Ana Carolina tem apenas nove anos. Mas à frente do computador transforma-se numa detective que tem de resolver um enigma de saúde. Missão: descobrir qual é o problema alimentar de personagens virtuais como Emily e ajudá-las a ter uma dieta mais equilibrada. Emily é uma figura de animação que faz parte do Amaizing Food Detective, um jogo online criado pela entidade norte-americana de saúde Kaiser Permanent. O objectivo é que coma carne, massas e arroz em menores quantidades, e acrescente à refeição mais salada ou legumes. "Tenho de a ensinar a comer menos às refeições, porque ela está um bocadinho gorda", explica Ana Carolina, que diz conhecer bem o jogo, mas confessa não seguir bem à risca as indicações dadas..Jogos digitais como este podem ser uma arma poderosa para levar as crianças a eleger e seleccionar os alimentos saudáveis que vêem no computador, conclui um estudo publicado na revista Archives of Pediatrics and Adolescent. A investigação, do Departamento de Psicologia da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, estudou os comportamentos de quase uma centena de crianças. ."Brincar no computador é das actividades preferidas de muitas crianças. Então, se existirem jogos que permitem ser uma via para melhorar a vida alimentar delas são sempre bem-vindos", elogia Diana Silva, do Serviço de Pediatria do Hospital de São João, no Porto. "Tudo o que tem a ver com bons hábitos alimentares é sempre um incentivo no combate ao excesso de peso", concorda Carlos Oliveira, presidente da ADEXO, Associação de Doentes Obesos e ex-Obesos. .Aliás, nos Estados Unidos, Inglaterra e Canadá as entidades oficiais têm apoiado a criação destes jogos dentro dos seus programas nacionais. "O Amaizing Food Detective baseia-se em estratégias clínicas de combate à obesidade infantil, usando tecnologia para incentivar as crianças a tomarem as decisões certas na hora de escolher os alimentos e tornarem-se mais activas", disse Lorna Fernandes, relações-públicas da Kaiser Permanent, ao DN, sublinhando que o jogo ganhou o Prémio de Melhor Produto do Ano de 2008 para a Educação Infantil. .Em Portugal, "há algumas plataformas com jogos interactivos, mas só são usados em acções na escola", refere Carlos Oliveira, acrescentando: "Não é um trabalho que esteja bem explorado. Os ministérios da Saúde e Educação deviam fazer mais e melhor". Para o nutricionista Luís Maioral "o Governo tem a obrigação de fazer mais na luta contra a obesidade". .Isabel, de oito anos, conhece o dvd interactivo divulgado nas escolas. Mas, em casa, costuma jogar ao Nutrition Exploration, onde dá largas à imaginação a confeccionar refeições saudáveis. "Costumo fazer batidos de frutas e saladas", diz..Os videojogos têm por base uma técnica de marketing chamada advergaming, usada para chamar a atenção para um determinado produto. "Os bonecos funcionam sempre com as crianças. São captados rapidamente por serem animados e coloridos e são um instrumento de trabalho muito interessante, por serem dinâmicos e interactivos", completa a pediatra Diana Silva. ."Nos dias que correm as crianças têm cada vez mais cedo acesso à Internet, e temos que os usar os recursos o melhor que podemos. Algum efeito há-de surtir", sublinha Luís Maioral. Já a pediatra tem dúvidas. "Não sei se terão muita adesão. Se estes jogos fossem criados com ídolos e modelos dessas camadas jovens era mais fácil", sugere Diana Silva, dando o exemplo: "Colocar o Ronaldo a comer sopa ia de certeza atraí-los". .Os especialistas alertam, porém, para o tempo que as crianças passam à frente do computador. A pensar nisso, o Amaizing Food Detective bloqueia depois de 20 minutos de utilização. A nutricionista Alexandra Bento chama a atenção ainda para necessidade de haver controlo: "É preciso que os pais rastreiem os jogos online que os filhos poderão jogar, uma vez que, em alguns dos casos, poderão não ser adequados, nomeadamente por não se adaptarem aos nossos hábitos alimentares", conclui.