sobre os acontecimentos ocorridos na Bolívia.."Na semana passada, apareceu um dirigente boliviano da época do ex-presidente Barrientos - que era um agente da CIA no governo de Lima. Aliás, agente duplo porque também era agente cubano. E agora aparece a revelar tudo", refere..Do mesmo modo, diz, o segundo secretário do Ministério do Interior do ex-ditador Barrientos é quem envia para a Argentina e para Cuba as mãos decepadas de Che e o diário que provam a morte do comandante revolucionário.. "Este segundo secretário também era um agente duplo. Cuba estava metida? Não há dúvida alguma. E se Cuba está metida Fidel está metido. Ninguém pode imaginar que os serviços de informações cubanos fizessem coisas sem que Fidel não soubesse", afirma..Juan Martin Guevara no livro sobre o irmão Ernesto "Che" Guevara conta a história da família: dos pais, dos irmãos e dos descendentes e inclui o relato da perseguição de que foi alvo da Junta Militar na Argentina que o manteve oito anos como preso político. .O livro "O meu irmão Che" de Juan Martin Guevara (Objectiva, 277 páginas) contou com a colaboração da jornalista Armelle Vincent e está publicado em Portugal.