A ARCA - Associação de Repórteres de Ciência e Ambiente - está, desde ontem, aberta a jornalistas, estudantes, cientistas. Apresentou-se na Culturgest, em Lisboa, perante uma plateia numerosa e entusiasta onde, além de jornalistas, pautavam algumas caras conhecidas do mundo da ciência e da defesa do ambiente..Humberto Vasconcelos, jornalista reformado do Diário de Notícias, presidente da ARCA, abriu a sessão onde jornalismo e ciência andaram entrelaçados. Frisou que esta não é uma entidade de defesa do ambiente mas "uma associação cujo objectivo central é melhorar a qualidade do jornalismo de ciência e ambiente". .A organização profissional sai agora da gaveta porque "os temas de ciência e ambiente são complexos e difíceis de compreender" mas "têm um espaço e uma visibilidade cada vez maiores". Em Portugal existem cerca de 30 jornalistas que trabalham estas áreas..A recém-nascida associação, criada por um grupo de jornalistas de vários órgãos de comunicação social, pretende realizar workshops e um ciclo de palestras com cientistas. A ARCA prepara para se apresentar no Porto enquanto ultima uma página na Internet, onde divulgará todas as suas actividades e como se fazer sócio (custa 30 euros por ano). Conta com o apoio de várias entidades, como a Fundação Gulbenkian. .Ricardo Garcia, jornalista do jornal Público e membro da direcção da ARCA lançou os dois convidados da sessão e deixou a debate a ideia do acesso dos jornalistas aos cientistas, a sua disponibilidade e os receios que os académicos têm de que a sua mensagem não passe correctamente. Veio, mais tarde, da plateia, uma resposta. "Se não somos capazes de transmitir de uma forma clara a ideia aos jornalistas é porque nós próprios não a entendemos", disse Carlos Câmara, da Universidade de Lisboa..O húngaro Istvan Palygai, presidente da União Europeia das Associações de Jornalistas de Ciência, disse que, ao contrário dos políticos, os cientistas não querem estar nos media. Olhando os jornais europeus, lembrou que "quando há crise, esta editoria é a primeira a cair". "A ciência é tão importante como o desporto, o entretenimento ou as artes" e os jornalistas que cobrem esta área devem "sair do gueto". .Carlos Fiolhais, professor de Física da Universidade de Coimbra - o homem de que se fala quando se fala em comunicação na ciência, nas palavras de Humberto Vasconcelos - fechou a primeira iniciativa da ARCA. Leu jornais, ouviu rádio, viu televisão para "aprender" sobre tsunamis. Apresentou as suas conclusões, numa palestra sem palavras difíceis, salpicada de humor. .Fiolhais disse que "a grande diferença deste terramoto é que a Internet esteve presente em grande escala". Considerou que a catástrofe foi ampliada por todo o planeta, "a onda de solidariedade foi provocada pelos media" e que o papel que estes tiveram na cobertura da catástrofe "vai fazer com que a prevenção seja outra". Nos pontos negativos salientou alguns "sensacionalismos e falsos alarmes", alguma falta de exactidão nos factos e o aproveitamento político da situação. .No final, deixou o desafio aos jornalistas "continuem a fazer perguntas".