Resistiu à revolução de 1974, ganhou uma personalidade própria, atraiu seguidores de um som diferente, conseguiu vencer o aparecimento da concorrência dos bares do Bairro Alto, da Avenida 24 de Julho e depois das docas de Alcântara. É o Jamaica-bar, em pleno Cais do Sodré, em Lisboa, que hoje assinala os seus 35 anos de existência, marcados por uma clientela que tem passado de pais para filhos..Situada num ambiente sinistro, por baixo dos arcos que sustentam a Rua do Alecrim, o Jamaica nasceu em 1971, igual aos restantes bares de alterne da Rua Nova do Carvalho. Adoptou o nome Jamaica para atrair quem vinha nos navios de transporte de café daquelas paragens das Caraíbas e desembarcava em Lisboa..No fundo, a escolha do nome seguiu o exemplo dos outros bares da zona. O Liverpool cativava mais os ingleses, no Copenhaga encontravam-se mais dinamarqueses, enquanto os alemães preferiam ir ao Hamburgo. O mesmo efeito de atracção de clientela pelos nomes das cidades dos bares também funcionava no Oslo, no Tokyo e noutros..A diferença entre o Jamaica e os restantes bares vizinhos começou a sentir-se a partir de 1975, quando Mário Dias - actual coordenador de animação da TSF - passou a trabalhar ali como disc jockey.."Ele punha música diferente dos outros bares, tinha amigos que lhe traziam discos de Inglaterra e tocava-os no Jamaica mesmo antes de passarem na rádio", explica ao DN um dos sócios-gerentes do bar, Fernando Pereira. Segundo referiu, "o Mário Dias é que começou a passar reggae no Jamaica". ."O pessoal que lá ia foi levando amigos e esses aconselharam o bar a outros e o Jamaica passou a ter uma clientela diferente, que queria ouvir música de qualidade e não ligava nada às prostitutas que lá andavam. Por isso mesmo, elas foram-se afastando do Jamaica e passaram para outros bares", recordou..Mário Dias esteve no Jamaica até 1987, de onde saiu para a direcção da Rádio Telefonia de Lisboa, e em 1989 passou para a TSF. Curiosamente, "a partir de 15 de Novembro, é o filho dele, Bruno Dias, que vai passar a ser o DJ do Jamaica", revelou o gerente..Na sua opinião, "o Jamaica aguentou-se estes anos todos, porque manteve o seu som. Não mudou para a música comercial da moda." .Ao nível da clientela, "há pessoal dos anos 80 que continua a vir cá. Alguns conheceram-se aqui, casaram, tiveram filhos, divorciaram-se e agora aparecem cá com os filhos, que têm uns 17 ou 18 anos". Acrescenta que "tem aparecido cada vez gente mais nova, entre os 20 e os 30 anos"..Lembra-se de que nos anos 70 "a casa tinha 90% de homens e 10% de mulheres. Agora tem 60% de mulheres e 40% de homens". Mesmo depois de terem começado a abrir os bares no Bairro Alto, no fim dos anos 80, o Jamaica "não se ressentiu. Como lá em cima fecha tudo às 04.00, o pessoal desce para aqui, porque a casa fica aberta até às 06.00.".Tal como a clientela tem passado de pais para filhos, o mesmo tem sucedido com os proprietários do bar. O Jamaica abriu com três sócios, um deles o pai de Fernando Pereira. O filho herdou a sua quota na sociedade quando o pai faleceu. .Embora o Jamaica tenha sido inaugurado no dia 2 de Setembro de 1971, o seu 35.º aniversário é assinalado hoje. Para marcar a data, as paredes do bar estão ocupadas com uma série de fotos de "Acontecimentos de 71", como a estreia do Festival de Vilar de Mouros, imagens de pessoas famosas da música nascidas em 1971 e outros acontecimentos.